domingo, 19 de dezembro de 2010
MORTE E VIDA SEVERINA
Num domingo em que acordei cedo e o sol já está lindo lá fora eu decidi abandonar um livro de poemas, literatura da melhor qualidade, e escolho uma coletânea do João Cabral de Melo Neto (1920-1999). É um livro que contem quatro obras deste autor pernambucano que causa certo estranhamento a quem espera uma poesia apenas emotiva.
O livro começa com “O Rio”, ganhador do prêmio de poesia do IV Centenário de São Paulo, o poema se desenvolve através de uma narrativa de cunho social e geográfica na qual o rio Capibaribe, da sua nascente até a sua foz em Recife, vai presenciando as transformações que a paisagem natural e a humana lhe apresentam até desaparecer no mar.
Depois vamos para “Dois Parlamentos”, um libelo que se compõe de um par de discursos poéticos, em ritmo dual segundo os especialistas, sobre os temas do cemitério sertanejo e do trabalhador de engenhos, ambos com a riqueza de metáforas inusitadas e a construção cerrada tão característica do autor.
Aí vamos para “Auto do Frade”, poema dramático baseado nas circunstâncias da execução de Frei Caneca após a derrota da Confederação do Equador. A constante transformação poética da realidade pernambucana atinge a dimensão da história narrada admiravelmente pela costumeira maestria do autor na intricada rede de emoções humanas envolvidas no episódio.
Por fim leremos “Morte e Vida Severina”, um poema já definitivamente incorporado à sensibilidade nacional, lido, relido, representado, proibido, liberado, musicado e televisionado. Se você tem mais de 30 anos deve lembrar-se do especial da TV Globo com uma Elba Ramalho feiíssima e maltrapilha cantando as versões que Chico Buarque compôs, e das atuações memoráveis de Tânia Alves e do excelente José Dumont no papel de Severino. Se quiser conferir vá até o YouTube, lá tem muitas cenas, se jogue.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de Ônibus - Av. Anita Garibaldi
Data: 19/03/2011
domingo, 12 de dezembro de 2010
LOLITA
Não se assuste com o nome do autor desse livro, Vladimir Nabokov (1899-1977). É russo, mas sua literatura nada se aproxima dos tratados do Kremlin, muito pelo contrário, é uma escrita irreverente e refinada, uma aventura intelectual que não te deixará indiferente, amarás ou odiarás esse relato apaixonado, de uma sensualidade alucinada, que o tornou uma das obras mais polêmicas da literatura contemporânea universal, figurinha fácil em qualquer lista de livros que você deve ler antes de morrer.
Muito arrojado para a moral vigente na época o romance foi recusado por várias editoras até que em 1955 foi lançado por uma editora parisiense. Houve quem o definisse como um dos melhores do ano e houve quem o considerasse pornografia pura. Visto hoje, filtrado pelos anos e por uma verdadeira biblioteca de comentários e críticas, em tempos de BBB, mulheres frutas e casos de pedofilia até na cúria católica, Lolita parece sobretudo uma apaixonada história de amor. O romance é narrado em primeira pessoa pelo protagonista Humbert, professor de poesia, homem de meia-idade obsessivo e cínico, num misto de confissão e memória ele conta a irreprimível e desastrosa atração por Dolores, garota perversamente ingênua, filha de doze anos de sua senhoria, a quem ele apelidou de Lolita.
A química se faz entre os dois e dá origem a uma obra instigante onde se cruzam temas clássicos da literatura, e porque não dizer, das artes, como: paixão, juventude, amadurecimento. A trama que envolve os dois personagens escapa do simples desejo sexual e resvala na questão do tempo. O tempo que retardou, no professor, o tempo que acelerou, na garota, a paixão que ambos nunca sentiram, condicionados pelas circunstâncias da época, falamos de 1955, que esboçava derrubar tabus milenares da burguesia já fracassada. Não à toa o livro foi incorporado ao imaginário coletivo e o nome da personagem tornou-se gíria de natureza sexual, lolita e ninfeta são substantivos recorrentes até hoje para menores de idade sexualmente atraentes, prova do alcance da genialidade do autor.
Lolita teve duas versões cinematográficas, a primeira em 1962 realizada por Stanley Kubrick e a outra em 1997 por Adrian Lyne, mas não se deixe levar pelo caminho mais fácil, a meu ver nenhuma delas chega aos pés da técnica e do envolvimento que o livro traz.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Fórum Ruy Barbosa - 1º Piso
Data: 07/02/2011
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
200 CRÔNICAS ESCOLHIDAS
Uma vez li no blog do Roberto Camargo um post intitulado ‘Musicas que combinam com praia’ (Fev/2010) e fiquei a pensar em quais livros combinariam com praia. Como eu gosto de ler e livro faz parte do meu cotidiano, tenho a capacidade de ler até quatro livros ao mesmo tempo, não cheguei a uma conclusão específica na época. Recentemente, no mesmo blog, o Roberto escreveu um post intitulado ‘Uma Praia Distante & Deserta’ em ele faz uma alusão à leitura na praia. Não me contive e pensei especificamente no que diz o post “Um livro, de preferência de contos ou crônicas, que, se cansar, dá para interromper a leitura a qualquer momento”. Pensei melhor no assunto e cheguei à conclusão de que crônicas e contos são os mais recomendados para essas ocasiões. Morador de Salvador/BA, distante três minutos a pé da praia do Porto da Barra, onde a aglomeração é imensa e a quantidade de informações é tamanha, eu garanto que não há estilo melhor para ler sem perder a concentração.
Pensando nisso, uma vez que o verão já chegou por aqui, se é que algum dia ele foi embora, resolvi abandonar um livro do Rubem Braga (1913-1990). Capixaba, nascido em Cachoeiro do Itapemirim, Rubem começou a ter seus textos publicados no jornal Diário da Tarde em Belo Horizonte quando ainda era um estudante. Mais tarde escreveu em diversos jornais e revistas do Brasil quando morou em São Paulo, Recife, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
200 Crônicas Escolhidas é uma reunião dos melhores textos produzidos por Rubem Braga entre 1935 e 1977. A escolha das crônicas foi feita pelo próprio autor com base numa seleção organizada pelo amigo Fernando Sabino. Abordando sempre assuntos do dia a dia, falando de si mesmo, da sua infância, mocidade, primeiros amores, com predileção especial pelas coisas da natureza, o amor e a exaltação à mulher, Rubem tem a capacidade de impregnar tudo que escreve de um grande amor à vida simples. Nunca deixou de escrever regularmente suas crônicas para jornais e revistas constituindo ai um verdadeiro fenômeno: o de ser o único (que me perdoem se houver outros) escritor a conquistar um lugar definitivo na nossa literatura exclusivamente como cronista.
E se vocês me dão licença, vou dar um mergulho no mar porque hoje é feriado aqui e está fazendo um lindo dia de sol.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Fórum Rui Barbosa - 2º Piso
Data: 07/02/2011
domingo, 28 de novembro de 2010
A DOR
“Como pude escrever isto, que não sei nomear e que me assombra quando releio?” Essa frase é da Marguerite Duras (1914-1996), autora do livro após seu lançamento, uma grande escritora, diretora e roteirista de filmes, se você não assistiu ‘Hiroxima, Meu Amor’ tens aí uma falha no seu currículo cinematográfico.
Este livro é composto de vários textos, a grande maioria deles baseados em fatos verídicos, por vezes escritos nos mínimos detalhes, uma vez que A Dor expõe facetas diversas de acontecimentos envolvendo a participação da autora na Segunda Guerra Mundial quando militava na Resistência e era membro do Partido Comunista Francês.
Mas não pense tratar-se de um livro político, ou histórico político, ele é para mim uma grande história de amor e acho que vem daí a origem do título. Ela nos conta a história do seu amor por Robert L., prisioneiro num campo de concentração nazista e que talvez esteja morto no fundo de uma vala. A história é de uma imensa e obstinada espera pelos homens que voltam da guerra e aborda com muito despojamento e realismo, para não dizer crueza, o estranho relacionamento entre a mulher do militante prisioneiro e o agente da Gestapo que o prendeu.
Em alguns trechos o livro me lembra muito o filme ‘Hiroxima, Meu Amor’, com uma autora engajada desvendando por vezes passagens e aspectos políticos bem interessantes relacionados com o conflito mundial, contando inclusive sobre o dia que ela teve em suas mãos a vida do presidente francês François Mitterrand quando era chefe da Resistência.
Duras escreveu A Dor aos 71 anos e talvez por isso seja uma obra carregada de emoção e quem o lê se deixa marcar de forma indelével.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus - Av. ACM - Em frente a clínica Delta
Data: 23/01/2011
domingo, 21 de novembro de 2010
CORRIDA VERTICAL
Esse é um livro thriller. Surpresos? Pois é, eles existem, e atualmente Dan Brown e os seus códigos templários são o melhor exemplo disso. Livro thriller é aquele em que o autor não deixa você respirar e é quase impossível parar de ler, os ganchos de final de capítulo o levam a começar o próximo e por aí vai.
Corrida vertical conta a história de David Elliot, um executivo bem sucedido que, numa manhã comum de trabalho, vê seu chefe entrar inesperadamente em sua sala, arma em punho, pronto para matá-lo. Sem ter tempo sequer para pensar Elliot consegue fugir dos tiros, mas, no decorrer desse longo dia percebe que sua vida está por um fio. Sua esposa, filho, amigos, estão todos unidos pelo objetivo único de matá-lo e ele é alvo também de uma equipe de atiradores de elite que vasculham os 50 andares do prédio onde trabalha à sua procura. Sua vida virou de ponta cabeça. Para sobreviver, só pode contar com sua experiência de guerra dos tempos do Vietnã.
O que faz um homem comum o alvo de todos? Qual o crime que cometeu? Com uma narrativa que flui como um rastilho de pólvora a pergunta intrigante permanece, por que David Elliot é um homem marcado para morrer? Se você gosta de emoção e adrenalina respire fundo e prepare-se, em menos de 24 horas Elliot pode estar morto.
Este é um bom livro, não precisamos pensar, é só se entregar às armadilhas e intrigas que ameaçam a vida do protagonista. Mas não recomendo ler à noite caso você tenha comprimisso no dia seguinte bem cedo. Esse é do tipo de livro que fará você varar a madrugada.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus - UFBA Ondina - Av. Anita Garibaldi
Data: 23/01/2011
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
ALMOÇO NU
Este livro tem é história e muitas referências, seu autor William S Burroughs (1914-1997) ficou conhecido mundialmente após o lançamento de Naked Lunch, ou, Almoço Nu na versão brasileira. É um livro muito enigmático com imagens e situações que ao poucos se tornam familiares ao leitor que é transportado de uma espelunca urbana cheia de viciados para uma floresta, e depois para uma cidade que mais parece uma visão paranóica das metrópoles mundiais de hoje em dia. O livro foi lançado em meados de 1959 e a paranóia das drogas já estava na literatura da chamada “geração beat”, esta obra foi uma das precursoras da libertação editorial dos EUA na década de 60 do século passado.
Homossexual assumido após o falecimento da sua esposa em função de um acidente com uma arma de fogo, Burroughs imprimiu seu estilo criando uma atmosfera fantástica e grotesca, sempre com um cunho autobiográfico e com uma linguagem proveniente de fluxos de consciência durante o uso de alucinógenos.
Embora muitos críticos não gostem do vínculo de Burroughs com a onda “beat”, é impossível não associar Almoço Nu ao movimento cujo termo é usado para descrever artistas e poetas que levavam uma vida nômade ou fundavam comunidades, e foram, desta forma, o embrião do movimento hippie. Muitos remanescentes hippies se auto intitulavam beatnicks e um dos principais porta-vozes pop, John Lennon, se inspirou na palavra “beat” para batizar o seu grupo musical, The BEATles.
Vale à pena a leitura desse livro que é um marco de um movimento maior, hoje chamado de ‘contracultura’.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus - Av. Magalhães Neto - Em frente ao colégio Módulo
Data: 14/01/2011
domingo, 7 de novembro de 2010
OS SOBREVIVENTES
Estava eu em meados de 1982 aguardando a revista do Círculo do Livro que viria com o lançamento de “Os Sobreviventes – A Tragédia dos Andes”, era o “livro do ano”, todo mundo queria ler sobre o relato do acidente ocorrido dez anos antes com o avião Fairchild F-227 da Força Aérea Uruguaia na Cordilheira dos Andes.
A boataria cercava o livro e muitos que já tinham lido o achavam por demais mentiroso e romanceado, outros alegavam ser a mais pura verdade e isso alimentava as rodas de conversas. Eu estava nos meus precoces 19 anos de vida e, como vocês que acompanham o blog já sabem, sou um cara curioso com histórias.
O que mais me impressionou no livro não foi a catástrofe da queda do avião e nem as expedições de busca pelas montanhas geladas, exploradas pelo cinema no lançamento do filme homônimo, mas a maneira como o autor Piers Paul Read narra as angústias e os dilemas do grupo em sua luta pela sobrevivência. Principalmente a questão do canibalismo, fato que correu mundo e despertou as mais diversas controvérsias; das religiosas às nutricionais, passando pela judiciária e ética. A grande dúvida se deveriam alimentar-se dos passageiros mortos no acidente ou morrer de fome. Os diálogos e as discussões relativas ao assunto é o mais interessante da obra escrita porque não há tempo pra isso nos filmes.
O livro vale pela narrativa e é o primeiro da seção aventura que abandono, mas não se empolgue achando tratar-se de um “blockbuster”, longe disso, você terá muita coisa pra pensar depois da última página.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Spaghetti Lilás - Alameda Antunes
Data: 09/01/2011
terça-feira, 2 de novembro de 2010
UM INSTANTE NA VIDA DO OUTRO
“E que seja perdido o dia em que não se dançou uma única vez! E que seja falsa para nós cada verdade perto da qual não tenha havido pelo menos uma gargalhada.” Nietzsche
Assim, com essa citação, Maurice Béjart (1927-2007) abre seu livro de memórias. É mais um livro biografia/memórias que abandonarei, e com o tempo vocês perceberão que serão muitos, porque gosto de ler biografias, mesmo as inacabadas ou não autorizadas. Não sou uma das irmãs Cajazeiras, mas sou chegado em histórias da vida alheia, de histórias reais, mesmo que às vezes elas pareçam por demais romanceadas, resultado da licença poética de quem as escreve ou estado de espírito de quem as lê.
Conheci a obra de Maurice Béjart em 1980 ao assistir o filme Retratos da Vida (Les uns et lês autres) do diretor Claude Lelouch, inspirada pela música de Maurice Ravel e brilhantemente reproduzida pelo bailarino Jorge Donn, sua coreografia Bolero encerra o filme. Quem viu o filme não conseguiu passar imune à cena final, a sutileza da música num crescente, os movimentos leves, sensuais, transformando-se em fortes, vigorosos, a inovação dos movimentos criados para um bailarino num palco circular são o fruto da genialidade de um coreografo ousado e inovador. A partir daí minha curiosidade sobre o autor da obra foi aguçada e culminou com a leitura do livro. Nele conheci o gênio da dança experimentando o desafio de falar de si, e em alguns momentos de se confessar, pois este livro nada mais é do que uma série de confidências. Béjart conta sobre sua fonte de inspiração primordial: a infância e os sonhos, explica como nasceu sua vocação, fato de certo modo ligado à morte de sua mãe quando ele ainda tinha sete anos, até o difícil nascimento dos seus primeiros balés: Symphonie pour un homme seul, Orphée, Nijinski, Bolero, Romeu e Julieta, Sagração da Primavera, e tantos outros, o medo do fracasso, sua irrequieta relação com Deus e a incessante busca do amor.
“Perde-se a guerra, o dinheiro, os amigos. Perdem-se as ilusões, os cabelos, o rosto. Frequentemente perde-se a cabeça. Perde-se também a fé. Mas o tempo nunca se perde.” (Pag. 174)
Meus amigos Weidy e Mari, cuja dança está na alma, espero que um dia vocês achem esse livro.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Teatro ISBA
Data: 07/01/2011
domingo, 24 de outubro de 2010
A TRAIÇÃO DE RITA HAYWORTH
Este foi o primeiro livro escrito pelo argentino Manuel Puig (1932/1990). Muitos aqui no Brasil acham que ele só escreveu ‘O Beijo da Mulher Aranha’ por causa da repercussão do filme dirigido pelo Hector Babenco, com Sônia Braga na fase belíssima, mas com um inglês horrível, e o Oscar de Melhor Ator (1986) para William Hurt pela atuação impecável no personagem homossexual Molina. Além do filme também houve o musical estrelado por Cláudia Raia, Miguel Falabella e Tuca Andrada em 2001, quando musicais no Brasil fora do estilo chanchada eram quase remotos. Ambos adaptados pelo próprio Manuel. Na Argentina sua obra mais famosa foi ‘The Buenos Aires Afair’, censurada pelo governo logo após sua publicação fez com que Manuel fosse morar no México face às inúmeras ameaças que recebeu.
Escrito originalmente como roteiro para o cinema e publicado como livro em 1968, A Traição de Rita Hayworth já mostra o estilo de Manuel Puig na construção da sua narrativa de formas até então inusitadas como: conversas telefônicas, cartas, diários, redações e diálogos de filmes. É um relato quase autobiográfico que analisa a influência dos filmes da década de 30 a 40 do século passado no dia a dia de uma pequena cidade da Argentina. Essa correlação do cinema com a vida das pessoas é uma marca singular da obra do autor e já nesse livro é muito marcante. Isso o tornaria um vanguardista de um movimento subterrâneo, silencioso e infrator que subverteria a indústria cultural cinematográfica norte-americana intitulado pela escritora Susan Sontag como ‘Camp’.
A Traição de Rita Hayworth, que também chegou a ter problemas com a censura na Argentina, alcançou relativo sucesso na Espanha, Itália e nos Estados Unidos, mas passou quase despercebido no Brasil. Na França seu sucesso foi imediato, muito bem acolhido pela crítica e público, sendo incluído pelo jornal Le Monde na lista dos cinco melhor livros estrangeiros publicados no fim dos anos 60.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Farmácia Bompreço - Loja do supermercado do Chame Chame
Data: 24/12/2010
domingo, 17 de outubro de 2010
ELENI
Este é o vigésimo livro que pretendo abandonar, por isso escolhi Eleni, de Nicholas Gage. Eleni é tragédia grega no seu sentido mais tocante. É uma narrativa esmerada e profundamente humana, uma história pessoal e ao mesmo tempo universal por tratar-se da escolha de uma mãe pelos seus filhos. Mas calma aê, não se trata de uma copia de A Escolha de Sofia, obra que foi filmada e projetou Meryl Streep ao patamar de diva do cinema mundial.
A história do livro é escrita pelo filho de Eleni, Nikola Gatzoyiannis, repórter do New York Times, que tem a oportunidade de realizar o plano da sua via: investigar a fundo a vida e a morte de Eleni Gatsoyiannis, fuzilada aos 41 anos de idade pelos guerrilheiros comunistas gregos. Na sede por vingar a morte da sua mãe ele entrevista mais de 400 pessoas que a conheceram, ou que, de algum modo, estavam ligadas à sua vida e a sua morte. Consultou diários, cartas, relatórios e mapas militares, juntou a isso suas próprias recordações e as das suas irmãs para voltar aos anos 20 do século passado e a partir desse mote descrever como era a vida em Lia, pequena aldeia grega perdida no alto das montanhas de Mourgana, perto da fronteira com a Albânia, seus costumes, tradições, ritos de nascimentos, casamentos e funerais, ofícios religiosos, a vida pastoril dura e primitiva que é completamente alterada com o advento da Segunda Guerra Mundial, a ocupação italiana, depois a alemã, e a guerra civil com todas as suas atrocidades que dilaceraram a Grécia por tantos anos e que custaram muitas vidas.
Desse relato surge a personagem Eleni que, apesar de toda a sua formação aldeã, criada num meio dominado por tradições e superstições, tudo superou por amor aos filhos. Eleni consegue que quatro dos seus cinco filhos saíssem do inferno que se tornou a vida na aldeia e fugissem para a América, pagou por isso com a vida. Mas até o fim, apesar das torturas que sofreu, Eleni conservou a firmeza e a nobreza dos seus sentimentos, suas últimas palavras registradas foram de amor aos filhos e não de vingança contra seus carrascos, e é essa atitude que irá mudar radicalmente as pretensões de Nikola, causando um desfecho inesperado no livro.
O livro é um tijolão, são quase 500 páginas, mas não se assuste, comece a ler, os bons livros entretêm e você ri, chora, e quando percebe já acabou.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Digerir
Data: 20/12/2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
O EXORCISTA
Em 2011 o livro O Exorcista completará 40 anos. Desde o lançamento da primeira edição em 1971, passando pela estréia do filme homônimo em 1973, e suas duvidosas sequências, além de outros tantos livros decorrentes do primeiro, não houve uma publicação na categoria terror/thriller que suscitasse tantas polêmicas que vão desde como a Igreja Católica considera o Demônio, a acusação de que o autor explorava pornografia com crianças, o que valeu quase um ano de interdição pela censura brasileira ainda sob rédeas da ditadura militar sob o argumento de obra caluniosa, até uma pretensa maldição para o elenco que quase levou ladeira abaixo a carreira de Linda Blair, atriz mirim que interpretou a possuída Regan MacNeil.
A história é quase banal para os dias de hoje, durante escavações arqueológicas uma antiga estátua é encontrada e a partir daí um demônio chamadao Papazu é libertado. Longe dali uma jovem, aos poucos, começa a sofrer drásticas alterações de comportamento. Após fracassados tratamentos médicos e psiquiátricos a mãe de Regan pede ajuda ao padre Damien, também psiquiatra, e que naquele momento atravessa um conflito íntimo com a falta de fé. Para ajuda-lo o bispo local nomeia o padre Merrin para o ato religioso e a partir daí comecam os confrontos entre o demônio e os sacerdotes. No livro, o relato envolvendo sexo, vômitos e escatologia são fortes, mas não são as principais cenas como o roteiro do filme salienta, no livro o mais importante é o embate entre fé e descrença, esse é o mote da obra que muitos duvidam até hoje se foram baseadas em fatos reais ou não.
Polêmico para a época, motivo de ataques veementes e injuriosos dos mais reacionarios já que toca em um assunto tabu que é a religião, e a crença ou não aos dogmas e santos, o livro foi publicado no Brasil pela Editora Nova Fronteira e com o sucesso nas vendas os lucros puderam patrocinar o lançamento da primeira edição do Dicionário Aurélio. Os fins justificam os meios?
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Botequim Café - Salvador Shopping
Data: 27/11/2010
sábado, 9 de outubro de 2010
ED MORT E OUTRAS HISTÓRIAS
Luis Fernando Verissimo, sim o filho do não menos grande Erico Verissimo (Olhai os Lírios do Campo, O Tempo e o Vento, etc.), pai de Mariana Verissimo (Retrato Falado, Sexo Frágil, etc.), uma querida amiga que conheci quando morava em São Paulo, é um senhor escritor, e quando digo ‘senhor’ não me refiro aos seus 73 anos de vida, mas ao fato de ter lançado inúmeras obras como cronista, romancista, autor de peças de teatro, chargista e roteirista, desde os anos 50 do século passado. Antigo? Não, muito pelo contrário, atualíssimo, engraçado, político e dinâmico, com um arsenal de personagens que ficaram famosos como O Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, As Cobras e Ed Mort.
Estou preparando o abandodo de Ed Mort e Outras Histórias, livro coletânia de crônicas lançado pela Editora LP&M em 1979 que imortalizaria e popularizaria ainda mais esse detetive trapalhão, de língua afiada, coração mole e sem um tostão no bolso, que se mete em todo tipo de encrencas e convive com 17 baratas e um rato albino chamado Voltaire. O livro é excelente e garante umas boas risadas com textos rápidos e sacadas muito inteligentes, afinal, esse detetive carioca tem sempre em mãos casos esdruxulos e inusitados.
Ed Mort virou filme dirigido por Alain Fresnot, com Paulo Betti no papel principal, virou também um especial de fim de ano da TV Globo com Luis Fernando Guimarães interpretando Ed, e também foi adaptado para o teatro em 1993, com atuação de Nizo Neto, baseado no episódio Procurando Silva, um clássico das aventuras de Ed Mort.
Tá bom ou quer mais?
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Lounge Térreo
Data: 27/11/2010
domingo, 19 de setembro de 2010
GRRRLS - GAROTAS IRADAS
A autora desse livro chama-se Vange Leonel, e quem só lembra dela por causa da música Noite Preta, que embalou a abertura da novela Vamp no ano de 1991, está bem defasado. Isso porque Vange Leonel além de cantora é blogueira, autora de peças de teatro, compositora, novelista, colunista e excelente escritora.
Lançado em 2001, Grrrls - Garotas Iradas é o seu segundo livro, uma coletânia de textos publicados pela extinta revista Sui Generis e outros inéditos, que reune cultura e pesquisa histórica, sem perder o bom humor e um lado panfletário, claro, para quem não sabe Vange é uma pós-feminista irônica e lésbica assumida, e como bem escreve Fernando Bonassi na apresentação do livro: “Vange, como poucas e poucos, faz da sexualidade (de todos nós) expressão cultural, sabendo que seu conhecimento passa por investigação e experiência, mas também é arte: é música, é teatro, é dança... é uma delícia!”. Eu tembém acho.
Ela nos faz rir de alguns hábitos da cultura gay contemporânea, fala sobre personagens históricas emblemáticas, como Joana D´Arc, Safo, Virginia Wolf, Nathalie Barnes, analisa de forma bem-humorada a cultura pop e seus personagens, da heroína Xena à boneca da Maria Bethânia, entre outros assuntos, em textos curtos e inteligentes que podem ser lidos sem respeitar a ordem do livro.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Espaço Unibanco de Cinema
Data: 21/11/2010
domingo, 12 de setembro de 2010
UMA HISTÓRIA DE AMOR
Estamos em setembro de 2011, daqui a pouco já é primavera, por isso pensei em falar de amor. Piegas? Pode ser, mas sou canceriano e todo canceriano é apaixonado, não importa a estação do ano, mas na primavera isso fica mais sugestivo. Daí a minha escolha em abandonar o livro Uma História de Amor, que ficou conhecido pelo filme que se chama Love Story. Um dado interessante é que o autor Erich Segal escreveu a história para o cinema, e só após o filme adaptou-a para livro, o inverso do que acontece hoje em dia.
Tanto o livro como o filme começam com a seguinte frase “Que se pode dizer de uma moça de vinte e cinco anos que morreu? Que era bela. E brilhante. Que gostava de Mozart e Bach. E dos Beatles. E de mim.” A partir daí veremos uma versão Romeu e Julieta atualizada, um jovem de família muito rica e estudante de Direito conhece e se apaixona por uma estudante de Música e acabam se casando. Porém, o pai do rapaz não aceita a nora, por ela ser uma moça de família humilde, e acaba deserdando o filho. Algum tempo depois, a moça tenta engravidar e não consegue, vai então fazer exames e descobre que está gravemente doente. No lançamento do filme e livro a crítica o taxou de “tragédia lacrimejante”, mas depois rendeu-se e hoje a história de Jennifer e Oliver ainda é considerada uma das melhores histórias de amor já escritas, e um dos melhores filmes românticos de todos os tempos.
Atenção, mais uma vez vale a pena ler o livro e depois ver o filme, com o conhecimento da história você estará mais ligado nos outros sentidos, percebendo a boa fotografia, a atuação magistral de Ali MacGraw e a belíssima trilha sonora que venceu o Oscar de 1971. Ah, e se você quer entrar no clima enquanto lê, ouça a musica tema Love Stoy, de Francis Lay, isso vai embalar os diálogos e as cenas mais importantes.
E quando chegar perto da página 189 (na edição que abandono é assim) vai pegar um lenço, na hora em que Oliver disser “Amar é nunca ter que pedir perdão”, você vai precisar.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ceasa - Rio Vermelho
Data: 20/11/2010
terça-feira, 31 de agosto de 2010
O CORTIÇO
Muitos críticos dizem que o personagem principal desta obra prima de Aluísio de Azevedo não é de carne e osso, nem mesmo quando lemos toda a saga de João Romão, português bronco, ambicioso e trambiqueiro, que dorme do balcão da quitanda e come as verduras que estão por apodrecer para não gastar um centavo do que ganha, e que se apropria dos poucos recursos da escrava Bertoleza até construir suas casinhas e dar início a sua escalada para a riqueza. A negra também não serve como heroína, apesar do final primoroso do personagem, bem no estilo naturalista do autor, e nem a sensual Rita Baiana e o seu trágico e tórrido romance com Jeronimo, português recém chegado que larga descaradamente a esposa, foge com Rita e ainda manda matar a pauladas o companheiro dela. Também não é protagonista a história de Pombinha, afilhada da prostituta Leone, moça virgem e prometida a João da Costa, a única que sabe da vida de todos, por ser uma das poucas alfabetizadas dedica-se a ler e escrever cartas para os vizinhos, tomando consciência das mazelas e da podridão humana. Temos também as histórias de Albino, Machona, seu Botelho, Neném e outros. Chegamos então à conclusão de que a vida contada no livro é a do próprio Cortiço, eleito personagem principal da obra, e não de seu dono ou de qualquer um de seus infelizes moradores. Vale a leitura, é um clássico, pena que é um livro muito recomendado em vestibulares e por professores do segundo grau, e, convenhamos, nessa época não temos maturidade para perceber as linhas naturalistas de Aluísio de Azevedo e todas as suas nuances.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Supermercado Hiper Ideal - Barra
Data: 20/11/2010
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
A CASA DOS ESPÍRITOS
Vamos falar de um bestseller internacional, um clássico da literatura latino americana, aclamado pela crítica e transformado num belo filme recheado de estrelas internacionais como Meryl Streep, Jeremy Irons, Glenn Close, Winona Ryder e Antonio Banderas. A autora, Isabel Allende, conta a saga da numerosa e turbulenta família Trueba, com seu patriarca angustiado e suas mulheres clarividentes. O livro é uma grande saga e poderia ser um livro infinito, com muitos e muitos volumes, em virtude da narrativa vertiginosa que Isabel imprime e que parece alimentar-se de si mesma a cada nova geração que surge, cada casamento, filhos, netos e por ai vai. Mas não se espante, nesta edição com capa dura que abandono, o livro tem pouco mais de 360 páginas.
Lançado em 1982 o livro tem um toque de realismo fantástico, típico da escrita de Isabel Allende, e para quem não está ligando o nome a pessoa, ela é sobrinha do ex-presidente chileno Salvador Allende, e talvez por isso consiga imprimir como pano de fundo um panorama da história chilena que vai de 1905 até 1975, são quatro gerações da família Trueba que começa por Esteban Trueba, nasceu pobre e enriqueceu, transformou-se num latifundiário e depois senador, casa-se com Clara, uma mulher clarividente e responsável por passagens maravilhosas no livro, Blanca, filha do casal que apaixona-se por um sindicalista radical e Alba, neta de Esteban, socialista e, portanto, adversária do patriarca. Um novelão!
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Supermercado Extra - Vasco da Gama
Data: 06/11/2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
Acusado por Ângela Vicário de tê-la desonrado, o jovem Santiago Nasar será morto a facadas pelos irmãos dela, os gêmeos Pedro e Pablo. Toda a vila está sabendo da vingança iminente, mas nada salvará Santiago de seu trágico destino anunciado logo à primeira linha do romance. Este é um livro curto, de construção perfeita, e o Gabriel García Márquez monta um quebra-cabeça cujas peças vão se encaixando pouco a pouco, através da superposição das versões de testemunhas que estiveram próximas a Santiago Nasar no último dia de sua vida.
Pelo fato de revelar logo na primeira linha que Santiago vai morrer o autor tem um desafio de nos manter interessados nestas últimas horas de vida do personagem. O que dota o livro de uma grandeza trágica é que o narrador adverte, e faz isso de forma contínua, que os assassinos não querem matar Santiago, embora tenham de fazê-lo, que toda a vila sabe o que vai acontecer, mas não faz nada para impedir, e a vítima é o único inocente na história.
García Márquez é um mestre em conduzir um relato só com a força das palavras, já que o leitor sabe como o livro termina e mesmo assim não consegue deixar de ler. Ele nos instiga a saber como o fato vai ocorrer, como se estivéssemos num imenso Big Brother embora o ano de lançamento seja 1981 e nem sonhávamos com esse jogo midiático. Com o tempo percebemos que a “fatalidade” é a personagem central do romance, uma personagem indiscutida, se é que existe essa palavra, mas que comanda a vida dos homens, nos livros ou na vida.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça Almeida Couto - Praça da Biblioteca Monteiro Lobato
Data: 11/10/2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
MUTAÇÕES
Liv Ullmann é uma atriz, a meu ver uma boa atriz, é muito bom vê-la em filmes como Cenas de um Casamento, Gritos e Sussurros e principalmente Sonata de Outono.
Mas Liv Ullmann também é uma escritora; Mutações (1975) e Opções (1985). Estou abandonando Mutações, um livro pessoalíssimo, que ela escreve com total e tocante honestidade a respeito de ser mulher, mãe e atriz, a pessoa que aparece é uma mulher complexa, irrequieta, para a qual somos atraídos pelos seus relatos e pensamentos. Ela nos deixa entrar em seu mundo e em seus sentimentos, e nos mostra momentos cruciais de sua vida, expondo suas idéias e emoções.
Vejam aqui um trecho que está na página 12 do livro, logo no início ela já revela o que nos espera.
“Examinando, retrospectivamente, o que lembro dos meus sonhos de infância, vejo que se parecem com muitos que ainda tenho, mas não vivo mais como se eles fossem parte da realidade.”
Mutações é quase uma autobiografia, já que não há como saber o que é ficção e o que é realidade, um livro incomum porque não depende da celebridade da autora para demonstrar sua força.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Av. Magalhães Neto - Praça do Coco Bahia
Data: 17/10/2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
PRIMO ALTAMIRANDO E ELAS
Sérgio Marcos Rangel Porto era o cidadão, Stanislaw Ponte Preta era o pseudônimo usado por Sérgio para escrever suas crônicas em jornais e revistas (Última Hora, Manchete, Fatos e Fotos), desfilar seu humor em programas de TV e rádio, escrever livros e peças de teatro. Com seu jeito irônico e muito bem humorado Stanislaw era um mestre das comparações enfáticas:
"Mais assanhado do que bode velho no cercado das cabritas"
"Mais duro do que nádega de estátua"
"Mais feia do que mudança de pobre"
"Mais murcho do que boca de velha"
Na mesma época (1954) em que o jornalista Jacinto de Thormes publicou na revista Manchete a lista das "Mulheres Mais Bem Vestidas do Ano", Stanislaw, que escrevia na mesma revista sobre teatro-rebolado, não quis ficar por baixo e inventou a lista das "Mulheres Mais Bem Despidas do Ano". Com o protesto das mães das vedetes, passou a usar uma expressão ouvida de seu pai — "Olha só que moça mais certa" a partir daí estavam criadas as "certinhas" do Lalau. De 1954 a 1968 foram 142 as selecionadas. Dentre elas, cito aqui Aizita Nascimento, Betty Faria, Brigitte Blair, Carmen Verônica, Íris Bruzzi, Mara Rúbia, Miriam Pérsia, Norma Bengell, Sônia Mamede e Virgínia Lane.
Criador do FEBEAPA – Festival de Besteiras que Assola o País, que tinha como característica divulgar notas jornalísticas como sendo um fato sério, noticiou certa vez a decisão da ditadura militar de mandar prender o autor grego Sófocles, que já tinha morrido há séculos, por causa do conteúdo subversivo de uma peça de sua autoria encenada na ocasião. Coisas que o Casseta e Planeta faz hoje no seu programa da Globo.
O livro abandonado foi escrito em 1962, são crônicas e histórias sobre o tal Primo Altamirando, personagem sem nenhum caráter, mas com muita irreverência, assim como a Tia Zulmira e também o Rosamundo, outros personagens conhecidos do autor por seu humor refinado e sua crítica mordaz aos costumes. Falecido em 1968 aos 45 anos Sergio/Stanislaw ainda é um dos grandes escritores brasileiros de humor.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Espaço Unibanco de Cinema
Data: 12/10/2010
quinta-feira, 24 de junho de 2010
UM SOPRO DE VIDA
“Ângela – Estou sofrendo de amor feliz. Só aparentemente é que isso é contraditório. Quando se sente amor, tem-se uma funda ansiedade. É como se eu risse e chorasse ao mesmo tempo. Sem falar no medo que essa felicidade não dure.”
O texto acima está na página 66 do livro Um Sopro de Vida (Pulsações), que foi iniciado em 1974 e só concluído em 1977, às vésperas da morte de sua autora, Clarice Lispector, portanto publicado postumamente. Muitos disseram que esse livro seria o definitivo, ou que foi escrito em momentos de agonia, mas simultaneamente a ele a autora escreveu A Hora da Estrela, seu livro mais famoso cuja publicação se deu com Clarice ainda viva.
Sem querer comparar e já o fazendo, lógico, as densidades dos dois livros são parecidas, A Hora da Estrela é visivelmente anárquico e por vezes debochado, já que temos uma versão para o cinema brilhantemente interpretado pela atriz Marcélia Cartaxo e dirigido pela Susana Amaral. Um Sopro de Vida é também anárquico, literal, e por vezes sucumbe ao que facilmente chamaríamos de depressivo, mas que é, de fato, um livro introspectivo, cheio de labirintos emocionais que nos joga na cara, sem pena, os pensamentos impensáveis.
Para entender o melhor de Clarice Lispector comece lendo Perto do Coração Selvagem (1944), passe por A Paixão Segundo G.H. (1964), siga sua rota com A Hora da Estrela (1977), vá a frente com A Descoberta do Mundo (coletâneas de textos publicados em jornal – póstumo – 1984), volte no tempo e termine com Um Sopro de Vida (1978), verás então que mulher maravilhosa, lúcida e tão a frente do seu tempo era Clarice
Diz a lenda que A Descoberta do Mundo era o livro predileto de Cazuza e não é à toa que um querido e talentoso amigo Roberto Camargo tem uma foto dela na parede da sua casa.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Louge em frente a Etna
Data: 22/08/2010
sábado, 19 de junho de 2010
ANARQUISTAS GRAÇAS A DEUS
Publicado em 1979, foi o primeiro livro de Zélia Gattai (1916-2008), que lhe valeu o Prêmio Paulista de Revelação Literária do mesmo ano. Até então conhecida apenas como a esposa de Jorge Amado, Zélia tinha 63 anos quando começou a escrever suas histórias, a princípio somente lembranças de uma infância e adolescência ricas em acontecimentos, narrando o cotidiano das famílias dos imigrantes italianos daquela época, em São Paulo, na primeira metade do século XX. A vida que decorre, os pequenos incidentes, os grandes eventos, as dificuldades, a luta, os ideais, os sonhos, a indomável coragem de um povo que abandonou seu país para viver numa outra terra, a determinação de seu Ernesto e a paixão pelos automóveis, a convivência diária com os irmãos e sua mãe, dona Angelina, os sábios conselhos da babá Maria Negra, as idas ao cinema, ao circo e à escola, as viagens em grupo, o avanço da cidade e da política. Nestas crônicas familiares, vida e imaginação se embaralham, acompanhando um Brasil que se moderniza sem, contudo, perder a simplicidade no escrever.
É um livro de leitura leve e despretensiosa com flashes da São Paulo antiga e do modo de vida dos imigrantes. Você começa a ler, quando percebe já está na metade e num piscar de olhos o livro acaba. O livro que abandono é de capa dura, fruto da edição impecável do Círculo do Livro, alguém aí sabe se ainda existe o Círculo do Livro? Tô velho!
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Hospital Aliança
Data: 25/07/2010
terça-feira, 15 de junho de 2010
STELLA MANHATTAN
“Stella Manhattan é um romance de aspectos múltiplos. Combina a discussão de idéias com uma narrativa ágil. Vai do símbolo político à dramatização dos costumes sexuais.” É isso que está escrito na contra capa do livro, e eu confesso a vocês, é a mais pura verdade. Quando foi publicado pela primeira vez em 1985, Stella Manhattan foi muito elogiado pelos críticos dos principais jornais e revistas brasileiros na época. Também foi tema de tese de mestrado e doutorado na UFF, PUC Rio, USP e até na Universidade de Pittsburgh, foi traduzido para o inglês e publicado também na França. Ler Stella Manhattan hoje é apreciar uma performance do que aconteceu no Brasil nas décadas de 60/70. O pano de fundo é a cidade de Nova York e o núcleo central é um grupo de exilados brasileiros que se transfere para a ilha de Manhattan a fim de planejar um golpe contra o adido militar sediado no Consulado Brasileiro, que, ligado aos militares responsáveis pelo golpe de 64, mantém uma identidade secreta. Com base nesta trama, que é pura ficção, Silviano constrói um romance, articulando um jogo entre aparência e realidade, entre público e privado, opressão e liberação. Um bom exemplo de literatura brasileira pós golpe.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Sala de Arte - Cinema da UFBA
Data: 24/06/2010
quinta-feira, 3 de junho de 2010
O DIÁRIO DE UM MAGO
Paulo Coelho é hoje um dos escritores mais lidos no mundo, dizem que um livro seu é vendido a cada duas horas em todo o planeta, será? Balelas à parte, porque a afirmação acima me parece mais release de editora querendo faturar do que informação confirmada, ele carrega uma polêmica desde que se tornou famoso, e muito rico, Paulo Coelho é amo-o ou odeio-o. O interessante é que as pessoas que o amam e lêem todos os seus livros não conseguem justificar esse amor de uma forma consistente, e o mesmo acontece com quem o odeia, já conversei com pessoas que o detestam sem nunca ter lido um só livro de sua autoria. Seria rancor porque ele é um escritor bem sucedido, ou porque escreve sobre magias, bruxarias, demônios, assuntos polêmicos para uma mesa de bar ou um almoço entre amigos.
Mas o fato é que, na minha modestíssima opinião, O Diário de um Mago é um livro interessante, quando o li, e isso foi no início de 1990, Paulo Coelho não era a pessoa pública que é hoje, não tinha entrado para a Academia Brasileira de Letras e também não tinha mostrado sua cara na revista Caras, era apenas um escritor que relatava uma experiência pessoal, cujos embates entre sagrado e profano, magia e realidade, deixavam no leitor uma herança de acontecimentos fantásticos e uma curiosidade sobre o tal caminho. Depois que o livro virou uma febre e o caminho um lugar turístico, onde as pessoas buscam uma “revelação”, conheci muitas que foram fazer a tal caminhada. A mais divulgada na mídia foi a Baby Consuelo, atual Baby do Brasil, que em entrevista jurou ter sido amparada pela atriz Shirley MacLaine com um spray mágico para curar os calos nos pés. Também tenho uma amiga chamada Maria, não vou colocar o sobrenome aqui mas quando ler esse post ela saberá que é ela, que fez o caminho, ou parte dele, e disse para mim que adorou tudo, mas que voltando a Madrid procurou logo um cabeleireiro para se tornar gente outra vez.
Tirei do livro um trecho para encerrar o post, está na página 154 da edição que vou abandonar, que diz: “Da mesma forma, um discípulo nunca pode imitar os passos do seu guia. Porque cada um tem uma maneira de ver a vida, de conviver com as dificuldades e com as conquistas. Ensinar é mostrar que é possível. Aprender é tornar possível para si mesmo.”
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Sala de Arte - Cinema do Museu
Data: 06/06/2010
domingo, 16 de maio de 2010
TEOREMA
Em Milão a vida de uma família burguesa é totalmente modificada por um misterioso visitante, esta não é uma história realista, mas uma parábola, os capítulos são cenas e estas se encadeiam como se fossem um filme, e é também um filme, com direção do próprio autor, Pier Paolo Pasolini. O livro/filme mostra o cotidiano e a transformação das relações dentro da família. A princípio sentimos uma inércia no ar, um marasmo, uma falsa estabilidade que é quebrada com a chegada de um visitante, um jovem belo, culto e sedutor. As insatisfações, angústias, e os sentimentos dos membros da família serão desvendados a medida que o jovem visitante, cujo nome não é revelado, irá se relacionar com cada um deles. Os desejos sufocados aparecerão gradualmente e farão uma revolução na pacata vida familiar. A primeira a ser seduzida é a empregada, depois o filho, a mãe, a filha e finalmente o pai. Quando se dá o fim da estadia e o jovem visitante vai embora, inicia-se a segunda parte da trama com a completa ruptura de toda a estrutura que unia aquela família. Ninguém consegue continuar vivendo da mesma forma, cada um deles reage de um jeito: do abandono da subserviência até a busca da liberdade sexual, da descoberta da homossexualidade à catarse de despir-se de todas as amarras, objetos e valores sociais, em busca de si próprio. Pasolini não entra na vida das pessoas de forma inócua, utiliza-se de estratagemas, da sexualidade, do tom repressor da civilização em busca de uma possível instauração do novo, estaria ele certo ou errado? É ler e apostar na transformação ou não dos seus valores sociais.
Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Linha de Ônibus Aclimação
Data: 12/07/2010
terça-feira, 11 de maio de 2010
CEGO
Robin Cook é um mestre numa categoria chamada de thriller médico, desde o clássico “Coma” e agora com “Cego”. Mas não pense que este é um livro sobre pessoas cegas ou de auto-ajuda para superar deficiências, que me perdoem os crentes, mas não gosto desta faceta literária tão lucrativa, como diria uma amiga e exelente atriz chamada Agnes Zuliani, livro de auto-ajuda, só é “auto” para quem escreve e recebe os direitos autorais, para quem lê é só “ajuda” e olhe lá.
Neste livro o autor conta a história da Dra. Laurie Montgomery, médica do Departamento de Medicina Legal da cidade de Nova York que enfrenta seus superiores e até sua família para descobrir a causa das estranhas mortes por overdose de cocaína, a princípio em pessoas que nem se conhecem e tem uma vida saudável e bem sucedida.
Em paralelo temos o detetive Lou Solano que, após descobrir a recente cegueira do chefe de uma das famílias mafiosas de Nova York depois de um atentado, percebe que vários assassinatos são cometidos de forma quase “limpa”, tiro na nuca, pouco sangue, arma de pequeno calibre, e procura a Dra Laurie para ajuda-lo. Qual será a relação dos dois tipos de assassinatos?
Num clima de mistério, terror e suspense, fato e ficção se misturam de maneira quase imperceptível, mas de modo bem eficiente.
Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Linha Aclimação - Campo Limpo
Data: 26/08/2010
domingo, 25 de abril de 2010
A VELHA SENHORA
O ano era 1982 e eu assistia a um capítulo da novela Brilhante da Rede Globo, sim, sou noveleiro, e a personagem de Fernanda Montenegro, Sra. Chica Newman, matriarca da família dona de uma grande empresa de jóias, tem um livro à mão quando seu motorista Carlos (Claudio Marzo) comenta o quanto gosta da escrita e do refinamento dos casos policiais do escritor Georges Simenon. Eles trocam um cúmplice olhar e a partir daí nasce uma admiração mútua que fez grande sucesso entre o público, à época, tanto que os dois acabaram juntos no último capítulo, como uma redenção da personagem.
É claro que fiquei curioso com o nome do autor e comprei um exemplar de “A Velha Senhora”. É um livro policial da série do comissário Maigret, personagem que Simenon inventou para resolver casos de intrigas simples, mas com personagens fortes e ambíguos. Seus melhores textos são aqueles baseados em casos de pequenas vilas de província, evoluindo à sombra de personagens de aparência respeitável. Não sei quem começou primeiro, se Agatha Christie com seu Hercule Poirot, ou George Simenon com o comissário Maigret, se alguém souber me avise.
O livro conta o caso da Sra. Valentine Besson que, num domingo após uma reunião familiar para comemorar seu aniversário, rejeita o remédio para dormir que sua empregada Rose leva para ela todas as noites por achá-lo amargo demais. Rose, não se sabe por que, o toma e morre envenenada por arsênico pouco depois. O comissário Maigret é chamado para resolver o mistério, quem teria interesse em matar a plácida Sra. Valentine cuja antiga fortuna se resume à pequena casa onde mora?
É ler e descobrir.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Frans Café - Ondina
Data: 30/05/2010
terça-feira, 20 de abril de 2010
O OUTRO LADO DA MEIA NOITE
Este livro quando foi lançado virou um best seller, ou seja, em linguagem cinematográfica ‘um arrasa quarteirão’, desses que enriquecem o autor e são tema de conversas no escritório, festas, almoços, ou num happy hour com amigos, e era muito comum ouvir a famosa frase “você já leu O Outro Lado...” Por isso tornou-se o principal livro de um dos escritores mais lidos do século XX, Sidney Sheldon. O Outro Lado da Meia Noite conta a história de duas belas mulheres, Noelle Page, nascida no cais de Marselha, tornaria-se a atriz mais famosa da França e a mulher mais cobiçada do jet set internacional. E Catherine Alexander, natural de Chicago, profissional bem sucedida, inteligente e sensível demais para o mundo fútil no qual vivia.
Sidney Sheldon conta suas histórias e vai nos enredando até que surge o piloto e herói de guerra Larry Douglas, um homem lindo e extremamente sedutor por quem as duas se apaixonam, formando aí um triângulo amoroso que despertará o ódio e o desejo de vingança do magnata grego Constantin Demiris. Peça chave no surpreendente final, Constantin é um homem riquíssimo que não esquece e nem perdoa uma traição. Durante a leitura viajaremos de Washington a Atenas, e de quebra passaremos por uma Paris ocupada pelos exércitos nazistas. O autor sabe nos transportar a lugares nunca visitados e nos torna íntimos de cidades, praias, castelos, mansões, iates e luxos impensados. Suas heroínas são mulheres sempre sagazes e inteligentes, que amam muito e acabam sofrendo por isso.
Terá sido Sidney Sheldon o precursor das publicações como Julia, Sabrina, Bianca, que são entretenimento puro e eram tão comuns nos idos anos 80, com suas heroínas, príncipes, castelos, paisagens do mundo? Não sei, mas que já li muitas delas não posso negar aqui.
Cidade do abandono: Salvador/Bahia
Local: Mc Donalds - Caminho das Árvores
Data: 15/05/2010
sábado, 17 de abril de 2010
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER
Lançado no Brasil em 1983, li o livro em 1985 e mais tarde assisti ao filme brilhantemente filmado pelo diretor Philip Kaufman com Daniel Day-Lews e Juliete Binoche como protagonistas. É literatura theca, mas não se espante, o romance é universal. São dois personagens, Dr. Tomas e Sabina que, por força de suas escolhas ou por interferência do acaso, cada um deles experimenta, à sua maneira, o peso insustentável que baliza a vida, esse permanente exercício de tentar viver de forma diferente. É um livro erótico, com enredos e experiências de vida que foge ao padrão. O Dr. Thomas é um jovem cirurgião que tem um relacionamento com uma mulher chamada Sabina, uma pintora cujo propósito é o mesmo dele: manter uma relação física, sexual, sem qualquer envolvimento emocional, atitudes que eles consideram como “a leveza do ser”. Dr. Thomas conhece Tereza e Sabina conhece Franz e ambos vão testar seus próprios códigos de ‘leveza’ e ‘liberdade’.
Leia dois trechos que separei, um bem filosófico e o outro bem debochado.
"Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se juntem desde o primeiro instante, como os passarinhos sobre os ombros de São Francisco de Assis" Pag. 55
"Não existe nada mais miserável do que um corpo nu sentado sobre a embocadura aberta de um cano de esgoto" Pag. 159
Cidade do abandono: Salvador/Bahia
Local: Frans Café - Pituba
Data: 25/04/2010
O PERFUME - HISTÓRIA DE UM ASSASSINO
Paris, ano de 1738, nasce Jean Baptiste Grenouille. Filho de uma feirante ele veio ao mundo em uma barraca de peixe na cidade mais suja e mal cheirosa do mundo ocidental no século XVII. Abandonado pela mãe junto a restos de peixe num mercado parisiense, pelas amas-de-leite, e por instituições religiosas, o menino Grenouille cresce sobrevivendo a doenças e pestes em diversos lares miseráveis. Rejeitado também pela natureza que lhe negou o direito de exalar cheiro como qualquer ser humano, o personagem principal do livro ainda jovem percebe uma característica que mudaria sua vida; ao mesmo tempo em que não tinha nenhum cheiro, ele era dotado de um olfato apuradíssimo. Este talento permite que deixe para trás a pobreza para brilhar na indústria da perfumaria. Mas Grenouille é um personagem amoral, não ambiciona a fama ou a fortuna que sua habilidade poderia lhe proporcionar, mas um poder maior sobre as pessoas, baseado na sedução dos odores sobre a alma humana. Assim, dedica-se obsessivamente, e sem recuar diante da possibilidade de matar suas vítimas, a busca da essência perfeita e a preparação de um perfume irresistível, que permitisse conquistar e dominar qualquer ser humano, perfume esse feito a partir da essência dos corpos de suas vítimas.
“O Perfume” foi publicado no Brasil em 1985, eu o li em 1987 e recentemente assisti ao filme que também é muito bom. Li outro dia que o livro foi um fenômeno editorial na época do lançamento e desde então já vendeu mais de 20 milhões de exemplares em mais de 43 países.
Cidade do abandono: Salvador/Bahia
Local: Espaço Unibanco de Cinema
Data: 24 de abril de 2010
O COMEÇO - PORQUE ABANDONAR LIVROS
Comecei desde muito jovem com os livros que Tia Liane me emprestava. Já li tanta coisa nesta vida, livros bons, ruins, com poucas ou muitas páginas. Tenho os livros do coração, aqueles que volta e meia faço uma releitura e o vejo com outros olhos, ou com outra compreensão. Sinal de maturidade? Sinal de emburrecimento? Vai saber...
Já presenteei muitos livros aos amigos, já doei livros para bibliotecas e até ajudei a criar uma delas numa comunidade carente de São Paulo. Mas sempre achei que livro tem vida própria e cada um escolhe o seu leitor. Sempre que vou numa livraria acho que os livros me escolhem, leio suas orelhas, as pequenas resenhas escritas nas laterais, e me apaixono ou não pela sua história. Também compro livros por causa do autor ou pelo assunto tratado. Mas não pense que sou um filósofo, um erudito, longe disso, faço parte do núcleo dos que não suportam esperar e ter livros à mão se tornaram a grande solução para o tédio de uma fila, uma hora vaga ou uma noite enquanto o sono não vem.
Este blog é um sonho que acalento faz tempo, tomara que as pessoas gostem e compartilhem suas impressões sobre os livros abandonados. A ideia não é original, já existe há algum tempo um movimento pelo abandono de livros com a finalidade de fazê-los circular e angariar mais leitores pelo mundo a fora. Mas esse blog é pessoal, estou abandonando livros que li e cada um deles tem sua história na minha vida. Se você achar um livro abandonado leia-o, ou não, mas não o guarde, abandone-o para que ele ache outro leitor e escreva aqui o que achou e onde o fez, não deixe que se quebre a corrente.
As capas que aparecem nas resenhas são as originais que tenho e será uma maneira de identificar o livro que abandonei, eles possuem uma etiqueta explicativa do processo e do conteúdo do blog.
A resenha que ainda não estiver com os campos de cidade, local e data preenchido é porque ainda não abandonei o livro, mas o farei em breve.
Se você não quiser criar um perfil para postar um comentário, escreva direto para o e-mail abandonandolivros@gmail.com que responderei assim que puder.
Já presenteei muitos livros aos amigos, já doei livros para bibliotecas e até ajudei a criar uma delas numa comunidade carente de São Paulo. Mas sempre achei que livro tem vida própria e cada um escolhe o seu leitor. Sempre que vou numa livraria acho que os livros me escolhem, leio suas orelhas, as pequenas resenhas escritas nas laterais, e me apaixono ou não pela sua história. Também compro livros por causa do autor ou pelo assunto tratado. Mas não pense que sou um filósofo, um erudito, longe disso, faço parte do núcleo dos que não suportam esperar e ter livros à mão se tornaram a grande solução para o tédio de uma fila, uma hora vaga ou uma noite enquanto o sono não vem.
Este blog é um sonho que acalento faz tempo, tomara que as pessoas gostem e compartilhem suas impressões sobre os livros abandonados. A ideia não é original, já existe há algum tempo um movimento pelo abandono de livros com a finalidade de fazê-los circular e angariar mais leitores pelo mundo a fora. Mas esse blog é pessoal, estou abandonando livros que li e cada um deles tem sua história na minha vida. Se você achar um livro abandonado leia-o, ou não, mas não o guarde, abandone-o para que ele ache outro leitor e escreva aqui o que achou e onde o fez, não deixe que se quebre a corrente.
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A resenha que ainda não estiver com os campos de cidade, local e data preenchido é porque ainda não abandonei o livro, mas o farei em breve.
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