domingo, 2 de setembro de 2012
O MEU PÉ DE LARANJA LIMA
Recentemente fui até uma grande livraria e sentei para ler algumas orelhas de livros que amigos tinham me indicado e outros que peguei ao acaso. Calhou de haver uma poltrona vazia justamente ao lado da sessão de livros juvenis. A princípio pensei que o barulho fosse me incomodar, mas acabei por esquecer os meus livros e fiquei absorto observando os adolescentes e suas aquisições do dia. Vi de tudo um pouco, da Galinha Pintadinha para os menores variando de Harry Potter à saga dos vampiros para outros, algumas meninas com o horrível ‘100% Justin Bieber’ e o pavoroso ‘100 Dicas Para Conquistar Um Vampiro’, além de um menino com o trash ‘100 Coisas Mais Nojentas do Planeta’. Confesso que adoro listas e fiquei curioso com o conteúdo os dois últimos livros que citei.
Acabei por não comprar nada e no caminho de casa tentei fazer uma retrospectiva sobre o que eu lia quando tinha 12 ou 13 anos. Ao consultar meus arquivos constatei uma agradável surpresa. Isso me deu a ideia para uma nova série: Livros que eu li ainda criança/adolescente.
O primeiro não poderia deixar de ser ‘O Meu Pé de Laranja Lima’ do fabuloso José Mauro de Vasconcelos (1920-1984). A obra foi escrita em 1968 e eu li quando tinha 12 anos por causa de um trabalho escolar. Escrevendo agora esse post tenho a exata memória dos fins de tarde, de banho tomado, aconchegado na “cadeira do papai”, completamente envolvido nas aventuras de Zezé. Assim como Monteiro Lobato, José Mauro tinha a capacidade de nos transportar para mundos fantásticos, mas sem perder a exata noção de realidade.
Zezé vivia numa família grande e como sua mãe trabalhava fora cada filho era responsável por cuidar do irmão menor. Sua mentora era Glória (Godóia) para quem ele refugiava-se sempre que suas traquinagens acabavam em brigas e confusões. Ao mudar de casa em função das dificuldades financeiras cada um pegou para si uma arvore do quintal sobrando para Zezé o pequeno pé de laranja lima. A princípio ele desdenhou da sobra, mas depois passou a considerar o arbusto como seu melhor amigo, para onde corria quando queria desabafar ou amenizar a carência de afeto. Zezé inventa para si um mundo de fantasia em que o grande confidente é "Minguinho" o pé de laranja lima. A vida estava lhe ensinando tudo cedo demais, e Zezé descobre a dor e a saudade, assim como a ternura e o carinho no afeto do solitário português Manuel Valadares, o Portuga, como o menino o chama.
O livro foi adaptado e virou novela na extinta TV Tupi em 1970, depois houve mais duas versões na TV Bandeirantes, em 1980 e 1998, isso sem falar que também em 1970 foi adaptado para o cinema com direção de Aurélio Teixeira. Recentemente li uma declaração do autor que diz:
“Meu pé de laranja lima foi escrito em apenas doze dias. Porém estava dentro de mim há anos, há vinte anos."
Cidade do abandono: Rio de Janeiro/RJ
Local: Aeroporto Galeão
Data: 12/11/2012
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