Uma leitura “quase” obrigatória para a minha geração, eu
tinha 17 anos quando li pela primeira vez a história de Anne Frank.
Assombrosamente haviam-se passado 33 anos da sua primeira edição, e como todos
já sabem trata-se do diário que uma garota escreveu dos 13 aos 15 anos.
A família Frank era formada por Otto e Edith, e as filhas
Margot e Anne. Viviam na Alemanha quando Hitler assumiu o poder. Temerosos pela
sua segurança face a política antissemita fugiram para a Holanda onde durante
algum tempo viveram normalmente. Durante a ocupação da Holanda pelos nazistas
os Frank não viram alternativa senão fugir novamente. Por falta de outros
refúgios resolveram ficar em Amsterdam escondidos na parte abandonada de um prédio
de escritórios. Anne tinha então 13 anos.
Reuniu-se aos Frank o casal Van Dann, com seu filho Peter, e
mais tarde um dentista chamado Dussel. Os amigos de fora forneciam comida,
roupas, livros, e o grupo permaneceu no esconderijo durante dois anos até que a
Gestapo os descobriu.
Anne era uma criança que amadureceu numa espécie de porão. Extraordinariamente
inteligente, arguta e com uma notável percepção, escrevia um diário com suas observações
peculiares, engraçadas e comoventes. Criou um mundo só dela no qual viviam as
outras sete pessoas, face a face com a fome, a sempre presente ameaça de
descoberta, o sentimento de alheamento ao mundo exterior e, acima de tudo, o
tédio. Esse o maior vilão, o deflagrador dos desentendimentos mesquinhos e
pequenas crueldades dos seres humanos quando expostos à reclusão e confinamento
num espaço tão pequeno e tão cheio de medos.
O interessante de tudo isso é que Anne era uma garota com os
anseios iguais às de hoje, guardadas as devidas proporções tecnológicas, e me
pergunto como um livro escrito por uma garota de 13 anos, despretensiosamente,
elaborado sem a mínima preocupação literária, pode tornar-se uma obra tão
requisitada, lida, representada e filmada.
Quantos romancistas, ficcionistas, poetas, não dariam tudo
para ter escrito um livro como esse?
Cidade do abandono: Campinas/SP
Local: Sonotel Monrealle - Francisco Glicerio, 1444 - Ap: 47
Data: 17/12/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário