domingo, 28 de abril de 2013

POR QUANTOS AINDA VAMOS CHORAR?



A partir de um assassinato múltiplo começa uma movimentada trama que acabará revelando um escândalo que envolve políticos inescrupulosos, cientistas pouco éticos, pesquisas com genes e a pergunta: Até onde é permitida a utilização militar da biotecnologia?

Escrito em 1987 por Johannes Mario Simmel (1924-2009), ou simplesmente J. M. Simmel como gostava de assinar suas obras, o livro é quase profético para o que vivemos mais de vinte e cinco anos depois e não se limita à trama bem urdida, aos ambientes sofisticados ou aos questionamentos filosóficos. O autor nos faz mergulhar nos perigos aos quais o uso ideológico e militar da manipulação genética expõe toda a humanidade, de maneira bem cruel e irreversível.

Neste livro, a experimentação bacteriológica chega ao ponto de, a partir de um erro de laboratório, ser possível inocular nos seres humanos um vírus que os torna alheios aos sentimentos e emoções tornando-os alvos fáceis para qualquer doutrina. Resultado: a potência que se apossar do vírus poderá dominar o mundo através daquilo que Simmel ironicamente denomina de soft war – a guerra suave.

Respirou? Não? É assim mesmo, os livros que J. M. Simmel escreve de maneira sempre clara e fluente é para ser lido num só fôlego, não é à toa que seus romances já ultrapassaram a casa do 74 milhões de cópias em todo o mundo com traduções para vinte e seis idiomas.

Best seller para entretenimento, contudo, sem deixar de fazer boas críticas aos sistemas político e militar, e principalmente ao comportamento humano.

Cidade do abandono: São Paulo
Local: Restaurante Vó Sinhá - Alameda Franca
Data: 24/06/2013

domingo, 21 de abril de 2013

O LIVRO DO RISO E DO ESQUECIMENTO


Quando escrevi o post anterior pelo aniversário do blog fiz uma pergunta aos leitores: Qual o seu livro preferido? Recebi de Cassio Lucena, um amigo querido, a seguinte lista: O Ateneu, Frida – A Biografia, Cem Anos de Solidão, A Insustentável Leveza do Ser e Flores Raras e Banalíssimas. Na minha mais humilde opinião é uma lista que possui cinco obras primas, com estilos e classificações diferentes, o que só confirma a personalidade amorosa, múltipla e irrequieta de quem a fez.

Citei o fato porque vi na lista o livro A Insustentável Leveza do Ser e imediatamente lembrei do Milan Kundera (1929), o segundo post do blog foi dedicado a essa obra, e também já escrevi sobre outro livro dele; Risíveis Amores. Mas agora quero ressaltar mais um livro do mesmo autor: O Livro do Riso e do Esquecimento. Em todos os verbetes e livrarias o livro estará na lista dos romances, mas você também pode ler como se fossem contos curtos, ou ensaios. São sete histórias que correm em paralelo com alguns temas em comum, o esquecimento e o riso estão permeados em todas, embora mais esquecimentos do que risos.

Apesar de Milan Kundera afirmar publicamente que deseja ser entendido ou classificado como um romancista e não um escritor político, é notório a presença das duas coisas em suas obras, o jeito de escrever histórias entrelaçando situações romanceadas com ensaios político/filosóficos atesta o seu estilo e a profundeza com que trata os sentimentos.

Conforme já escrevi antes, é literatura theca, mas não se espante. A forma de amor é universal.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Aeroporto Dep. Luis Eduardo Magalhães - Sala 10
Data: 22/06/2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

ANO TRÊS



Hoje meu blog completa três anos e eu estou muito feliz.

Recentemente passei uns dias em São Paulo/SP e como de costume na minha cidade, ou em outras que visito com tempo livre, se passar na frente de uma livraria eu entro. Pode ser famosa, sebo, pequena, temática, e apesar da grandiosidade e suntuosidade de algumas ou da pequenez de outras, constato uma similaridade recente entre todas elas: a presença de muitas pessoas folheando livros e o melhor, adquirindo-os. Será que finalmente estamos descobrindo os livros como bem de consumo ou será que os livros da moda estão levando as pessoas ao hábito da leitura?

Quando jovem, um lançamento de Jorge Amado, Gabriel Garcia Marquez, Sidney Sheldon, era um acontecimento aguardado com ansiedade. Isso me despertou a atenção para ler outros autores: Marquerite Yourcenar, Gean Genet, Marguerite Duras, Clarice Lispector, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Mario Quintana, Érico Veríssimo. Vieram os livros em série nas bancas de jornal: Os Pensadores, Agatha Christie, Clássicos da Literatura, que lia e colecionava. Depois a febre dos autores da moda: Fernando Gabeira, Nelson Motta, Jô Soares, Danuza Leão, Dan Brown, etc. Com certeza posso afirmar que a série Harry Pother despertou inúmeras crianças para o mundo encantado dos livros e a série Crepúsculo fez com que adolescentes de ambos os sexos suspirassem por Bella, Edward e Jacob, mesmo que ambos estejam embalados para consumo abusivo com direito a jogos, brinquedos, roupas, filmes e até ovos de Páscoa. E nem vou me dar ao trabalho de comentar os tais tons de cinza.

Em São Paulo, durante um dos inúmeros happy hours promovidos por meu amigo Roberto Camargo em sua tão aconchegante “casa cenário”, regado à luz indireta, vinho, torradas, queijo brie apéritif e geléia de pimenta que ele mesmo faz, o assunto era a questão do favorito, citamos cantores, atores, peças de teatro, músicas, comidas, restaurantes, mas quando o assunto chegou aos livros eu empaquei. Na hora não consegui pensar e esse assunto ficou comigo durante dias. Já de volta a Salvador, olhei diversas vezes para minha estante e a lista de favoritos crescia a cada olhada, não me surpreende o fato de que para mim não exista um, dois ou três favoritos, no meu caso eles enchem uma estante. E para você nobre leitor do blog, existe na sua vida um único livro favorito?

Momento agradecimento não pode faltar em todo post de aniversário, então lá vai... Obrigado aos amigos, seguidores e incentivadores, aos mais de dez mil acessos, e principalmente a confiança daqueles mais próximos que, contagiados pelo blog, pedem uma indicação de livro para começar a gostar de ler.

OBS: Na foto, um bolo que comprei para comemorar.

domingo, 14 de abril de 2013

POMPAS FÚNEBRES


Quando vejo e leio nos jornais, blogs e redes sócias tanta mobilização pela saída do Sr. Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e Minorias fico a pensar naqueles que o elegeram, porque ele foi eleito democraticamente, e se essas pessoas ainda acreditam no seu discurso. Alguns dias atrás assisti pela TV a uma entrevista com o Sr. Jean Wyllys e também pensei naqueles que o elegeram. A imagem desgastada, meio cínica, e investigada do primeiro e a imagem eloquente, erudita, e até então ética do segundo. O primeiro veio da minoria e foi catapultado para uma quase maioria, sim, os fundamentalistas religiosos estão tomando conta das bancadas das assembleias, e o segundo continua minoria, já que a grande maioria homossexual que ele defende não mostra a cara na mesma proporção que os eleitores do primeiro mostram a Bíblia.

Como me considero um ser pensante converso aqui com os meus botões sobre o que move tudo isso, e o que realmente incomoda uns aos outros, a resposta veio quase que imediata: O SEXO. No discurso agressivo do primeiro e no discurso eloquente do segundo permeia quase de forma invisível a questão de com quem você faz sexo, porque é óbvio que ambos fazem sexo, cada um a sua maneira e com a frequência e a companhia que os aprazem. Mas a questão “maior” está no direito civil que cada ser humano deve ter independente da maneira que ele faz sexo.

Por isso escolhi para abandonar mais um livro do Jean Genet (1910-1986). O primeiro que abandonei foi Diário de Um Ladrão, post datado de 16/10/2011 que vale a pena reler para se ter uma ideia sobre o autor, e agora vai um livro “pedrada” que se chama Pompas Fúnebres. Escrito em 1947, mas publicado pela primeira vez no Brasil em 1968 numa edição bem pobrinha e cortada pela censura, surgiu completo somente em 1985 e trata-se das histórias verídico/fantasiosas sobre a ocupação da França pelos alemães cujos personagens eram todos considerados ‘invertidos sexuais’. A expressão da homossexualidade é mais difícil que a sua prática e raros são os testemunhos reais do erotismo exclusivamente masculino. Até nesse patamar as mulheres estão muito à frente dos homens. Nesse livro Genet aborda a rendição erótica do homossexual aos símbolos militares e sabe quanta homossexualidade contém, em segredo, no militarismo. Mas, ao invés de condenar a trapaça que o vitima, ele a usufrui ao máximo, abstraindo dos soldados, carrascos e torturadores a sua ideologia, usando seus corpos belos e musculosos preparados para o amor viril.

Genet, rebaixado, excluído e estigmatizado pela sociedade, vingou-se daqueles que julgaram sua forma de amar como um mal provocando-os, através da literatura, o desejo de experimenta-lo.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento Colégio Dorotéias - Garcia
Data: 18/06/2013

domingo, 7 de abril de 2013

CEM ANOS DE SOLIDÃO


Eu tinha vinte anos quando li pela primeira vez Cem Anos de Solidão. Parece que foi há muito tempo, mas agora sinto que nem tanto, bastou pegar o livro, ler a orelha, folhear algumas páginas e a história voltou à memória. Lembro perfeitamente que li o livro mais umas três vezes e na última me dei ao trabalho de fazer uma árvore genealógica à medida que as gerações eram apresentadas.

Sim, é um livro sobre gerações de uma mesma família, seus filhos, netos, bisnetos, tataranetos, e todos os percalços vividos na fictícia cidade de Macondo. E sem querer ser um estraga prazeres, recomendo que fique atento a personagem Úrsula, matriarca da família Buendia, que viveu entre 115 e 122 anos.

Gabriel Garcia Marquez (1927) publicou Cem Anos de Solidão em 1967, é o oitavo de sua carreira, este livro é para mim um xodó porque abriu caminho para outras leituras do autor. É de longe o livro mais famoso do Gabriel, um exemplo único do seu estilo a partir de então denominado de ‘Realismo Fantástico’. O curioso é que a primeira edição foi feita com apenas oito mil exemplares, hoje já vendeu mais de trinta milhões e foi traduzido em trinta e cinco idiomas diferentes.

Em 2009 Gabriel anunciou sua aposentadoria declarando que não mais escreveria livros. Em 2012 seu irmão Jaime Garcia Marquez informou ao mundo que Gabriel estava com demência, embora seu estado físico seja bom, havia perdido parte da memória e isso tornaria impossível o hábito de escrever. Nós perdemos um escritor, tenho treze livros dele, queria mais.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de Ônibus em frente ao Colégio Módulo
Data: 25/05/2013