domingo, 19 de dezembro de 2010

MORTE E VIDA SEVERINA


Num domingo em que acordei cedo e o sol já está lindo lá fora eu decidi abandonar um livro de poemas, literatura da melhor qualidade, e escolho uma coletânea do João Cabral de Melo Neto (1920-1999). É um livro que contem quatro obras deste autor pernambucano que causa certo estranhamento a quem espera uma poesia apenas emotiva.
O livro começa com “O Rio”, ganhador do prêmio de poesia do IV Centenário de São Paulo, o poema se desenvolve através de uma narrativa de cunho social e geográfica na qual o rio Capibaribe, da sua nascente até a sua foz em Recife, vai presenciando as transformações que a paisagem natural e a humana lhe apresentam até desaparecer no mar.
Depois vamos para “Dois Parlamentos”, um libelo que se compõe de um par de discursos poéticos, em ritmo dual segundo os especialistas, sobre os temas do cemitério sertanejo e do trabalhador de engenhos, ambos com a riqueza de metáforas inusitadas e a construção cerrada tão característica do autor.
Aí vamos para “Auto do Frade”, poema dramático baseado nas circunstâncias da execução de Frei Caneca após a derrota da Confederação do Equador. A constante transformação poética da realidade pernambucana atinge a dimensão da história narrada admiravelmente pela costumeira maestria do autor na intricada rede de emoções humanas envolvidas no episódio.
Por fim leremos “Morte e Vida Severina”, um poema já definitivamente incorporado à sensibilidade nacional, lido, relido, representado, proibido, liberado, musicado e televisionado. Se você tem mais de 30 anos deve lembrar-se do especial da TV Globo com uma Elba Ramalho feiíssima e maltrapilha cantando as versões que Chico Buarque compôs, e das atuações memoráveis de Tânia Alves e do excelente José Dumont no papel de Severino. Se quiser conferir vá até o YouTube, lá tem muitas cenas, se jogue.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de Ônibus - Av. Anita Garibaldi
Data: 19/03/2011

2 comentários:

  1. " E se somos Severinos
    iguais em tudo na vida,
    morremos de morte igual,
    mesma morte severina:
    que é a morte de que se morre
    de velhice antes dos trinta,
    de emboscada antes dos vinte,
    de fome um pouco por dia"...
    Meu primeiro livro de poema, custei a me adaptar, gostei dos poemas que antecedem (principalmente " O Rio") mas adorei o "Morte e vida Severina", achei simples e instigante, a saga dos retirantes, as pessoas com quem vai encontrando pelo caminho, a dificuldade de encontra emprego e quando enfim desiste de sua batalha diária pela vida, se depara com ela na sua forma mais pura...o nascimento de um novo ser.Tantos sonhos, tantos caminhos e a narrativa brilhante de João Cabral de Melo Neto.
    Abraços,
    Tarcila Schultz

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    1. Tarcila,
      Obrigado por abrilhantar meu humilde blog com a transcrição do poema de tão rara beleza.

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