Não é novidade que o cantor/compositor Chico Buarque (1944)
escreva livros, desde 1974 lançou-se como escritor com Fazenda Modelo. De lá
pra cá Chico amadureceu o viés literário e vieram obras como Estorvo, 1991,
Benjamim, 1995, e o excelente Budapeste, 2003. Sua obra musical é
inquestionável e recentemente ele mesmo surpreendeu-se em saber que mesmo sendo
inquestionável não agrada a cem por cento das pessoas.
Em 2009 Chico lançou Leite Derramado e vários críticos e
blogueiros questionaram o livro como uma obra ‘menor’. Algumas críticas foram
contundentes, outras buscaram valorizar sua música em detrimento da literatura,
e várias me fizeram até rir, como a que achava absurdo um livro contar uma saga
familiar em apenas 195 páginas. O crítico acha que o autor tem uma história
rasa por causa da quantidade de páginas que o livro possui.
Eulálio conta sua história num leito de hospital, é um velho
moribundo, fala para quem quiser ouvir e conta em um tom que pode ser
realístico, de delírio ou sonho a história de sua família, ou linhagem com ele
mesmo se expressa. Desde os ancestrais portugueses, passando pelo tempo do
império, a primeira república, até chegar ao tataraneto, garotão do Rio de
Janeiro atual. Tudo para demonstrar a derrocada social e econômica em que vive
aproveitando-se da história do Brasil dos últimos dois séculos como pano de
fundo.
Talvez o que mais estranhem os críticos seja mesmo a
linguagem que Chico impõe. Na minha mais humilde opinião o livro é como um vídeo
clip, um filme, um curta metragem. Que se lê rápido e sente saudade, sente
curiosidade para saber o que mais aconteceu, mais detalhes dos fatos, mais
histórias. Foi assim comigo.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Supermercado Bompreço - Centenário
Data: 23/02/2013