domingo, 21 de outubro de 2012

EM NOME DO DESEJO


Houve uma fase em minha vida que eu lia tudo que me caia às mãos, e quando digo tudo, quero realmente dizer T-U-D-O. De quadrinhos do Tio Patinhas aos romances açucarados Bianca e Sabrina, de clássicos da literatura que faziam parte do calendário escolar aos livros ditos proibidos para menores, livros emprestados da biblioteca e também aqueles surrupiados de minha tia Liane. Mas engana-se o leitor desse blog se pensar que eu era um nerd solitário com um livro nas mãos dentro de um quarto, isso nunca. Fui garoto de rua que passava férias no interior e quando mudamos para um prédio de apartamentos descia para brincar no playground, com direito a turma, várias amizades e algumas inimizades. Também não era o sabichão da turma, o famoso "CDF", sempre fui um aluno médio, com boas notas em português (claro), história, geografia, e notas suficientes para passar de ano em matemática, ciências, etc.

Para encerrar a série de livros que li ainda jovem escolhi “Em Nome do Desejo” do João Silvério Trevisan (1944). Era um livro proibido, tinha acabado de ser lançado e já era rechaçado pela então ditadura militar em nome da moral e da família. É claro que tudo que era proibido eu logo queria saber. Na minha mais humilde opinião, eu recomendaria a leitura para jovens com mais de 15 anos. Acho o livro muito comovente e esclarecedor a respeito da diversidade do amor.

Com meus 20 anos, recém completados em 1983, cheio de testosterona e curiosidade, fiquei perturbado ao ler o verbete: “Denso e trágico, mas sem perder o humor e a leveza, o livro do jornalista e escritor João Silvério Trevisan conta a história de amor entre os seminaristas Abel e Tiquinho, jovens divididos entre a mortificação da carne e a exaltação da alma, presos entre as glórias do divino e a ebulição dos hormônios da adolescência. Um romance sobre o despertar do sexo”.

É uma obra de aparente simplicidade, entretanto o autor consegue enredar muitos detalhes e vários fios da diversidade amorosa entre adolescentes. A anatomia do amor de uma paixão carnal e a cultura que ao mesmo tempo o promove, mas também o torna objeto de punição.

É ler e tirar suas próprias conclusões.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Aeroporto Luis Eduardo Magalhães - Praça Alimentação
Data: 18/12/2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O PEQUENO PRÍNCIPE


Quando tinha 8 anos ganhei de presente da minha madrinha o livro O Pequeno Príncipe. Eu era carinhosamente chamado de príncipe porque, segundo ela, era o afilhado mais educado... Perceba que disse “segundo ela”, não me achava assim tão educado, mas confesso que diante da sua figura tão impoluta eu caprichava um pouco. Li o livro e achei bacana. Aos 12 eu o achei no meio de outros livros e num domingo de chuva decidi ler novamente, lembro-me de ter descoberto algumas coisas novas que antes não havia percebido, é que na primeira leitura o que mais me impressionou foram as gravuras.

Alguns anos depois comprei uma edição bem bacana no Círculo do Livro, de capa dura e papel couche com brilho. É a versão que guardo até hoje e a que pretendo abandonar. Adquiri o hábito de reler esse singelo livro de cinco em cinco anos, pode apostar que a cada leitura descubro coisas novas, percebo intenções que não havia notado ou frases que grifei com um novo sentido.

Por vezes me sinto mais maduro e por outras acho que retrocedi. Tenho plena consciência de que a essa altura do campeonato o livro pode soar cafona, nos anos 70 era o famoso livro das Misses, todas juravam que tinham um exemplar sobre a cabeceira. Mas o fato é que frases como as que você vai ler aqui estão em nosso inconsciente coletivo, mesmo que você nunca tenha lido o livro.

“Os homens não tem mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não tem mais amigos.”

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.”

“O essencial é invisível aos olhos.”

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

É um clássico. Já vendeu mais de 50 milhões de exemplares, em mais de 400 edições e foi traduzido para uma centena de idiomas e dialetos. O escritor francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) conta a história do principezinho originário do asteroide B612, traçada de forma delicada e criativa. Pode parecer simples, mas engana-se o leitor que não perceber os personagens plenos de simbolismos. O pequeno planeta do tamanho de uma casa com seus três vulcões, a flor de grande beleza, o geógrafo, a serpente, a raposa, o adulto solitário, todos nos ajudam a compreender a grande viagem do Pequeno Príncipe.

À primeira vista, um livro para crianças. Mas na definição do autor “um livro urgentíssimo para adultos”. Isso talvez explique a extraordinária sobrevivência literária da obra.

Cidade do abandono: Campinas/SP
Local: Aeroporto Viracopos
Data: 18/12/2012