domingo, 24 de abril de 2016

SHAKESPEARE – O QUE AS PEÇAS CONTAM


Ao escrever o post Romeu e Julieta em 10/abril/2016, enfatizei o fato de que o livro tem a tradução de Barbara Heliodora (1923-2015), tida como autoridade máxima no Brasil em William Shakespeare. Dois dias depois do post ainda estava com o nome de Barbara na cabeça quando descobri que minha publicação ocorreu exatamente um ano após sua morte. Arrepiei. A grande conspiração do universo foi ter descoberto o fato através do Facebook, quem me conhece sabe que não sou de ficar navegando pelas redes sociais e na terça feira eu quebrei a rotina ao visitar minha página num dia de semana. Para quem não sabe, o meu mural tem poucas coisas postadas realmente por mim, na sua grande maioria aparecem por lá as marcações feitas por equipes de divulgação dos trabalhos que estou envolvido no teatro ou compartilhamento do trabalho de amigos.

Como no domingo passado foi o aniversário de seis anos do blog, deixei para fazer hoje o post sobre um livro que me incentivou a leitura e o conhecimento da obra de William Shakespeare e assim homenagear Barbara Heliodora. O livro que dá título a esse post é de importância vital para qualquer ser humano que deseja ser minimamente informado sobre as obras, sem, contudo, ter que desbravar todos os volumes. Barbara nos poupou esse trabalho.

Durante as comemorações pelos 450 anos de nascimento de Shakespeare ela nos brindou com um livro em que comenta 37 peças desse dramaturgo inglês tão encenado. Uma seleção que contempla os clássicos Romeu e Julieta, Hamlet, Otelo, Rei Lear, Macbeth, Comédia dos Erros, Sonhos de Uma Noite de Verão, e também outras que eram desconhecidas por mim como: Troilus e Créssida, A Noite dos Reis e Coriolano. Barbara faz um resumo do enredo, cita os principais personagens e transcreve uma seleção de trechos que julgou crucial em cada obra.

Um livro para os preguiçosos, dirão alguns mais radicais. Eu prefiro tratar a obra como um convite para conhecer textos clássicos e apaixonar-se pelo teatro universal. Ser fisgado pela curiosidade e ir buscar o conhecimento da obra completa. Em 2014, quando Barbara afastou-se da crítica teatral para dedicar-se unicamente à tradução de textos, a revista Época publicou uma matéria sobre o assunto e ela disse:

“Amava dar aulas. A melhor sensação do mundo é perceber quando um aluno começa a se interessar pelo assunto e se entusiasmar pelo teatro.”

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Shopping Passeo - Cafeteria em frente à sala de cinema
Data: 28/05/2016

domingo, 17 de abril de 2016

ANO SEIS



Fiquei um bom tempo na frente do computador refletindo sobre o título do post: ANO SEIS. Senti um alívio imenso por ter ultrapassado a barreira dos cinco anos de escrita no blog após uma pequena crise. Depois fui invadido pela sensação de energias renovadas para continuar a escrever toda semana sobre um livro diferente. No post do aniversário de cinco anos comentei sobre a dedicação, perseverança e a dose de abnegação necessária porque, tal qual um casamento, ter um blog e ser fiel aos leitores também é passível de um período em crise, e ela chegou no fim de 2015.

No ano que passou trabalhei muito nas diversas frentes que atuo e quase não deu tempo de me dedicar à leitura. A cada ano tenho que abandonar 51 livros, mas no ano passado só consegui ler 18, então retirei 33 da estante mais antiga de livros que li antes de começar a escrever no blog, recurso que tenho utilizado com frequência nos últimos anos para fechar a conta. Desde que iniciei o blog já abandonei quase 300 livros e se continuar lendo pouco em breve a estante antiga estará vazia. Não que eu me importe com isso porque sempre haverá livros novos para ler e preencher os espaços, mas não terei um livro para abandonar semanalmente afetando a dinâmica estabelecida para o blog, fato que me deixará profundamente triste.

Ao pensar em tudo isso fiquei parado e respirei fundo várias vezes. Essa dose extra de oxigênio me fez renovar as energias para assumir um compromisso íntimo de ler mais porque isso não é um martírio, pelo contrário, a leitura me faz um bem enorme. Será sempre um prazer ir até a livraria, vagar pelas estantes, manusear os livros, olhar as novidades, sair de lá com um exemplar, abri-lo para sentir aquele cheirinho de papel impresso e por fim relaxar para embarcar em mais uma aventura. Assim como num casamento estou renovando meus votos, farei um esforço maior para conciliar meus interesses profissionais e pessoais com a escrita no blog e assim levar até você, caríssimo leitor, a minha humilde opinião.

Muito obrigado aos seguidores visíveis e aqueles que recomendam a leitura do blog aos amigos. Aos desconhecidos que fizeram uma busca qualquer pelo Google, acharam meu espaço e dedicaram um pouco do seu tempo para ler o que escrevo. Aos familiares que compram ‘Cartão Presente’ de livrarias para me dar nas datas festivas (bendita invenção que facilita a vida de vocês) e, esse ano em particular a três pessoas: Cybelle, Epa Neto e Roberto Camargo, amigos que me aturam em infinitas conversas sobre livros e temas ligados ao blog.


PS: O bolo da foto eu ganhei de presente de outra amiga, Juciara, ela diz que não consegue ler livros, em compensação faz bolos divinamente.

domingo, 10 de abril de 2016

ROMEU E JULIETA


Quando escrevi o post sobre Ricardo III em julho de 2015 fiz uma retrospectiva sobre a entrada de William Shakespeare (1564-1616) em minha vida e falei muito sobre como o teatro funcionou para o entendimento da obra. Lembro que o espetáculo Romeu e Julieta apresentado durante 13 anos pelo Grupo Galpão me fez chorar por causa do lirismo da encenação, embora, mesmo sem ter lido o livro, eu já soubesse do que se tratava e qual seria o final da história. Acredito que 99% dos seres humanos sabem esse enredo, mesmo que nunca tenham lido o livro ou assistido uma versão para o teatro, cinema ou TV.

Em Verona, Itália, pelos idos anos 1600, duas famílias, Capuletos e Montecchios, se odeiam ao ponto de ter a cidade onde moravam completamente dividida. Romeu Montecchio conhece Julieta Capuleto numa festa e é fisgado definitivamente pelo amor romântico plenamente correspondido. Na mesma noite Romeu pula o muro da mansão inimiga para revelar seu amor por Julieta, é aí que acontece a famosa cena da varanda e os versos de amor que serão repetidos para todo o sempre. Decididos a casar-se em segredo por causa da inimizade entre suas famílias os jovens buscam o apoio do Frei Lourenço, peça fundamental nessa trama que acabará na tragédia mais conhecida do mundo, só perdendo para a crucificação de Jesus.

Essa obra irá influenciar inúmeras versões para os mais variados gostos e estilos, fiz uma busca no Google sobre sua correlação com o cinema e encontrei desde versões teatralizadas como as dirigidas por George Cukor – 1936 e Franco Zeffirelli - 1968 até as mais modernosas como Romeu + Julieta de Baz Luhrmann – 1997 (no meu conceito a melhor) e a versão para a TV de Carlo Carlei de 2013, passando por aquelas que fazem uma analogia à obra original como West Side Story de 1961 e a nacional O Casamento de Romeu e Julieta dirigida pelo Bruno Barreto em 2005. Temos também as versões de animação como Monica e Cebolinha no Mundo de Romeu e Julieta de 1979 e a esquisita Gnomeu e Julieta de 2011. Sem deixar de fora o filme Romeu Tem Que Morrer dirigido pelo Andrzei Bartkowiak em 2000, muita ação e pouco contexto literário. Claro que não posso esquecer a citação no filme chanchada Carnaval no Fogo – 1949, a paródia da cena do balcão com Oscarito interpretando Romeu e Grande Otelo como Julieta é impagável.

O livro que vou abandonar tem uma tradução primorosa de Heliodora Carneiro de Mendonça (1923-2015), mas conhecida como Barbara Heliodora, professora, escritora, tradutora e ferrenha crítica de teatro. Foi a maior autoridade brasileira sobre a obra de Shakespeare. Portanto prepare-se.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco do jardim na entrada da Escola de Teatro da UFBa.
Data: 29/04/2016

domingo, 3 de abril de 2016

A DEUSA CEGA


Quando trabalhava no Café Teatro Rubi sempre havia um hiato entre a passagem de luz do show ou peça de teatro e a efetiva realização do mesmo. Um espaço de tempo de mais ou menos noventa minutos entre os ajustes finais e a abertura da cortina. Eu ocupava esse tempo conversando com os colegas e também lendo, claro. Desde a adolescência que me faço acompanhar de um livro quando vou a algum lugar e desfruto do tempo a meu favor. Já revelei esse fato algumas vezes aqui no blog. Numa dessas esperas a diretora de teatro e grande mestra Hebe Alves me encontrou lendo num canto e surpreendeu-se, sem querer desmerecer os demais colegas técnicos de luz ou som, mas tenho de concordar que a leitura não é um hábito da classe técnica.

Começamos a conversar e ela me contou sobre sua predileção por livros com histórias de crimes e suspense e então me fez anotar o nome Anne Holt (1958) para que pudesse pesquisar sua obra. Não sou um aficionado por esse tipo de literatura, mas histórias são histórias e é delas que gosto. Pesquisei a autora e descobri uma série de livros publicados, desde 1993, dedicados ao crime e a resolução deles pela inspetora de polícia Hanne Wilhelmsen. Resolvi começar com o primeiro, A Deusa Cega.

A história começa num passeio matinal da advogada Karen Borg com o seu cachorro que é interrompido pela descoberta de um corpo desfigurado jogado num canteiro de plantas. Em seguida Hakon Sand, seu ex-colega de curso e ex-melhor amigo, que agora trabalha como assistente da promotoria de Oslo, a chama para defender o assassino que foi preso vagando todo ensanguentado pelas ruas. Em seguida um advogado é assassinado de forma fria e cruel com um tiro no rosto. Os crimes não parecem ter relação até a chegada da inspetora Hanne Wilhelmsen que tem a intuição de que algo grande está para acontecer e começa uma investigação em parceira com Hakon.

Prepare-se porque a autora gosta de nos ver sofrer, ela antecipa acontecimentos para que fiquemos curiosos em saber como isso irá se desenrolar, escreve capítulos curtos e explicativos dos fatos passados e nos instiga a querer mais e mais. Rapidinho as 342 páginas serão consumidas avidamente pelos leitores mais afoitos.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Entrada do Teatro Jorge Amado
Data: 28/04/2016