sábado, 16 de junho de 2012
LAÇOS DE FAMÍLIA
Às vezes o texto de Clarice Lispector (1920-1977) costuma ter uma ilusória facilidade pelo seu vocabulário simples e as imagens de animais, plantas e objetos domésticos em situações da vida cotidiana e ainda por cima envolvidos numa espécie de frequência de intenso lirismo. Mas que o leitor não se engane, em poucas linhas você será posto em contato com um mundo em que o insólito acontece e invade a vida das pessoas.
É desse modo que o leitor entra em contato com a experiência de Laura com as rosas e o impacto de Ana ao ver o cego no Jardim Botânico, ou a peregrinação de uma galinha no domingo de uma família com fome. Pequenos detalhes deflagram o mundo e quebra fronteiras falsamente estáveis em que vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia a dia parecia marcado pela ameaça de nada acontecer.
Nesta coletânea de contos as personagens debatem-se, sejam quais forem, e os laços que os unem são, em sua maioria, elos familiares que são mesmo tempo de afeto e de aprisionamento.
Clarice tem o dom de fazer você pensar, seja pelo lado irônico com que trata as relações humanas ou pelo lado introspectivo das mesmas. Mas outra vez o digo: que não se engane o leitor achando que lerá um texto por demais filosófico ou chato. Muito pelo contrário, na minha humilde opinião Clarice tem humor, é estratégica, é reveladora, e quando você menos espera estará a pensar no que leu e fatalmente será afetado pelo seu texto.
Experimente!
Cidade do abandono: Rio de Janeiro/RJ
Local: Aeroporto Galeão
Data: 22/08/2012
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