domingo, 26 de maio de 2013

QUERIDO JOHN


Quando os filmes eram exibidos somente nos cinemas e, anos depois, conseguia-se ver uma reprise na TV, existia para o grande público apenas quatro categorias: Ação, Comédia, Musical e Romance. Com a chegada das fitas VHS, posteriormente substituídas pelos DVDs e hoje pelas versões em Blu Ray, a quantidade de categorias para denominar um filme aumentou consideravelmente. Com os livros aconteceu exatamente a mesma coisa, as poucas categorias como: Poema, Conto, Romance, se multiplicaram com o passar dos anos, do papel até o e-book muita coisa mudou.

O autor do livro Querido John, que pretendo abandonar, chama-se Nicholas Sparks (1965) e faz parte da geração Romance. Até hoje não sei se ele escreve roteiros para cinema ou livros que beberam na fonte da fotonovela nos anos 70, e passaram pelas inestimáveis séries Julia, Sabrina e Bianca. O fato é que ele vende milhões de exemplares e dos dezenove livros escritos já emplacou nove no cinema.

Não o estou desmerecendo por isso, mas penso aqui com os meus botões se Nicholas já escreve seus livros com um olho no mimeógrafo e outro no celuloide, fazendo as referências bem antigas de propósito. Seguindo a tradição dos romances “água com açúcar”, hoje estou terrível em citações jurássicas, todos os livros contam a história de um casal, ambos belíssimos, com um amor incondicional, separado pelas adversidades da vida, que vencem todos os obstáculos para enfim serem felizes para sempre.

Querido John é um romance assim: ela é uma garota linda, ele também é lindo, se conhecem na praia quando ela fazia um trabalho humanitário e ele está de férias, ele é um rebelde e resolve alistar-se nas forças armadas para sair da difícil convivência com seu pai. Ela é uma garota quase perfeita. Eles juram amor eterno um para o outro e ela promete que vai espera-lo. Então acontece o fatídico 11 de setembro, dia que os atentados terroristas mudariam suas vidas e as do resto do mundo. John tem que fazer uma escolha; o amor por Savannah ou o amor pelo seu país. Uma carta vai mudar novamente a vida de ambos e encher os nossos olhos de lágrimas até o grande final, que aqui não conto nem sob tortura.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Bob's - Esquina da rua Marquês de Caravelas com Almirante Marques de Leão 
Data: 07/072013

domingo, 19 de maio de 2013

ZÉLIA, UMA PAIXÃO


Às vezes cai em minhas mãos um livro e só de ler o título, ver a capa, ler a orelha, me ponho a pensar: Porque fulano escreveu isso? Quem vai ler essa história? E a resposta vem de imediato: Eu. Se você é um leitor assíduo do meu blog já deve saber que não tenho preconceitos literários, leio muita coisa bacana e também cada coisa bizarra, ruim, mas me imponho a ir até o fim já que me predispus a começar. E já confessei também que tenho preguiça para livros de autoajuda e aqueles com “receitinhas” para arranjar namorado, emprego, conquistar o sucesso, etc...

Dito isso quero falar do autor, Fernando Sabino (1923-2004), cuja obra eu admiro muito e tenho por alguns de seus livros um vínculo emocional bem forte, como é o caso de Encontro Marcado, O Homem Nu e O Grande Mentecapto, além de admirar o seu estilo. Como já escrevi aqui no post intitulado O Gato Sou Eu, de 14/07/2011, Fernando Sabino é um desses autores que lemos sem pressa, examinando suas palavras e em deleite com a graça e a simplicidade dos seus textos.

Dito isso também, lanço a pergunta: Porque Fernando Sabino aceitou escrever esse livro sobre a Zélia Cardoso de Mello?

Tá certo que Zélia é uma personagem da história do Brasil... Mas acredito que seja suficientemente alfabetizada para escrever sua própria biografia se fosse o caso de querer algo mais sério.

Tá certo que Zélia foi motivo de ódio e chacota do Brasil inteiro quando confiscou nosso dinheiro naquele fatídico Plano Collor... E isso, com certeza, despertou a curiosidade das pessoas sobre quem é e de onde veio.

Tá certo que Zélia envolveu-se emocionalmente com Chico Anysio, e teve filhos com ele, um encontro amoroso improvável pela trajetória e estilos de vida de ambos... Mas aceitar a alcunha de “Cinderela às avessas” imputado no livro já é querer entrar no rol das piadas prontas.

Então você, nobre leitor do blog, me faz a seguinte pergunta: Porque você está escrevendo sobre esse livro?

O que prontamente respondo: Para que você o leia, perceba a estética literária do Fernando Sabino mesmo na adversidade, e faça a leitura com humor, com distanciamento, sem acreditar que tudo é real ou que tudo é romance.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus - Av. Prof. Magalhães Neto - Em frente ao colégio Módulo
Data: 06/07/2013

domingo, 12 de maio de 2013

ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA


Este é um livro magnífico, não só para quem gosta dos intrincados meandros jurídicos, mas também para aqueles que se empolgam com uma boa trama que inclui suspense, sexo e jogo pelo poder. Infelizmente muita gente assistiu ao filme lançado com estardalhaço em 1990 por ter um elenco de primeira linha como Harrison Ford, Raul Julia, Brian Dennehy, e consequentemente pode lembrar-se do final à medida que avançam as páginas que contam o julgamento de Rusty Sabich, assessor chefe da promotoria pública do condado de Kindley, acusado de matar sua colega Carolyn Polhermus.

Na minha mais humilde opinião isso não faz a menor diferença, saber ou não o final, já que a parte mais interessante do livro está no tribunal e nós, leitores, sentados no banco do Júri, somos provocados por um interesse quase pessoal no caso. É justamente nesse momento que se revelam as personalidades de cada um; promotores, advogados, réus e principalmente a vítima. Carolyn Polhermus é uma mulher predadora. Bonita, sensual, de personalidade magnética, declaradamente ambiciosa, interesseira, impetuosa e possivelmente inescrupulosa, viveu um obsessivo romance extraconjugal com Rusty e sempre acreditou ter o domínio da situação. Com o desenrolar da trama vemos que ela ficou presa em sua própria rede, vítima de uma armadilha intrincada e bem planejada.

O autor, Scott Turow (1949), é o mestre da literatura para temas jurídicos. Seu primeiro livro foi escrito antes de se formar advogado pela Faculdade de Direito de Harvard, e trata justamente das suas dificuldades no primeiro ano de faculdade. Depois de formado passou a escrever livros de ficção sempre abordando temas jurídicos.

Reza a lenda que os direitos de filmagem do livro foram disputados em leilão antes mesmo da sua publicação, em 1987. O diretor Alan Pakula leu uma prévia do livro e convenceu Sidney Pollack a adquiri-lo, apostando na sua capacidade de prender o expectador em uma trama tão envolvente.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Shopping Salvador - Louge Lojas Americanas
Data: 30/06/2013

domingo, 5 de maio de 2013

PÚBIS ANGELICAL


Toda a obra de Manuel Puig (1932-1990) é incomum. A frase pode soar óbvia já que cada autor tem o seu estilo para escrever e plágio hoje em dia pode até leva-lo para a cadeia, mas o sentido que escrevo a palavra incomum vem do inquietante, inusitado, raro. Ler Manuel Puig não é tarefa fácil, mesmo para os já iniciados, se você acompanha o blog já leu sobre dois livros que abandonei: A Traição de Rita Hayworth (24/10/2010) e O Beijo da Mulher Aranha (6/4/2012).

Em especial a leitura de Púbis Angelical será um desafio para o leitor que se aventurar porque a obra é um mistério a ser desvendado. Nessa fusão artística de thriller de espionagem e ficção científica Puig nos mostra uma história compartilhada por três mulheres: uma atriz em 1930 que vive com o marido no seu castelo de conto de fadas, uma jovem mulher que vive em 1970 convalescendo em um hospital na Cidade do México, e por fim uma escrava sexual futurista, um ciborgue que ocupa uma paisagem artificial.

Parece loucura. Mas tratando-se de Manuel Puig posso atestar que não é. Ele explora as ligações entre essas mulheres, bem como as relações entre os sexos e as gerações. Esse é o estilo tão incomum que escrevi no primeiro parágrafo do post. São essas intrincadas ideias que fazem o leitor abrir horizontes e desprender-se de enredos “pão com ovo”.

Na minha mais humilde opinião Púbis Angelical está na minha categoria “livros difíceis”, mas aposto minha coleção de tampinhas de garrafa da Fratelli Vita que se você começar vai adorar.

Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Ônibus Praça da República - Aeroporto Guarulhos
Data: 25/06/2013