domingo, 22 de fevereiro de 2015

LAMARCA - O CAPITÃO DA GUERRILHA


No final do ano passado fui o diretor assistente de uma montagem teatral chamada Fora da Ordem, um monólogo encenado por Lelo Filho, autor, ator, diretor e produtor do espetáculo que é uma realização da Cia Baiana de Patifaria. Esta companhia de teatro é muito conhecida Brasil a fora por sua verve de comédia, seu principal espetáculo “A Bofetada” já foi visto por milhares e milhares de pessoas. Fora da Ordem não é comédia, mas não posso chama-lo de drama, acredito que é um espetáculo engajado, conta a história de uma família e através dela mergulhamos no auge da ditadura, sofremos com a homofobia, a AIDS, o racismo e as guerras santas.

Na época dos ensaios fiquei tão contaminado com a questão da ditadura militar, principalmente quando vi as filmagens das cenas de tortura dirigidas e editadas com competência pelo Dedeco Macedo. Sim, filmagens, Fora da Ordem é uma peça que usa o recurso de projeções e também foram feitas algumas reconstituições de época. Quando parei para escrever esse post me lembrei dos muitos livros que li a respeito e que já tive a oportunidade de abandonar por aí, dentre eles Brasil Nunca Mais e O Que é Isso Companheiro.

Lamarca – O Capitão da Guerrilha é um livro fundamental para qualquer pessoa que deseja saber os meandros da época, um livro investigativo escrito pelos jornalistas Emiliano José (1946) e Oldack Miranda (1945). Começa com uma espécie de rebeldia do então primeiro-tenente Carlos Lamarca e segue reconstituindo passos. Foram muitas entrevistas, depoimentos, horas e horas e de gravações para compor a versão real, e não a oficial, da trajetória de Lamarca e como ocorreu a sua morte.

Na contracapa do livro que pretendo abandonar está escrito:

“O livro de Emiliano e Oldack realiza um mergulho no poço negro do horror fascista e ajuda a compreender por que a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita, pela punição dos torturadores e desmantelamento dos órgãos repressivos não pode ser interrompida: no livro estão os nomes de muitos dos responsáveis pelos crimes e que hoje circulam com liberdade em postos oficiais.”

Nos dias de hoje em que a Comissão da Verdade é tão ‘chapa branca’ vale a pena obter informações de várias fontes.

OBS: Fora da Ordem está em cartaz todos os domingos do mês de março, no teatro Isba, às 20h.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Garagem G2-Norte - Shopping Barra
Data: 18/04/2015

domingo, 15 de fevereiro de 2015

BOAS MANEIRAS DE A a Z


Depois que publiquei o post falando sobre o livro Na Sala com Danuza alguns amigos que me conhecem pessoalmente vieram falar sobre a história da família que relatei, recebi também e-mails sobre o assunto educação e a questão das boas maneiras que se aprende em casa. Um e-mail que recebi pediu para indicar um livro de boas maneiras que não fosse tão fashion quanto o da Danuza e estivesse mais “pé no chão”, com aspas, porque foi assim que o meu leitor escreveu.

Tenho em casa um local que separo livros por segmento que vão de dicionários, que coleciono, livros de história, técnicas de redação, etc... Onde há alguns livros de “etiqueta”, aspas por minha conta, fui direto ao livro da Célia Leão intitulado Boas Maneiras de A a Z, que ainda tem o subtítulo ‘Dicas básicas para um comportamento social adequado’. Tive a oportunidade de conhecer a Célia quando ainda morava em São Paulo e organizei um ciclo de palestras para funcionários da Embratel, incluí o tema ‘Etiqueta Corporativa’ na grade e, devido à procura, foi necessário abrir uma turma extra, foi a palestra mais concorrida e Célia acabou voltando algumas vezes à empresa mesmo sem a minha presença. Ela é uma pessoa muito simples e a meu ver uma pessoa muito requintada, sem ser esnobe, é uma pessoa extremamente divertida que usa sua experiência para disseminar, não regras, mas, como ela mesma diz: conselhos de bem viver.

Como outros livros que tenho sobre o assunto não é necessário ler da primeira à última folha, é possível ir direto ao ponto que queremos consultar e obter dicas sobre utilização de copos, talheres, envio de flores, uso de guardanapo, o que fazer ao entrar num elevador, formas de cumprimentar pessoas, autoridades políticas, eclesiásticas, ministros de estado, etc.

Mas vou ficar devendo ao meu leitor que fez a sugestão de um livro “pé no chão”, isso será praticamente impossível de se fazer. Em todos que li até hoje há sempre alguns temas quase surreais para os pobres mortais, como eu. Nesse livro há capítulos que tratam de assuntos talvez soem irrelevantes como, por exemplo: ‘Procedência’, item que deve ser observado quando você for organizar um jantar formal com lugar marcado, há de se levar em conta a idade, o sexo, posição social e posição política, necessariamente nessa ordem, para distribuir os lugares na mesa. Temos também o item Escada, que ensina a forma de subir ou descer escadas em um evento social ou no dia a dia.

Vale a pena ler, saber das coisas nunca é demais e, quem sabe, um dia poder utilizar corretamente conforme reza a cartilha das boas maneiras. O Carnaval é uma boa hora para exercitar esses conceitos, principalmente aqueles simples como: com licença, por favor e obrigado.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Cantina Volpi - Ondina
Data: 05/04/2015

domingo, 8 de fevereiro de 2015

A ÁGUIA POUSOU


Se tem uma coisa que gosto num livro é quando o autor consegue misturar fatos reais com outros ficcionais. Não que despreze os livros cem por cento ficcionais ou as biografias, longe disso, gosto mesmo é de uma boa história. Não à toa quando estava na escola lia os livros de história ou geografia como se fossem romances, volta e meia não recebia uma boa nota nas provas, principalmente quando as questões eram de múltipla escolha porque nunca fui de decorar datas ou coisas assim, portanto era capaz de saber dissertar sobre um fato histórico sem necessariamente saber o ano, o mês e o dia, a não ser que isso fosse extremamente importante para o fato. Lembro que no ensino médio tive um professor de história chamado Fábio que nos aplicava provas dissertativas, foi quando obtive as melhores notas da minha vida na matéria. Suas aulas eram conversas, ele não gostava do quadro negro e eu adorava o seu estilo despretensioso de ensinar.

O autor do livro que pretendo abandonar chama-se Harry Patterson (1929), o nome Jack Higgins que consta na capa foi um dos muitos pseudônimos usados pelo romancista britânico ao longo de sua obra. Não consegui descobrir uma razão para isso, quem souber escreve pra mim e conta, mas sua obra é muito vasta e A Águia Pousou, segundo consta, foi o seu livro mais famoso, nele o autor conta a história de uma tentativa de sequestro do Primeiro Ministro Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial.

O livro tem duas partes, a primeira é a preparação para a arrojada missão, tão secreta que nem mesmo o Almirante Canaris que era um influente chefe do Serviço Secreto alemão sabia de coisa alguma. Nessa parte todos os detalhes são muito ricos e fascinantes, além de rigorosamente autênticos. Na segunda parte, exatamente à uma hora da manhã do sábado, seis de novembro de 1943, Heinrich Himmler, o temido chefe da polícia secreta nazista, recebeu um sinal que esperava há muito tempo no seu quartel general em Berlim. Era apenas uma frase que dizia: “A Águia Pousou”. A mensagem significava que um grupo especialmente treinado de paraquedistas nazistas tinha descido sem transtornos na Inglaterra e estava a caminho de executar a perigosa tarefa de sequestrar o Primeiro Ministro Winston Churchill na sua casa de campo à beira mar onde deveria passar o fim de semana.

Como não se pode prever o imprevisto, mesmo em planos altamente organizados, este veio e interveio nos acontecimentos. A presença de um menino em um determinado lugar e hora fez com que uma cadeia de acontecimentos inesperados transformasse a pacífica região inglesa num verdadeiro campo de batalha com proporções dramáticas. Caberá ao leitor por si resolver onde está o verídico e onde está a ficção.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Museu Palacete das Artes - banco do jardim
Data: 04/04/2015

domingo, 1 de fevereiro de 2015

NA SALA COM DANUZA


Tenho pensado muito na questão da educação e ultimamente não só na educação acadêmica, mas também na educação chamada ‘de berço’, aquela que nossos pais nos ensinam em casa e por experiência própria sei que essa independe do nível de escolaridade. Ter escolaridade ajuda mas não é primordial. Tive uma babá que não sabia ler ou escrever, mas sentava-se à mesa com modos de uma princesa e nos fazia comer de garfo e faca e usar corretamente o guardanapo. Quem me conhece sabe que moro em Salvador/BA, no bairro da Barra, que recentemente foi amplamente reformado pela prefeitura. Os moradores locais aguentaram mais de 18 meses de poeira, engarrafamentos e ansiedade pelo que viria ser a nova orla da Barra.

Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Simples meu caro leitor, a obra foi entregue à população longe de estar cem por cento concluída, mas o que se vê está muito bonito, e as pessoas voltaram a circular pelas calçadas. Aproveitando que é verão, e para fortalecer minha lombar prejudicada por uma queda da escada enquanto finalizava a montagem da luz de um show, comecei a andar pela orla todos os dias e tenho visto todo tipo de falta de educação, não a acadêmica, mas a de berço. Das mais simples como jogar lixo no chão até a mais grotesca como descer até à praia e defecar nas pedras quando há banheiros públicos próximos e bem conservados.

Hoje pensei nos famosos manuais de etiqueta e boas maneiras que existem por aí, dos mais variados autores e preceitos, e me lembrei do livro Na Sala com Danuza. Não posso de imediato classifica-lo como um manual porque o estilo de escrita de Danuza está mais para crônica do que receita e sua leitura além de muito instrutiva é ainda muito atual. Apesar de publicado em 1992, quando ainda não havia a febre da internet e dos celulares, suas dicas para o uso do telefone ainda valem se aplicadas em conjunto com uma boa dose de bom senso. Suas crônicas quebram várias regras dogmáticas, exageros e modismos, somos apresentados a pequenos gestos que podem melhorar muito nosso dia a dia e a convivência com quem está à nossa volta. É justamente esse tom que ainda dá atualidade ao texto escrito no finalzinho do século passado.

Na semana passada durante minha caminhada eu vi uma cena inusitada. Uma família andava pelo calçadão quando o pai jogou uma lata de cerveja vazia no chão. A filha que devia ter uns seis anos de idade pegou a lata e disse: “Pai, no chão não, joga na lata do lixo”. Então ela caminhou uns três metros e jogou a lata na lixeira voltando toda sorridente. A mãe sorriu de volta e o pai, irritado por ter sido repreendido pela filha, deu um tapa na cabeça dela e disse: “Não envergonhe seu pai na rua sua diaba!”. A filha segurou a mão da mãe e chorou, talvez porque o tapa doeu ou talvez porque se sentiu confusa sem saber se tinha feito certo ou errado ao jogar a lata no lixo. Os três seguiram sem dizer mais nenhuma palavra. Eu fiquei parado vendo aquelas pessoas se distanciarem e me emocionei com aquela menina. Será que ela vai resistir ou vai sucumbir?

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Iemanjá
Data: 21/03/2015