Faz muito tempo, muito tempo mesmo, o ano era 1985 e eu lia
pela primeira vez um livro de contos piadistas escrito pelo então ator da Globo
Jô Soares (1938). O livro era despretensioso e chamava-se ‘O Astronauta sem
Regime’, uma galhofa do autor com o seu próprio peso. A editora L&PM
faturou muito com a obra que vendeu mais que banana na feira.
Passados 27 anos Jô Soares saiu e voltou para a Globo, aparece
como ator em breves e raras oportunidades, possui um talk show de sucesso e já
escreveu sete livros, cinco deles em carreira solo. Na minha mais humilde
opinião acho que o Jô tem uma carreira irregular como escritor, os livros
alternam-se entre ótimos, bons e ruins.
Sua mais recente obra, As Esganadas, que pretendo abandonar,
segue a mesma linha editorial que o autor consegue fazer muito bem, livros
policialescos que misturam fatos da história real com a fictícia inventividade
do autor. Nesse livro Jô consegue a proeza de revelar o assassino logo nos
primeiros capítulos, inclusive suas motivações psicológicas, ou psicanalíticas
como preferem alguns, sem que isso nos faça perder o interesse pela leitura. A
descrição primorosa das vítimas nos faz cúmplices, as trapalhadas da polícia
nos faz rir, e por fim vibrar com as deduções de Tobias Esteves, inspetor
português que ajuda o delegado Noronha a desmascarar o autor dos crimes.
O prefácio escrito por Luis Fernando Veríssimo nos dá uma
excelente dica: “Jô é um grande fazedor de tipos. Sabe como poucos construir um
personagem, defini-lo com um detalhe e dar-lhe vida com graça e inteligência...
Toda a ficção do Jô é feita de grandes personagens envolvidos em grandes
tramas.”
Eu concordo... Mas
só de vez em quando.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Shiro
Data: 03/02/2013
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