domingo, 28 de setembro de 2014

BLECAUT


Na TV tem muita coisa boa e ruim, quem sou eu para avaliar, tenho cá meus prediletos e gosto de zapear e ver coisas que estão passando nos outros trezentos canais. Uma mania pós-invenção do controle remoto e radicalizada após a vinda da TV a cabo. Na minha adolescência isso era impossível de fazer, a não ser que você ficasse ao lado do aparelho girando aquele botão imenso dos canais. Sim, sou desse tempo. O canal Futura não está entre meus favoritos, mas, às segundas feiras eu sempre procuro saber quem o Tony Bellotto vai entrevistar, o programa chama-se Afiando a Língua e faz uma mistura entre músicos compositores e escritores, ou determinados assuntos que compatibilizam música e livros.

Li no jornal que o programa vai comemorar quinze anos no ar e fiquei espantado com o fato de um programa como esse ter vida tão longa com o mesmo apresentador, embora com algumas variantes de conteúdo. Daí fui conferir a programação na internet e dei de cara com um episódio que vai ao ar em 20 de outubro e reunirá Léo Jaime e Marcelo Rubens Paiva (1959). Eu gosto de ambos, mais ainda do Marcelo que ganhou um limão da vida e dele fez uma boa limonada suíça, essa dá mais trabalho que a comum.

Lembro claramente quando assisti no Teatro Augusta à montagem da peça sobre o livro Feliz Ano Velho, que já falei aqui no post homônimo publicado em janeiro de 2012. E depois veio a empolgação pelo seu segundo livro anos depois. Confesso que na época achei a história de Blecaut bem louca, além de completamente e absurdamente inspirada na série Além da Imaginação. São três jovens, Martina, Mário e Rindu, que viajaram para conhecer as cavernas no Vale do Ribeira, eles são surpreendidos por uma tempestade que alaga a caverna e os deixam presos por alguns dias. Quando finalmente as águas do riacho liberam a saída e eles chegam a São Paulo e percebem que todas as pessoas viraram estátua, estão paralisadas, duras como bonecos de cera, e que aparentemente somente eles estão vivos. No princípio é divertido, mas depois vem as dúvidas, as dificuldades, a saudade e à necessidade de sobreviver.

Anos depois quando li Ensaio sobre a Cegueira do José Saramago percebi que o Marcelo já pensava além do seu tempo. Hoje ele dedica-se mais ao teatro, o que é bem bom, mas ando com saudade do seu lado literato.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça do Campo Grande
Data: 13/12/2014

domingo, 21 de setembro de 2014

O CHEF SEM MISTÉRIOS


Eu sou do tipo de pessoa que ama cozinha e tudo que ela pode proporcionar, mas sou tão desastrado que já consegui queimar um Miojo. Não fui sempre assim, houve uma época que até tentei, eu morava em São Paulo e a cozinha do apartamento era toda montada, daí eu me viciei em programas de culinária exibidos pelos canais de TV a cabo e me propus por um tempo comprar ingredientes e transformar receitas escritas em algo comível.

Nessa época o Jamie Oliver (1975) apresentava uma espécie de reality show para transformar jovens pobres em chefes de cozinha. E aqui tenho que confessar que gosto muito desse tipo de programa e não importa muito o tema, se é uma competição que ensina alguma coisa com certeza estarei na frente da TV. Atualmente acompanho tantos que já perdi até a conta: Face Off, Hot Set, Project Runway, Masterchef, e citando alguns nacionais como Cozinheiros em Ação, Desafio da Beleza, The Voice, e até a versão nacional do Masterchef. Classifico-os de ‘Reality de Talentos’, para mim são completamente diferentes do Big Brother ou A Fazenda.

Foi exatamente nessa época que assistia o Jamie na TV e tentava colocar panelas no fogão que comprei o livro O Chef Sem Mistérios. Confesso que o li como se fosse um livro de contos e fiquei deslumbrado com o estilo do autor que fazia tudo parecer prático e fácil, de lambuja ainda dava umas boas dicas de como comprar alimentos, conserva-los, e até aproveitar as sobras ou o que seria jogado no lixo.

Foi uma rica experiência de ler sobre todas aquelas receitas de sopas, saladas, massas, carnes, frutos do mar, molhos, pães e sobremesas. Mas esse talento não é pra mim, continuo usando meu fogão como peça de decoração e saindo para comer fora, ou esquentando congelados no microondas. Espero que o livro do Jamie tenha mais utilidade para quem o achar.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Caixa Cultural - Banco da sala de entrada
Data: 13/12/2014

domingo, 14 de setembro de 2014

CONVÉM SONHAR


Você conhece aquela máxima que diz: “Papel em branco aceita qualquer coisa”, coloquei entre aspas porque não fui eu quem inventou essa frase e também por não saber o seu autor. Pois é, eu aplico essa máxima também para a internet, e com isso adultero um pouco a frase inicial dizendo: a internet aceita como verdade qualquer coisa. Estou com isso na cabeça desde que foi publicada a matéria em que se denunciava uma adulteração caluniosa ao perfil da jornalista Miriam Leitão (1953) no Wikipédia.

Ontem eu estava assistindo a reprise da entrevista que a Miriam concedeu à Marília Gabriela, exibida pelo canal GNT, e fiquei ainda mais fã dessa jornalista, escritora, apresentadora. Miriam é tudo isso, possui uma coluna diária no jornal O Globo, escreve para o blog no site do mesmo jornal, atua na rádio CBN, é comentarias de vários telejornais e ainda encontra tempo para escrever livros de ficção, não ficção e infantil. Ufa! Fico aqui pensando quantas horas ela dorme por dia.

Quando a entrevista acabou fui esmiuçar minha estante e achei um livro bem bacana que ela publicou em 2010 que reúne alguns textos já publicados em outras mídias até a época em questão. É um livro de leitura rápida e fácil porque você pode escolher o tema da leitura sem se preocupar com a ordem cronológica. O livro é um retrato do país, sua história, acontecimentos marcantes, política, economia, e não fica por aí, há espaço para questões sociais, raciais, meio ambiente e temas femininos. No fim do livro temos um bloco bacana com escritos de colunas que mais parecem crônicas e é de lá que vem o título do livro.

Convém Sonhar é uma história sobre a educação e as oportunidades que aparecem na vida das pessoas, o jeito de encarar uma chance que pode ser positivo ou negativo. Não à toa ela conta a história de três garotos e um deles ficamos sabendo quase no final que é o seu pai. Confesso que fiquei muito emocionado com o relato e admirei muito essa mulher, que exemplo bacana ela teve em casa e quantas alegrias sentiu justamente no dia que seu pai faleceu.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Escadaria Galeria Espaço Xisto
Data: 30/11/2014

domingo, 7 de setembro de 2014

EXÍLIO NA ILHA GRANDE


Li hoje no jornal o resultado de uma enquete sobre o que as pessoas fazem durante o horário político exibido na televisão nesse período que antecede as eleições, o resultado daria margem para grandes estudos sociológicos, filosóficos e humanos: 70% afirmaram mudar de canal para a TV a cabo, 22% afirmaram que desligam a TV e vão fazer outras coisas, apenas 8% alegam assistir à propaganda eleitoral. Isso significa que 92% não estão nem aí para a política deixando que os 8% que assistem, sejam lá por que motivos forem, decidam sobre suas vidas. Na minha humilde opinião, já que estou entre os 92%, está faltando engajamento social, político e humanitário.

Como sou velho e já passei por muitas fases políticas; tinha cinco anos quando houve o golpe de 1968, depois vieram os anos de chumbo, mais tarde passei pela abertura política, as diretas já, o impeachment, as manifestações de 2013 até os black bloc, e me pergunto onde estão essas pessoas? Incluindo-me nisso já que em diversas épocas da minha vida fui bastante politizado.

Fui buscar na minha estante um livro que pode servir a dois pretextos: Exílio na Ilha Grande pode ser lido como um livro político uma vez que seu autor, André Torres (1950), foi preso sob a acusação de ‘rebelde subversivo’. Desde adolescente participou de grupos de jovens e viveu na clandestinidade, usou de violência para chamar a atenção da sociedade e por isso foi encarcerado no mais temido presídio da época. Na introdução do livro ele diz: “Lá dentro, sob as lajes de concreto, parecia que o mundo ia acabar em fria escuridão.”

Para os jovens de hoje, mais preocupados em fazer selfies para as redes sociais, o livro pode ser lido como uma aventura estilo Indiana Jones, ou para ser mais moderninho, com jeito de Jogos Vorazes. Uma boa parte do livro revela os bastidores da Ilha Grande, as torturas e as fugas explicadas com desenhos e mapas, nosso “herói” consegue fugir do cárcere. O autor nos diz: “Como explicar minhas fugas? Meus êxitos, devo-os ao meu perfeito entrosamento com minha necessidade de liberdade, aos meus planos e métodos de preparação e improvisação, ao ambiente, à ousadia, aos companheiros, ao preparo físico, à simpatia, a um instinto infalível que me levou aos pontos fracos do sistema penitenciário nos momentos adequados, guiando meus passos.”

É um livro interessante, resta saber como você pretende catalogar no seu drive; política ou aventura?

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping
Data: 30/11/2014