sábado, 25 de agosto de 2012

MINHA FAMA DE MAU


Por vezes pensamos na vida de artistas com uma intensa curiosidade, principalmente sobre o lado menos artístico e mais pessoal, como se o fato de “ser artista” elevasse a pessoa para um patamar diferente, quando eu era criança pensava que artista sempre comia melão com presunto todos os dias no café da manhã.

Ao ler a biografia Minha Fama de Mau do Erasmo Carlos (1941) consolidei minha opinião sobre a vida de alguns artistas cujas carreiras, construídas desde o final dos anos sessenta, ainda eram desnutridas da glamorização, foram carreiras desprovidas de globalização, redes sociais, efeitos midiáticos e assessores de imprensa, mas, por outro lado, repletas do mais puro e verdadeiro talento, simples assim.

Erasmo Carlos propõe-se a contar histórias, suas memórias, da infância humilde de menino criado pela mãe numa casa de cômodos à consagração como ídolo do rock, histórias de superação das dificuldades financeiras e preconceitos até consagrar-se, junto ao amigo Roberto Carlos, como porta-voz sentimental de milhões de pessoas. Um dos primeiros popstars brasileiros, assim como os Beatles, ele tinha fã clube histérico, garotas se rasgando por um beijo e dinheiro para comprar tido que quisesse.

Memórias simples de garoto sonhador, jovem entusiasta, até tornar-se o para sempre Tremendão. As namoradas, o casamento, a família, os filhos, o showbiz, os amigos, as composições, as muitas aventuras nos bastidores dos shows e as histórias sobre as canções que embalaram muitos romances.

Não é uma biografia bombástica, não há nada de escandaloso, muito pelo contrário, Erasmo mostra-se um cara doce, engraçado e generoso, um artista humano que não tem vergonha da sua história. É um livro simples, sem sobressaltos, mas irá emocionar principalmente aqueles que viveram nas décadas de 70 e 80 do século passado e acompanharam sua trajetória.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Aeroporto Luis Eduardo Magalhães
Data: 12/11/2012

domingo, 12 de agosto de 2012

RICKY MARTIN - EU


Quando o fenômeno Menudo chegou ao Brasil eu já era grandinho demais para me deixar seduzir pelos quatro mexicanos que as meninas idolatravam e os garotos imitavam. Mas não posso negar que a música colou em meus ouvidos de tanto que foi repetida. Mais tarde, noveleiro que sou, fui contagiado pela música de abertura da novela Salsa e Merengue, que se chamava Maria e era interpretada por Ricky Martin, o já bem crescido ex-integrante do grupo.

Um clipe aqui, outro acolá, na minha fase MTV, assisti às interpretações de um homem sedutor, macho alfa, garanhão, bonitão, corpão, dentes impecáveis e cara de menino sapeca. Alguns questionavam sua sexualidade como também o faziam com vários outros atores/cantores bonitões e de sucesso, mas confesso que não tenho paciência para esse tipo de especulação. Ao publicar uma carta aberta em sua página na internet em março de 2010, Ricky Martin (1971) “surpreende” o mundo afirmando sua homossexualidade e dizendo-se enfim livre.

No mesmo ano lançaria o livro EU que conta em primeira pessoa como tudo começou em sua carreira; desde criança como modelo e cantor na igreja, as tentativas para ingressar no grupo Menudo, a decisão da carreira solo, o sucesso mundial que demorou mas enfim aconteceu e, claro, o que mais interessa ao público cativo das revistas de celebridades: os amores e o sexo.

O livro, na minha humilde opinião, começa bem morno e até chato, mas há uma redenção, acredito que ele foi se soltando à medida que foi escrevendo e relembrando os fatos. O próprio diz: “Escrever este livro me permitiu explorar os diferentes caminhos e experiências que me levaram a ser quem sou hoje. Precisei amarrar pontas que sempre estiveram soltas, reacender memórias que já tinham sido apagadas de minha mente. Aceitar fazer isso não foi fácil, mas, assim que comecei, iniciou-se uma cura espiritual incrível.”.

Se você é gay e pretende ler o livro, verás que o processo de “sair do armário” é complexo, doloroso em alguns pontos, mas viver na verdade não tem preço.

Se você não é gay e pretende ler o livro verás que preconceitos derrubam e aprisionam não só quem é discriminado, mas também quem o discrimina.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Chez Bernard
Data: 11/11/2012

domingo, 5 de agosto de 2012

LIV ULLMANN SEM FALSIDADES


Já falei muito aqui no blog, adoro histórias, e quando se trata de histórias verídicas, histórias de vida, eu me perco no tempo e só consigo parar quando chego à última página. Mas não é com qualquer história que sigo me aventurando, nos tempos das redes sociais que a biografia é escrita diariamente através de postagens e fotos de pratos de comida feitas pelo Instagran, um mínimo de critério se faz necessário para conseguir ler coisas interessantes.

É justamente nesse mote que apresento a vocês ‘Liv Ullmann Sem Falsidades’. Escrito por David E. Outerbridge e traduzido pelo Roberto de Cleto este livro é composto por uma série de entrevistas que a atriz Liv Ullmann concedeu ao autor durante a temporada na Broadway da peça ‘Ana Christie’ de Eugene O’Neill. Segundo o autor uma entrevista “sem falsidades” porque penetra no próprio ser da atriz que nos oferece os segredos de sua arte, a forma como é capaz de encontrar a essência de cada personagem, e isso, por sua vez, leva finalmente à revelação da sinceridade de uma interpretação.

O autor disse em uma entrevista quando perguntado por que dar tanto espaço para uma atriz até então tão pouco conhecida nos Estados Unidos: “Talvez existam duas respostas: Uma delas só pode ser compreendida vendo-a atuar, pois o texto de uma peça ou de um filme e a interpretação que a ele é dada pertencem ao momento e à plateia. O momento passa tão rapidamente quanto uma respiração. A segunda tem a ver com a face que transmite a emoção das palavras. Esse livro é a respeito dessa face e da persona que está por trás. É uma composição de uma atriz que, extraordinariamente, entra em cada novo papel em sua forma essencial.”

No Brasil o texto foi apresentado a Roberto de Cleto pelo ator/diretor André Valli, que era fanático por Liv Ullmann. O Roberto achou que podiam ser úteis aos seus alunos da Escola de Teatro da Uni-Rio quando fossem estudar o método Stanislavski de preparação do ator e resolve fazer a tradução. Para Roberto o livro pode ser de grande utilidade para todos que se interessam pelo teatro como profissão, como apreciadores, e até por aqueles que querem saber sobre as colocações humanas de uma personalidade que é uma atriz.

O livro que vou abandonar tem um prefácio lindo e emocionado escrito por Marília Pera e uma dedicatória do amigo Agê Habib que me presenteou o livro, que diz: “Os atores impressionam o público não quando estão furiosos, mas sim quando representam bem a fúria.”

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Louge em frente a Livraria Cultura
Data: 11/11/2012