domingo, 24 de abril de 2011

MACHO MASCULINO HOMEM


“Os homens são um desastre. São péssimos amantes e espalham o contrário”, diz um poeta. “O homem está feito barata tonta. Tomou umas esguichadas de Rodiazol e não sabe para onde vai”, diz um cartunista. “Ele está cada vez menos homem”, diz um ator. Menos numerosos que as mulheres, os homens, no entanto, morrem muito mais, de mais doenças e muito mais moços. São profundamente inseguros, julgam-se bem informados sobre o sexo, mas não progrediram nada em relação a seus pais e, como eles, crêem em mitos que só os afastam do conhecimento de si mesmos e de seus problemas. Pior ainda: em geral, ao contrário das mulheres, que organizaram-se para defender seus direitos e debater suas questões, sequer se dão conta de seus problemas.”
O texto acima é de Geraldo Mayrink, foi publicado na revista Afinal, em 1985, logo depois da realização do Simpósio do Homem. Mas poderia perfeitamente ter sido publicado ontem, em qualquer jornal, revista, ou lido num programa de televisão. Vinte e seis anos depois, e isso é quase uma vida, a discussão em torno do homem é atualíssima e o tema reflete, por incrível que pareça, o que pensamos hoje. O homem já não é mais aquele? O livro é conduzido por especialistas da época, em diversas áreas, dentre eles estão; Dr. José Ângelo Gaiarsa, Moacir Costa, Valéria Petri, Fernando Gabeira, Rose Nogueira e Regina Fourneaut Monteiro, e compõe aspectos múltiplos da crise do homem e do machismo.
Os novos tempos, as modificações no comportamento da mulher, a nova moral sexual, o questionamento da autoridade patriarcal, tudo ataca a posição do homem, seja na literatura, no cinema, TV, teatro, música, e é muito interessante perceber que algo mudou nesses vinte e seis anos, mas a mudança é, comparativamente, significativa em algumas áreas, e irrelevante na maioria delas. Vale conferir e tirar suas próprias conclusões.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento G1 - J - Salvador Shopping
Data: 25/06/2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A QUEDA PARA O ALTO


Muitos leitores podem confundir esse livro como biográfico, não o vejo assim, eu penso nessa obra como um ato confesso, ou o relato de uma vida conturbada e curta, muito curta. Sandra Mara Herzer, que posteriormente viria a adotar o nome de Anderson Herzer, cujo apelido Bigode consta na lista dos internos da antiga FEBEM, é o(a) nosso(a) autor(a).
Para entender um pouco sobre a obra posso dizer que Sandra/Anderson foi um poeta, escritor, uma obra publicada que posteriormente serviu de argumento para o filme Vera do diretor Sergio Toledo com Ana Beatriz Nogueira no papel principal. Uma infância complicada; o pai morreu assassinado quando ela tinha três anos, a mãe, prostituta, morreu antes de Sandra completar oito anos. Criada por tios nunca foi compreendida em seu mais íntimo conflito, o de “identidade de gênero”, sensível a ponto de escrever belos poemas e rebelde a ponto de assumir-se homossexual e depois transexual, adotando o nome de Anderson, envolvia-se em brigas na escola, bebia muito e atirou-se fundo nas drogas.
A essa altura já interna da FEBEM Sandra está cada dia mais masculina, é quando corta o cabelo, joga fora todas as roupas “de mulherzinha” e assume a identidade de Anderson. É descoberto e apoiado pelo então senador Eduardo Suplicy, sensibilizado com sua história e a qualidade de seus poemas, levou-o para trabalhar em seu gabinete dando-lhe a oportunidade de uma vida fora dos muros da instituição e apoio na publicação do livro A Queda Para o Alto.
O livro foi escrito com a simplicidade de um jovem cheio de energia, não há divagações ou a procura dos porquês do comportamento humano, sejam de natureza social ou sexual. As conclusões são nossas; dos leitores, pais, profissionais de educação e daqueles que tem o poder público de transformação.
Sandra/Anderson não quis esperar o lançamento de seu livro, deixou-o como um recado. Aos 20 anos se jogou do viaduto da Av. 23 de Maio em São Paulo, recebeu os primeiros socorros ainda com vida, mas não resistiu aos graves ferimentos.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento Perini - Graça
Data: 24/06/2011

domingo, 17 de abril de 2011

UM ANO


Exatos 17 de abril de 2010 publiquei o primeiro post deste blog.
Um ano depois contabilizo em números 41 resenhas, ou post, para quem prefere uma linguagem de internet, 25 seguidores e mais de 1.000 visitas. Isso sem contar os comentários publicados, os e-mails recebidos, os elogios, e críticas, porque nada é perfeito para todo mundo, feitos pessoalmente por amigos e pessoas que não conhecia, mas que vieram falar comigo quando descobriram que eu era o autor.
Números à parte, ter um blog e eternizá-lo no mundo virtual foi um sonho que acalentei durante um bom tempo, exercitar a escrita e compartilhar experiências é um processo, quase uma terapia de regressão, afinal, lembrar das histórias, buscar dados sobre a obra, o autor, e, principalmente, rememorar fatos e acontecimentos que marcaram minha vida durante a leitura daquele livro comentado, trouxe ótimas lembranças.
Entretanto, na vida sempre há um ‘entretanto’, abandonar livros não é uma tarefa fácil. Das 41 resenhas que escrevi, até hoje abandonei efetivamente 33 livros. Confesso que a timidez me atrapalha, o coração dispara e as mãos tremem no momento crucial de um abandono. Às vezes me sinto um terrorista, um homem bomba prestes a explodir. Tomei quatro cafés e comi cinco pães de queijo até achar um bom momento para abandonar um livro numa loja do Fran’s Café, tomei três sorvetes no McDonald’s até sair sorrateiramente da lanchonete com o coração disparado e logo depois ser interpelado no estacionamento pela solícita garçonete que me trouxe o livro de volta porque ela achou que eu tinha esquecido, rodei quilômetros pela cidade até achar um ponto de ônibus vazio para deixar um livro sobre o banco, andei por quase duas horas dentro Espaço Unibanco de Cinema até perceber o momento exato para deixar o livro em local visível e sair sem ser abordado por uma pessoa que imediatamente te devolve o livro dizendo “Olha! Você deixou na mesa lá dentro”. Bendita cidadania. Isso quando estou sozinho, porque já coloquei pessoas próximas “pagando o mico” comigo, como na vez que minha mãe me ajudou distraindo o garçom enquanto eu deixava o livro numa mesa do restaurante Spaguetti Lilás, e na vez em que minha amiga Isabel Vasques, em São Paulo, foi ameaçada por uma senhora ao abandonar um livro no ônibus e teve que ouvir “Leve seu lixo com você, não deixe aqui para dar trabalho aos outros”.
Entretanto, já disse que na vida sempre há um ‘entretanto’? Continuo sentindo um enorme prazer em ler e agora me aventurando também na escrita, meu amigo Ricardo Linhares disse uma vez que escrever, assim como ler, é ato diário, deve tornar-se hábito para que o façamos bem, e esse hábito eu não quero perder até o fim da vida. Agradeço aqui ao Paulo Ricardo, que esteve ao meu lado quando criei e nomeei o blog, ao Roberto Camargo, pela inspiração de sempre, e a todos os leitores amigos e amigos leitores. Vamos em frente.
Para quem, como eu era, tem vergonha de escrever algo público, pode utilizar-se do e-mail abandonandolivros@gmail.com para mandar uma mensagem, um comentário, uma crítica, um oi, uma cutucada ou uma lufada de vento.