domingo, 30 de junho de 2013

NOVAS COMÉDIAS DA VIDA PRIVADA


Essa semana fui interpelado por um dos meus seguidores que me acusou de não gostar de contos, crônicas, e poemas, privilegiando sempre o romance ao escolher os livros que vou abandonar. Fazendo um retrospecto dos posts desse blog percebi que a cobrança é mais do que justa. A questão é que tenho muito ciúme dos livros de poemas que estão na estante e confessei ao meu interlocutor que ainda não estou preparado para desapegar-me dos meus livros do Mário Quintana, Manuel Bandeira, Castro Alves, Fernando Pessoa.

Sentindo-me culpado fui atrás de algo muito querido que pudesse compensar, abri alguns exemplares de livros e escolhi um bem especial do Luis Fernando Verissimo (1936), Novas Comédias da Vida Privada. Editado pela primeira vez em 1996 é uma coletânea que faz parte da vasta obra do Verissimo e reúne 123 crônicas, ainda bem atuais, que já haviam sido publicadas anteriormente no jornal Zero Hora ou no Jornal do Brasil.

É um livro de crônicas que gosto bastante, daqueles que volta e meia abro aleatoriamente numa página e deixo que o acaso me dê de presente uma história curta, cotidiana, às vezes engraçada, por vezes patética, mas que dá asas ao pensamento. Livro ideal para levar sempre na mochila e aproveitar o tempo ocioso dentro do ônibus, metrô, na fila do banco ou na antessala do consultório médico.

É melhor ler crônicas do Verissimo do que ler aquela revista ‘Caras’ de três semanas atrás.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Aeroporto Dep. Luiz Eduardo Magalhães
Data: 15/08/2013

sábado, 22 de junho de 2013

SARGENTO GETÚLIO


Curiosamente após a publicação do post sobre o livro As Brumas de Avalon e vários amigos terem me ligado fazendo gozação sobre o fato de que era muito livro para tão curtas férias, me vi quase na obrigação de ir para o extremo oposto e abandonar um livro que fosse curto, isto é, menos de cem páginas. Fui procurar na estante um livro que fosse memorável e ao mesmo tempo rápido de ler, com uma história fascinante e que pudesse ser devorado numa tarde.

Achei que a tarefa fosse difícil, mas assim que peguei a escada e me propus a vasculhar a estante me deparei com um livro que preenche todos (ou quase) os requisitos propostos: é brilhante, é fininho, é memorável, é fascinante, é muito bem escrito, só não cumpri com a parte que escrevi acima sobre ter menos de cem páginas porque a edição que possuo tem cento e quinze. Quinze a mais ou quinze a menos, o livro é Sargento Getúlio do mestre baiano João Ubaldo Ribeiro (1941).

O livro, publicado em 1971, é quase um monólogo. Conta a história de Getúlio Santos Bezerra, sargento da Polícia Militar do Estado de Sergipe, incumbido de levar um prisioneiro de Paulo Afonso/BA até a cidade de Aracaju/SE. Durante o caminho ele recebe a ordem de abortar a missão, mas como não a ouve do seu mandante decide ignorar a contra ordem e seguir adiante. É a partir daí que conheceremos o verdadeiro Getúlio, não o matador profissional alçado a sargento da Polícia, e sim um típico herói às avessas forjado nas tradições épicas e nos poemas humanistas. Durante a leitura há um momento em que Getúlio persegue São Jorge pelos descampados do sertão nordestino, é quando o veremos fragilizado e grandiloquente ao mesmo tempo, um episódio marcante da saga.

Além do livro tenho lembranças de dois momentos dessa história: no cinema em 1993 com a fenomenal interpretação de Lima Duarte que arrebatou os prêmios de Melhor Ator no festival de cinema de Gramado e no festival de cinema de Havana. E mais recentemente assisti no teatro uma versão protagonizada pelo talentosíssimo ator baiano Carlos Betão, sob a direção de Gil Vicente Tavares, que me fez chorar em vários momentos.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Viva Gula do Shopping Passeo Itaigara
Data: 20/07/2013

domingo, 16 de junho de 2013

AS BRUMAS DE AVALON


Estamos em junho, época de São João, férias escolares aqui no Nordeste, mês de muita chuva, e com as temperaturas mais baixas não é possível ir à praia ou fazer atividades ao ar livre. É uma boa época para o escurinho do cinema, idas ao teatro e aos concertos de inverno, aquele café da tarde com pão de queijo quentinho e atracar-se a um bom livro. Nessa mesma época, há exatos 25 anos, eu começava a ler pela primeira vez um livro em volumes. Não estou colocando nessa conta os livros do Monteiro Lobato sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo porque não há uma ordem na leitura para compreensão da história, muito menos os volumes escritos pela Agatha Christie que cheguei a devorar quase um por dia. Nesses tempos de Harry Potter, O Senhor dos Anéis, a saga Crepúsculo e os tons de cinza, temos que dar um bom crédito para As Brumas de Avalon.

São quatro volumes que devem ser lidos na ordem abaixo para que haja uma compreensão da história. Lidos em sequencia, cada livro completa o outro e você irá compreender melhor a lenda do Rei Artur, contada a partir das vidas, visões, e da percepção das mulheres que nela tiveram um papel crucial. O universo ‘arturiano’ de Avalon e Camelot com todas as suas paixões e aventuras é revelado pelas suas heroínas: a Rainha Guinevere, mulher de Artur, que no livro tem o nome de Gwenhwyfar, por Igraine, mãe de Artur, por Viviane, a Senhora do Lago e grande sacerdotisa de Avalon e principalmente pela irmã de Artur, Morgana, também conhecida como Fada Morgana, que nessa épica versão da lenda possui um papel importantíssimo tanto na coroação como na destituição de Artur.

As Brumas de Avalon ficou três meses na lista dos best-sellers do jornal The New York Times e elevou Marion Zimmer Bradley (1930-1999) ao status de escritora de prestígio e uma das mais lidas no mundo.

Preparados para viajar no tempo e ler uma história sobre reis, rainhas, fadas, feiticeiras, amores, traições, batalhas, glórias, os feitos heroicos de Gawaine e seus Companheiros da Távola Redonda, a sabedoria de Merim, a ambição fatal de Mordred e o lento, mas irreversível, declínio de Avalon?

É só começar.

As Brumas de Avalon – A Senhora da Magia
As Brumas de Avalon – A Grande Rainha
As Brumas de Avalon – O Gamo-Rei
As Brumas de Avalon – O Prisioneiro da Árvore

OBS: Quando eu fizer o abandono deixarei os quatro livros juntos e peço a quem os achar que não os separe na hora de abandona-los novamente.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça em frente ao Shopping Passeo Itaigara
Data: 20/07/2013

domingo, 9 de junho de 2013

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA

Com a proximidade do dia dos namorados andei pensando muito em um livro cuja história representasse um amor incondicional, definitivo, desses que você tem certeza só acontecem nos livros, filmes ou novelas, sem jamais pensar que pudesse acontecer na vida real. Dito isso fui direto à estante e peguei O Amor nos Tempos do Cólera, do grande Gabriel Garcia Márquez (1927), autor que já citei aqui no post Cem Anos de Solidão.

Se você é como eu, gosta de folhear um livro antes de ler, terá a mesma impressão: como pode um livro de amor ter pouquíssimos diálogos entre os amantes? O estilo “realismo fantástico” do Gabriel Garcia Márquez permite que a história de uma vida, ou várias delas, se cruzem com a simples narração dos sentimentos, pensamentos, ações, sem que haja sequer uma dúvida sobre a veracidade do que se lê.

A história de amor entre Florentino Ariza e Fermina Daza transcorre sem quase nenhum contato físico por mais de cinco décadas, enfrenta o inicial temor pela rejeição, a conquista definitiva através de cartas de amor cada vez mais eloquentes, o pedido de casamento mesmo sem nenhum contato, a resposta ao pedido só veio quatro meses depois, a tia alcoviteira que facilitava o vai e vem das cartas, a descoberta do romance, e das cartas, pelo pai de Fermina, a separação imposta pela família, o primeiro olhar e a emoção de conhecer o homem que a chamava de Deusa Coroada em tantas cartas de amor.

Florentino Ariza vive uma vida, Fermina Daza vive outra, embalados por sentimentos diversos, lembravam-se um do outro, mas deixavam seus corações abertos. É possível estar apaixonado por várias pessoas e por todas sentir a mesma dor, essa dor que vem desde aquele primeiro e único amor verdadeiro. O autor nos diz isso com seu jeito bem peculiar na página 334, “O coração tem mais quartos que uma pensão de putas.”.

Quatrocentas e vinte e nove páginas retratam cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites até que Florentino diz a Fermina:

- Toda a vida.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Espaço Itaú de Cinema - Sala: 4 - Praça Castro Alves
Data: 10/07/2013

domingo, 2 de junho de 2013

GIANE – VIDA, ARTE E LUTA

Foi em 2000 quando ouvi falar pela primeira vez de Reynaldo Gianecchini, entrava no ar a novela Laços de Família na Rede Globo e o modelo/ator ficaria conhecido nacionalmente. Foi o par romântico de Helena, vivida por Vera Fischer, e mais tarde se envolveria com a filha dela, Camila, interpretada pela Carolina Dieckmann. O então jovem modelo/ator foi imediatamente comparado ao Ricardo Macchi, o eterno Cigano Igor, criticado, fuzilado, serviu de chacota para todos os programas humorísticos da época, mas também foi amado e idolatrado por muitas fãs. Da novela restou a lembrança de Deborah Seco como a garota maluquinha Íris e a famosa cena da personagem Camila raspando a cabeça.

Foi em 2004 quando ouvi falar pela primeira vez do Guilherme Fiuza (1965) ao ler uma biografia intitulada Meu Nome Não é Johnny, que acabou transformada em filme nas mãos do Mauro Lima. Gostei muito do livro, Fiuza tem um estilo rápido e novelesco de contar a história do playboyzinho João Guilherme Estrella que só sabia curtir a vida e acabou preso por tráfico de drogas.

Foi em 2005 que Reynaldo Gianecchini obteve sua redenção artística encarnando o mecânico Paschoal na novela Belíssima. Vivendo um personagem tosco e grosseiro formou par romântico com a personagem Safira, interpretada pela Claudia Raia. As cenas fogosas e hilárias dos personagens conquistaram público e crítica, que finalmente se rendeu ao rostinho bonito que a Globo tanto apostou.

Foi em 2010 que comprei mais um livro do Fiuza, Bussunda – A Vida do Casseta. Passei a gostar mais do autor, é um livro definitivo sobre o Bussunda reconstituindo o nascimento do Casseta & Planeta, a fase de escritor do TV Pirata, os tempos de vacas magras e outros de vacas bem gordas. O estilo do Fiuza é incomparável.

Foi em 2011 que assisti à entrevista do Giane para a Patrícia Poeta no Fantástico. De cabeça raspada e visivelmente emocionado relatou que custou a acreditar que tinha câncer. Mas que estava ali para encorajar a todos os que sofriam do mesmo mal. Era o rapaz jovem e bonito mostrando a todos que tinha uma doença grave, que podia morrer e que não é perfeito.

Foi em 2012 que li a biografia Giane – Vida, Arte e Luta. Confesso que, a princípio, comprei o livro somente porque foi o Fiuza quem o escreveu. Achei que a vida o Giane não valia a pena e mordi a língua. Flagrei-me rindo em alguns capítulos e emocionado em outros. O estilo novelesco do Fiuza me conquistou para sempre. Não sei como consegue escrever tendo como companhia a Narcisa Tamborindeguy, deve ser difícil concentrar-se com uma pessoa ao lado gritando “ai que absurdo”, “ai que loucura”, “ai que badalo”... Assim como Reynaldo Gianecchini, Guilherme Fiuza também não é perfeito.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Espaço Itaú de Cinema - Sala: 2 - Praça Castro Alves
Data: 10/07/2013