domingo, 27 de abril de 2014

CINQUENTA TONS MAIS ESCUROS



Já que escrevi um post sobre o primeiro livro da saga Cinquenta Tons, fica claro para o leitor assíduo desse blog que li os outros livros que compõem a série. Confesso que o segundo livro, título do post, foi de leitura mais rápida porque eu estava embalado pelo término do primeiro, mas o terceiro ainda está na metade e demorando em me concentrar, mas saibam que sou um abnegado e vou até o fim.

Quando terminamos de ler o primeiro volume de Cinquenta Tons de Cinza e nos deparamos com o rompimento do romance entre Anastacia Steele e Christian Gray, por mais ingênuos que sejamos é possível prever que o rompimento não irá durar muito, afinal ainda temos dois volumes com, mais ou menos, quinhentas páginas cada um, e a história tem que seguir seu rumo. Então no segundo volume a autora E. L. James (1963) foca em dois assuntos principais; o passado misterioso de Christian e o casamento dos protagonistas.

Descobrimos que Christian tem uma pesada carga emocional que inclui abandono de incapaz por parte de sua mãe biológica e abuso sexual, ele foi o submisso durante anos da misteriosa Mrs. Robinson, amiga íntima da sua mãe adotiva. Isso leva os leitores a sentir uma “peninha” desse arrogante homem de negócios que possui cicatrizes pelo corpo e não permite que nenhuma mulher toque nelas.

Nessa trajetória até o casamento veremos Anastacia extrapolar os tais ‘limites rígidos’ de Christian e conquistar de vez o seu amor a ponto dele desistir de torna-la sua submissa e propor-lhe a união definitiva. Ela terá uma promoção meteórica na editora que trabalha e, como isso acontece de forma obscura, podemos prever que esse assunto ainda voltará mais à frente. Mas há de se dar um crédito pelo crescimento da personagem, não só pelos lindos trajes que o dinheiro pode comprar e que ela aceitará usar, mas também pela maneira mais madura que toma decisões relativas às brincadeirinhas sexuais que já se permite sem tantos pudores e o enfrentamento com Mrs. Robinson, catapultada à categoria de arquirrival.

Como mencionei acima, se você ler Cinquenta Tons de Cinza leia logo Cinquenta Tons Mais Escuros para não perder o embalo, e a curiosidade, é claro.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça em frente ao Centro Cultural de Plataforma
Data: 17/07/2014

domingo, 20 de abril de 2014

O JARDIM DOS FINZI-CONTINI


Várias vezes já citei aqui no blog a quantidade de filmes baseados em obras literárias, eu sou quase enfático ao escrever sobre isso, o melhor amigo do cinema é o livro. Para o bem e para o mal, como tudo nessa vida, há verdadeiras obras primas e fiascos retumbantes. Como hoje é domingo de Páscoa e coincidentemente o terceiro dia de um feriado prolongado, acordei naquele estado letárgico de quem pensa; hoje posso dormir até tarde, bem tarde. Mas o cérebro já está a funcionar e muitas lembranças surgem com o tema do dia: Páscoa. Lembro-me dos domingos na infância em São Gonçalo dos Campos, interior da Bahia, com meus avós maternos, e nesse momento volta a memória um filme antigo do Vittorio de Sica que assisti a muito tempo chamado O Jardim dos Finzi-Contini.

Quem conhece a obra escrita por Giorgio Bassani (1916-2000) que inspirou o filme pode não associar o livro com a Páscoa, já que se trata da história de uma tradicional e riquíssima família judia italiana condenada a uma morte anônima num campo de concentração nazista durante a guerra. A obra descreve o cotidiano dessa família, os jovens que a cercam e suas diferenças de pensamento e personalidade. Durante o período entre 1938 e 1943 o regime fascista apertava mais e mais o cerco contra os judeus, a liberdades iam pouco a pouco sendo retiradas e os ricos enclausuravam-se em suas belas residências, jogavam tênis e mantinham seus jardins impecáveis como uma prova sutil de que a vida continuava a mesma. O momento do golpe chegando e as pessoas aguardando pacientemente, como se estivessem sentadas numa estação esperando o trem que iria leva-las.

Conheceremos Micòl e seu irmão Alberto, Giogio nosso protagonista, e Bruno Malnate, simpatizante socialista amigo de Alberto. Embora escrito na primeira pessoa o romance é um monumento à memória de Micòl tanto que quando se encerra sua participação interrompe-se também a do protagonista. Na minha modestíssima opinião, uma figura tão fascinante e enigmática quanto Blanche Du Bois de Um Bonde Chamado Desejo.

Nesse domingo lembrei a cena filmada por Vittorio de Sica, a família de Giorgio reunida para celebrar a Páscoa cantando hinos hebraicos e a ameaça chegando através do telefone, o holocausto já está acontecendo, mas é preciso continuar vivendo e festejando com os cânticos tradicionais. O telefone toca, Giorgio atende e ninguém fala do outro lado, ligação interrompida ou uma ameaça? Depois toca de novo, a vozes cantantes se abaixam, o medo estampado em seus rostos, de novo não se ouve nada do outro lado. No terceiro toque Alberto fala do outro lado da linha, todos respiram, não é a polícia, não são os fascistas, todos relaxam, deixam cair o véu da paranoia e as vozes voltam a cantar alto.

Belíssima sequencia do filme narrada com maestria no livro. Vale à pena.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento da Perini - Graça
Data: 01/06/2014

quinta-feira, 17 de abril de 2014

ANO QUATRO


Nem acredito que meu blog está completando quatro anos de existência, tanta coisa mudou nesses últimos tempos e o ano de 2013 foi especialmente rico em leituras, agradeço às horas na sala de espera em aeroportos nas quais consumi muitas páginas, sem falar no tempo do voou já que dormir em avião não está em meus programas prediletos. Houve também as incontáveis horas de espera pelo começo dos espetáculos que eu tive o prazer de fazer a iluminação. Meu muito obrigado às produções de Tia Judith Ao Vivo e Escândalo - A Comédia da Mulher Só que confiaram em mim para operar a luz dos seus espetáculos proporcionando horas de leitura nas cabines do Teatro Módulo e Café Teatro Rubi.

Estou chegando ao post de número 187 com resenhas de livros que serão posteriormente abandonados, e já passei das 19 mil visitas, um número enorme para um blog sobre literatura feito por um anônimo, sim, um anônimo, até hoje nunca dei entrevistas ou participei de programas de TV ou rádio para falar sobre o blog. Também não almejo isso, nada contra os assessores de imprensa, já fui um deles, mas acredito no poder magnífico do boca a boca e acho que esta é a forma mais sincera de divulgação. As pessoas entram aqui, recebem informações sobre livros e podem se inspirar para lê-los, ou não.

Minha maior satisfação é receber um comentário bacana sobre um livro achado, recentemente deixei displicentemente o livro A Mulher Que Matou os Peixes, da Clarice Lispector, post de 12/01/2014, na balaustrada da janela panorâmica da garagem G2 do Shopping Barra. Levei exatos 10 minutos dentro do shopping e, ao sair, notei que o livro não estava mais lá. A princípio fiquei chateado porque pensei imediatamente que alguém da segurança ou da limpeza do shopping havia achado e vislumbrei uma gaveta ou o lixo como destino certo para um livro tão raro.

Minha surpresa veio no mesmo dia através do comentário abaixo publicado aqui no blog de uma pessoa chamada Jamile:

“Ooown! Eu encontrei essa delicinha de livro lá no shopping Barra. Fiquei igual a uma criança quando ganha um brinquedo novo! Eu amo Clarice Lispector e coleciono todos os livros dela, mas esse eu não conhecia. Mas não se preocupe, assim que terminar de ler (daqui a pouco) vou abandoná-lo pra que outra pessoa possa ficar feliz como eu. Adorei a iniciativa. Muito obrigada!”

Não conheço a Jamile, mas me senti encantado por suas palavras. Esse exemplo é a prova cabal de que o Universo conspira pra que as coisas achem o seu destino. Um livro raro da Clarice Lispector é encontrado por uma pessoa fã da autora que não o conhecia. Isso para mim não tem preço.

Um momento de agradecimentos é padrão em todo post de aniversário. Continuo agradecendo os amigos, seguidores e incentivadores, e principalmente a aqueles foram contagiados pelo blog e começaram a ler.


OBS: A foto de capa, um bolo especial de cenoura com chocolate feito pela Juciara, uma amiga bem querida. Na foto de rodapé o que sobrou do bolo um minuto depois da foto.

domingo, 13 de abril de 2014

AGOSTO

O também autor Fernando Morais escreve na orelha de Agosto a seguinte frase: “Agosto será consagrado, sem a mais remota sombra de dúvida, como uma das melhores obras do nosso tempo. E como o melhor livro do Rubem Fonseca.”.

Na minha mais modesta opinião Rubem Fonseca (1925) possui, além de Agosto, obras muito interessantes como por exemplo: Bufo & Spallanzani, Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos e O Seminarista, além de alguns contos excepcionais como Lucia McCartney e Feliz Ano Novo. Mas o que se sobressai em Agosto é a apresentação do enredo que mistura de forma inebriante realidade e ficção, sem alterar cronologias e sem alterar os fatos acontecidos na vida real.

O começo de tudo é o assassinato brutal de um empresário no quarto do seu duplex no Rio de Janeiro, era madrugada do dia 1º de agosto de 1954. Ao mesmo tempo Gregório Fortunato, um homem conhecido como Anjo Negro, chefe da guarda pessoal do Presidente Getúlio Vargas, andava pelo Palácio do Catete verificando a segurança do local e arquitetando outro crime, um atentado contra o jornalista Carlos Lacerda. Uma terceira pessoa entra nesse enredo; o Comissário Alberto Mattos. Depressivo e incorruptível, dividido entre uma úlcera gástrica e duas namoradas, ele sai atrás de uma pista sobre quem teria armado os pistoleiros do atentado da Rua Toneleiro, que também poderia ter ligação com a morte do milionário na cama.

Rubem Fonseca detém o poder de entreter a nós, leitores, na fusão entre ficção e realidade, misturando figuras públicas com bicheiros, mães de santo, golpistas, militares, pistoleiros, políticos, prostitutas, de forma tão magnética que ficamos sem saber onde é a ficção e até onde ela está inserida na realidade dos fatos históricos.

Agosto foi lindamente adaptada para a TV Globo, em 1993, pelas mãos de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil e recentemente foi reprisada no canal Viva na TV fechada. José Mayer viveu com maestria o Comissário enquanto Vera Fischer e Letícia Sabatella emprestavam suas belezas para Alice e Salete respectivamente. Agosto é uma obra que vale a pena ser lida e uma minissérie que vale a pena ser assistida.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Shopping Barra - Balcão da praça de alimentação.
Data: 03/05/2014

domingo, 6 de abril de 2014

FILADÉLFIA


Recentemente assisti ao filme Clube de Compras Dallas e fiquei tão abalado psicologicamente quanto, há mais de vinte anos atrás, me senti depois de assistir a outro filme chamado Filadélfia. O tema principal em comum aos dois filmes é a AIDS, entretanto o enfoque é diverso porque Andrew Beckett de Filadélfia era homossexual e Ron Woodroof era heterossexual e homofóbico. Em comum nos dois filmes estão os elos de aceitação e laços afetivos criados a partir do convívio e do conhecimento do outro; é o que Ron vive com o transexual Rayon em Clube de Compras e em Filadélfia Andrew conquista o respeito e a amizade daquele que seria seu advogado, o preconceituoso Joe Miller.

O livro que pretendo abandonar foi escrito por Christopher Davis com base no roteiro do filme de Ron Nyswaner, algo diferente para esse tipo de publicação porque geralmente são livros que dão origem aos filmes, mas há de se dar o devido crédito para Christopher que consegue imprimir em suas palavras todos os sentimentos, as trocas de olhares e os silêncios do roteiro filmado.

É um livro emblemático para uma época de muito preconceito e pouca informação sobre a doença e ajudou a desmistificar e abrandar conceitos arraigados de desigualdade. Andrew Beckett, jovem e brilhante advogado contratado de uma grande empresa, é obrigado a esconder sua sexualidade para ser aceito. Quando percebe a doença manifestar-se gerando rumores na empresa e uma possível sabotagem ao seu trabalho que culminou em sua sumária demissão, não pensa duas vezes e tenta conseguir um advogado para representa-lo no processo que moverá por discriminação. Após várias negativas encontra Joe Miller que também recusa o caso, mas, ao perceber a injustiça pela qual o colega está passando resolve apoia-lo e ambos mergulham numa batalha jurídica que irá mudar suas vidas.

Acho importante que filmes como Clube de Compras Dallas venha depois de tantos anos e mostre a outra face da moeda exposta com maestria por Filadélfia, ambos baseados em fatos reais. Serve de alerta aos milhões de jovens que ainda hoje fazem sexo sem camisinha achando que a AIDS não existe mais, ou que ainda é uma doença restrita a homossexuais.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Entrada da Sala de Arte - Ufba.
Data: 01/05/2014