domingo, 25 de novembro de 2012

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS


Apesar de lançado em 2006 só recentemente encontrei tempo para ler este livro tão instigante. Ele repousou serenamente na estante por quase dois anos até que foi escolhido. Me arrependo por não tê-lo lido antes, um livro riquíssimo que trata justamente sobre a forma que uma menina, Liesel Meminger, transforma sua vida e seu jeito de pensar através dos livros que roubava. Sim, ela roubava livros. E foram justamente os livros roubados que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, o gosto por rouba-los gerou a sede de conhecimento e deu-lhe um propósito na vida.

A instigante história de Liesel nos é contata pela Morte, a própria, ceifadora de almas, impressionada com a garota e sua trajetória na Alemanha nazista. É uma narração com tamanha sensibilidade, simplicidade e suavidade capaz de esmiuçar os diferentes sentimentos humanos, sejam eles bons ou maus. Durante o período entre 1939 e 1943 Liesel encontrará a morte três vezes e sairá viva das três ocasiões surpreendendo a própria Morte.

O autor, Markus Zusak (1975) cresceu ouvindo histórias a respeito da época nazista, sobre os bombardeios de Munique e os judeus marchando pela pequena cidade alemã de sua mãe. Em entrevista recente ele disse que sempre soube que essa era a história que queria contar.

E consegue de uma forma tão requintada que, aos 30 anos, já se firmou como um dos mais inovadores e poéticos romancistas dos dias de hoje.

Mas que não se engane o leitor achando que será mais um livro sobre nazistas versus judeus, a Morte logo nos alerta: “Eis um pequeno fato, você vai morrer”.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Pereira Café - Shopping Barra
Data: 03/02/2013

sábado, 17 de novembro de 2012

É TUDO TÃO SIMPLES


Em 1992 quando Danuza Leão (1933) publicou uma coletânea de textos intitulado Na Sala com Danuza, sobre a reinvenção das regras de etiqueta, descobrimos uma nova faceta da consultora para personagens ricos nas novelas da Globo. Ela nos presenteava com um lado prático das arcaicas regras de etiqueta. Mais tarde, em 2005, Danuza publica uma obra prima intitulada Quase Tudo e nele encontramos outra Danuza, uma mulher completamente diferente daquela que conhecíamos das colunas sociais, festas e badalações.

De lá pra cá muita coisa se passou, Danuza virou escritora de sucesso com livros sobre maneirismos e experiências em viagens pelo mundo afora. Gosto muito da maioria dos seus livros e principalmente da sua coluna no jornal. Acho sua visão muito providencial e compartilho com algumas de suas ideias.

O livro que pretendo abandonar foi lançado em 2011 e chama-se É Tudo Tão Simples. Na minha mais humilde opinião acho que Danuza já escreveu coisas melhores. Esse, me parece, é mais uma coletânea de coisas já escritas e foi publicado por pressão da editora. Tem coisas engraçadas, capítulos divertidos, coisas para pensar e coisas para deletar. Há momentos em que a acho bem louca com pitadas de alguma sanidade, afinal o ‘simples’ da autora nem de longe se pode considerar como ‘simples’ para os demais mortais. São lojinhas em Paris, em Londres, lugarzinhos em Paris e restaurantes em Paris. Não desmerecendo a cidade luz, mas achei tudo com certo ar de exagero. Ela nos informa que simplificou a vida ao vender o carro, a prataria, mudando para um apartamento menor, mas nem pensar em abdicar de pequenos luxos como ter uma banheira, algumas latinhas de caviar e das viagens na primeira classe, sempre determinando um certo desconforto pelos lugares turísticos do mundo e às pessoas em geral. É muito engraçada a dúvida da autora em doar ou não roupas velhas, será um pecado doar aquela camisa Saint Laurent que você não usa há anos para a faxineira? Olha que problema!

Pode-se e deve-se ler este livro com humor, afinal regras de comportamento devem ser encaradas sempre com bom humor, sabendo o que deve aproveitar para si e que é delírio da autora. Eu acho puro entretenimento.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Cantina Volpi - Ondina
Data: 06/01/2013

domingo, 11 de novembro de 2012

A CULPA É DAS ESTRELAS


Hoje começo uma série sobre livros contemporâneos, não que ache que livros possam envelhecer, longe de mim cometer aqui tal injúria, mas acredito que cabe a palavra substituindo um possível verbete para recém lançados. São obras que de alguma forma retratam os pensamentos deste século que está só começando. Decidi abandonar alguns livros que comprei recentemente e gostei muito, e quem sabe convencer alguém a abrir e ler a primeira página.

Começo então por uma obra cujo título é “A Culpa é das Estrelas” de um escritor chamado John Green (1977) que, confesso, não sabia da existência. Tomei conhecimento desse livro através de uma bem escrita resenha feita pelo Bruno Meier para a revista Veja. Fiquei curioso por causa da resenha e ao ler o livro fiquei emocionado, comovido, influenciado, e porque não dizer, culpado por praguejar contra a vida e os pequenos problemas que nela enfrento.

A história é contada em primeira pessoa por Hazel Grace, ela tem 13 anos e está diagnosticada com um câncer de tireoide em estágio avançado sem chance de cura. Debilitada e um pouco deprimida ela é obrigada pela mãe a frequentar um grupo de apoio a adolescentes na mesma situação, lá conhece Augustos Waters, ex-jogador de basquete da escola que teve de amputar uma perna por causa de um osteossarcoma. Engana-se o leitor em pensar que é um livro mórbido ou deprimente sobre adolescentes que tem uma doença grave, contrariando a imagem consagrada da vitalidade e energia da idade, ou que o texto resvala na auto piedade, ou o livro é mais um best seller de auto ajuda. Nas mãos do John Green o livro flui e, acredite, você irá se comover e, é lógico, pensar, mas também vai rir e vibrar com esse casal e isso pode faze-lo mudar o jeito de encarar as coisas miúdas da vida, pode rolar um pouco de melancolia mas tenha certeza que isso lhe fará bem.

Copiei aqui um trecho da resenha escrita pelo Bruno Meier que diz “A melancolia, porém, se desvanece diante desse encontro tão intenso de dois adolescentes que descobrem que é mais fácil encarar o fim iminente quando não se está mais sozinho nos instantes que o antecedem.”.

É um grande livro.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Museu Náutico da Bahia - Farol da Barra
Data: 05/01/2013

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O CRIME DO PADRE AMARO

Andei muito atarefado nesses últimos dias, e a convocação para trabalhar como mesário nas últimas eleições fez com que não escrevesse no blog na última semana de outubro. Isso me deu um tempo para pensar e fuçar minha estante atrás de livros que serão abandonados em breve. Não por acaso lembrei-me de um livro que foi citado recentemente em duas novelas diferentes na Globo. Em Gabriela, a menina Malvina compra o livro e conta com a cumplicidade do livreiro João Fugêncio, é um escândalo quando seus pais descobrem que livro sua filha está lendo. Já em Lado a Lado o livro foi novamente citado pela personagem de D. Eulália, pseudo beata bem safadinha que, em conluio com o padre Olegário, tenta expurgar da sociedade os livros considerados pornográficos, mas os lê avidamente escondida de todos.

O livro tão citado é O Crime do Padre Amaro, uma obra prima que marca o surgimento do Realismo em Portugal é de longe a obra mais polêmica do grande Eça de Queirós (1845-1900), isso porque o autor se utiliza da irreverência, sarcasmo e ironia para criticar o clero e a sociedade burguesa da época na sua falsa moral. O livro conta a história do padre Amaro, pároco sem a menor vocação que se deixa abater pela tentação da carne, e peca contra a castidade ao conhecer a jovem Amélia. Vivem uma história de amor proibida e passam a ter encontros secretos até que Amélia descobre-se grávida. O padre se vê numa emboscada ao tentar arranjar-lhe um casamento para tentar encobrir o que se tornaria um escândalo.

O exemplo mais curioso da obra de Eça é que ela permanece viva e atualíssima, o livro foi escrito em 1875, século 19, mas, tomada a devida licença poética, tem um frescor que poderia ter sido lançado na última bienal do livro. Em 2002 Gael Garcia Bernal encarnou o personagem no cinema sob a direção de Carlos Carrera, e foi indicado ao Oscar e Melhor Filme Estrangeiro.

Deixe-se embriagar por Eça de Queirós, aproveite para emendar a leitura com O Primo Basílio e depois um grande clássico: Os Maias. Aposto minha estante inteira que você não vai se arrepender.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Shopping Iguatemi - Sala 11 - UCI
Data: 29/12/2012