domingo, 23 de fevereiro de 2014

OS INTOCÁVEIS


Acho incrível quando uma vida se transforma em arte, e mais incrível ainda é quando o dono dessa vida não é um pintor, um músico ou um ator. Eliot Ness (1903-1957) era um policial, sério, simpático, que gostava de ópera e lia Shakespeare, líder de um grupo de agentes federais incorruptíveis que a lenda denominou de “intocáveis”, e foi responsável pela derrocada do poderoso gângster conhecido nos Estados Unidos como Al Capone.

Durante os anos entre 1920 e 1933 eram proibidos a produção e comércio de bebidas alcóolicas no EUA. Nessa época surgiram os grupos que vendiam gim e outras bebidas burlando a Lei Seca, esses produtos de qualidade duvidosa atingiam preços exorbitantes e despertavam a cobiça e o poder, além do enfrentamento público com a polícia. Al Capone, o senhor de Chicago, espalhou seu poder por todo o país e escreveu com sangue seu nome na história.

Eliot Ness é autor e personagem nessa história, ao lado de Oscar Fraley escreveu um livro contando sobre os contrabandos e o grupo de homens que lutou sem trégua para esmagar o império alcóolico, terminando assim com a capacidade dos gângsteres de pagar milhões de dólares em suborno e conseguindo informações que comprovavam a sonegação de impostos levando Al Capone para a prisão.

Os Intocáveis foi adaptado e virou uma série de TV de muito sucesso no período entre 1959 a 1963. Em 1987 Brian De Palma dirigiu um filme inspirado na série de TV, com Kevin Costner interpretando Eliot Nesse e Robert De Nito como Al Capone além de Sean Connery e Andy Garcia. Eliot Ness não viveu o sucesso, reza a lenda que morreu de ataque cardíaco com uma dívida de mais de nove mil dólares resultado de um investimento numa empresa de tintas que impediria a falsificação de cheques.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Louge entrada Shopping Barra
Data: 20/04/2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

FIM


Estava no shopping quando passei pela vitrine de uma livraria e no cume de uma pilha de livros lá estava um exemplar de FIM, sua autora: Fernanda Torres (1965). Um casal ao lado, também parado mirando a vitrine, comenta entre si: “Ué! Ela escreve?”. Ouvi aquela frase e pensei com meus botões, claro que ela escreve, com os pais que tem ela deve ter sido alfabetizada com textos de teatro. E ri sozinho. Entrei na livraria e adquiri meu exemplar antes que se esgotasse.

Entendo o casal, o grande público acostumou-se a ver Fernanda Torres no cinema, adoro Eu Sei Que Vou Te Amar, Casa da Areia e Saneamento Básico, O Filme, em paralelo houve algumas novelas não muito bem sucedidas e muitas participações especiais em diversos programas até o estouro da série Os Normais, que consolidou de vez sua veia cômico histriônica. Alguns conseguiram assistir seus trabalhos no teatro, eu vi quase tudo, senão tudo que ela fez, do fatídico The Flash and Crash Days até Orlando, Da Gaivota, 5 x Comédia e os ótimos Duas Mulheres e Um Cadáver e A Casa dos Budas Ditosos, adaptação do livro do João Ubaldo Ribeiro, obra que já falei aqui no blog. Aventurar-se na literatura seria quase que um passo adiante para uma cabeça tão fulgurante como a dela.

E, vamos combinar, ela arrasou no seu livro de estreia ao contar a saga dos cinco amigos: Álvaro, Silvio, Ribeiro, Neto e Ciro. O interessante é que todos nós, desde que nascemos, sabemos que o nosso fim é a morte, entretanto Fernanda cumpre magistralmente a saga de nos mostrar o fim de todos eles e como suas vidas foram entrelaçadas. O rabugento Álvaro, o permissivo Silvio, o atlético Ribeiro, o careta Neto e o conquistador Ciro e todas as mulheres e demais personagens que os permeiam, em maior ou menor grau de importância, todos terão um fim traçado pelos pensamentos ágeis, bem humorados e melancólicos de Fernanda.

Agora, se me permite caro leitor desse blog, vou dar-lhe um modestíssimo conselho: leia o livro duas vezes, seguidas, sem dar nem um dia de trégua entre o fim da primeira leitura e o início da próxima. E na segunda fez que o ler vá desenhando uma árvore entrelaçando todos os personagens e seus respectivos fins, descobrirás uma gama imensa de coisas novas e a engenhosidade que estava na cabeça privilegiada da autora.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus - Hospital da Cidade
Data: 12/04/2014

domingo, 9 de fevereiro de 2014

STORYNHAS


Já nem sei mais quando foi que Rita Lee (1947) entrou em minha vida, também não lembro qual foi a primeira música que ouvi ou o primeiro disco que comprei, entretanto sei perfeitamente que a “Tia” Rita, roqueira por profissão e filósofa por intuição, me encanta desde sempre por suas baladinhas rock românticas. Músicas como Lança Perfume, Mania de Você, Doce Vampiro, Baila Comigo, Caso Sério, Mutante, Cor-de-Rosa Choque, Vírus do Amor, Perto do Fogo e Amor e Sexo, embalaram momentos de amor e dor em diferentes fases da minha vida.

Quando “Tia” Rita foi escalada para o programa Saia Justa (GNT) me deliciei com seus pensamentos, frases, posturas, e a cada quarta feira aprendia coisas novas ensinadas de graça e com graça pela pessoa Rita Lee e não pelo personagem ou cantora. Admiro sua personalidade e principalmente o fato de que “Tia” Rita sempre esteve antenada com o novo, lembro perfeitamente que foi através dela que eu soube que a internet existia e fiquei curioso com a ferramenta, “Tia” Rita já navegava há tempos.

Também não foi surpresa quanto “Tia” Rita resolveu publicar seus pseudo devaneios escritos no Twitter e ainda chamou o cartunista Laerte para ilustrar suas Storynhas. É tudo muito Rita Lee, que surpreende e é ao mesmo tempo tão coerente. Pequenas pérolas de humor, narrativas cômicas, críticas, ácidas, melancólicas, doces, e sabe-se lá algumas até biográficas, em se tratando de “Tia” Rita nada é impossível.

Quem achar esse livro leia-o com graça e humor, aproveite para pensar, entender as mensagens subliminares e divirta-se com o traço tão precioso do Laerte. Mas não o deixe solto por aí, “Tia” Rita avisa: “Não é pra crianças, ein?...”

Antes de terminar o post segue um pitaco do livro para seu deleite.

Rebelada
Rapunzel ouve o príncipe pedindo
q jogue as tranças. Ela andava meio puta,
estava quase careca
“esse trepa-trepa c/ meu cabelo já deu no saco”
Joga-lhe uma carta desaforada. Ele vai embora e Rapunzel
corre ligar a tv no Shopping Channel. Compra um aparelho
p/ abdominais daquele médico d Hollywood e se torna
Miss CortiCorda. Descola uma peruca
preta com uma trança postiça d gosto duvidoso.
Ñ satisfeita c/ o resultado, Rapunzel passa máquina zero
e muda o nome. Under Sun Silva.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Café da Loja Kopenhagem - Shopping Barra
Data: 12/04/2014

domingo, 2 de fevereiro de 2014

DANIELA & MALU - UMA HISTÓRIA DE AMOR


Fazendo um breve retrospecto não posso deixar de afirmar que 2013 foi um ano gay, ou de maior visibilidade gay desde que me entendo por gente. Todos os manifestos, contra e a favor, pela indicação do Sr. Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o personagem Félix da tosca novela Amor à Vida ultrapassou as barreiras das maldades cometidas, caiu no gosto popular e ganhou uma redenção com direito ao primeiro beijo gay nas telenovelas da Globo. Percebi que o personagem gay da trama tinha ganhado uma notoriedade diferente de todos os outros gays de novelas anteriores quando rapaz que faz a manutenção do ar condicionado daqui de casa me contou que no bairro dele a hora da novela era sagrada, que até o futebol da quadra parava e todo mundo ia pra casa ver o Félix.

Entre os dois fatos citados acima houve a revelação midiática da cantora Daniela Mercury que assumiu pelo Instagram seu romance com a jornalista Malu Verçosa. Corajosas essas meninas, lembrei de quando o cantor Edson Cordeiro assumiu publicamente sua homossexualidade e a MTV da época vetou seus clips, foi horrível. Várias entrevistas para a TV, rádio, capas e capas de revistas depois: Veja, Época, TPm, Caras, Contigo, etc... Elas resolvem contar sua versão da história num livro.

Ao acabar de ler a obra percebo claramente que o livro é da Malu, contando sua versão da história com foco somente no amor das duas e de como suas vidas foram afetadas por ele. Daniela faz participações no livro, mas não passa despercebida, são belos poemas e rabiscados relatos dos fatos vividos, também com foco no amor incondicional que nutre pela atual esposa. Começamos a conhecer os fatos a partir da viagem a Portugal quando, já namorando, tomam a decisão de não viver escondido e à mercê dos jornalistas de fofocas, e vamos até o casamento em grande estilo com direito a show particular, preparativos, vestidos de noiva e uma bela festa que, claro, foi capa da revista Caras.

Com exceção de um ou outro comentário sobre o preconceito e as questões gays, o relato de Malu é feito como num comercial de margarina, não sei se foi intencional das duas em publicar um livro brando, mas confesso que senti falta de mais profundidade e reflexões. Talvez para uma próxima publicação já que Malu escreve muito bem e narra tudo de forma muito eficiente.

É um livro que merece ser lido, e cada um que saiba o que fazer depois com as informações.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante RAMA - Barra
Data: 05/04/2014