domingo, 3 de janeiro de 2016

DICIONÁRIO DE BAIANÊS


Gostaria de começar o ano com um pouco de bairrismo e afirmação da minha baianidade nagô, quando escrevi sobre o almanaque Mofolândia declarei aqui no blog meu gosto pessoal por dicionários e enumerei alguns que tenho em casa. Dentre eles não poderia faltar o Dicionário de Baianês, pesquisado, divulgado e já algumas vezes revisado pelo Nivaldo Lariú, grande pesquisador da cultura baiana. Cabe alertar aos leigos que em Salvador/BA fala-se português como em todo o território nacional e o dito “Baianês” é fruto da variação dialética do português culto, que é a língua oficial do Brasil, onde se insere o sotaque baiano na emissão dos fonemas e as gírias faladas nas ruas.

Vou dar um exemplo que li outro dia sobre a evolução do tratamento clássico ‘Vossa Mercê’ que vem do português culto, ou arcaico como alguns já o denominam. Os escravos e as pessoas pouco alfabetizadas transformaram a expressão ‘Vossa Mercê’ em ‘Vosmissê’, que posteriormente foi adotado por todos por ser de mais fácil dicção. A partir daí foi adaptado para a forma mais comum: ‘Você’, que ganhou uma variação simplória para ‘Cê’ e, atualmente na linguagem da internet, escreve-se somente ‘vc’.

Vejam o caso da expressão “Vamos embora”; ela foi modificada pelo Baianês para ‘Vumbora’, que posteriormente foi cortada e surgiu a gíria ‘Bora’ e esta por sua vez já foi simplificada para ‘Bó’. Daí ganhou uma versão mais cheia de malemolência e criatividade do baiano que é ‘Borimbora’, adaptada de ‘Vumbora embora’, quase um pleonasmo. Mesmo sendo nativo dessa terra por vezes ouço diálogos que não entendo o linguajar, isso também acontecia em São Paulo e também quando me reunia com os amigos gaúchos, todos os lugares acabam por criar expressões regionais que só enriquecem nosso vocabulário.

Para dar um gostinho vou citar algumas expressões contidas no dicionário:

Comer água – beber com amigos, com sentido de comemorar.

Dei um ninja – escapei de um compromisso ou algo desagradável.

Vai chorar, é? – quando alguém fica cheio de explicações sobre alguma coisa que aconteceu. Ex: time do Bahia perde o jogo e o torcedor fala que o time perdeu porque estava sem os titulares e o que o juiz roubou, etc. Quem está ouvindo esse monte de desculpas diz: "vai chorar, é?"

Larga o doce – desembucha, fala logo.

A ideia do Nivaldo Lariú é pura diversão, se você é baiano vai rir bastante com suas próprias gags, mas se você é turista saberá por que o baiano é tão ‘gente boa’.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Pereira (varanda)
Data: 02/02/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário