domingo, 10 de janeiro de 2016

ORFEU DA CONCEIÇÃO


Comecei recentemente a fazer uma pesquisa de textos escritos para o teatro musical quando achei na minha estante esse requinte publicado pelo Vinicius de Morais (1913-1980) cuja obra eu foi pouco citada aqui no blog. Temos o hábito simplista de ligar o Vinicius à música ou à poesia e esquecemos sua faceta de jornalista e escritor, o que é uma injustiça com a universalidade de suas obras. Em se tratando de um artista tão completo Orfeu da Conceição nasceu para ser peça de teatro, foi publicado em livro, acabou inspirando um filme e posteriormente virou um disco com canções memoráveis.

Orfeu é uma das mais lidas e encenadas obras da mitologia grega. Já Orfeu da Conceição faz parte da tragédia carioca, ambientada numa favela traz para o grande público o universo de um compositor que perde sua musa e se rende à dor. Num feriado de carnaval a história de amor entre Orfeu e Eurídice tem um final trágico, o sambista que vive no morro é filho de pai músico e mãe lavadeira. A paixão que os une desperta o ciúme doentio de Mira, ex-namorada de Orfeu que influencia Aristeu, apaixonado por Eurídice, a matá-la.

No exemplar que pretendo abandonar há um detalhe bem bacana na obra que é a cifra de todas as músicas compostas para o espetáculo, para quem sabe tocar violão é a oportunidade de cantar enquanto lê a obra. As músicas de Vinícius, estreando a parceira com Tom Jobim, são imortais: Se Todos Fossem Iguais a Você, Lamento no Morro, Um Nome de Mulher, Eu e o Meu Amor, etc, são canções que faziam parte do LP lançado posteriormente à obra e estão imortalizadas.

Algumas curiosidades sobre a peça musical é que o cenário foi feito pelo Oscar Niemeyer e a estreia foi em setembro de 1956 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, no elenco estava Abdias Nascimento, Haroldo Costa, Ademar Pereira da Silva e Ruth de Souza, dentre outros. Era a primeira vez que atores negros pisavam o palco do Teatro Municipal. O elenco composto por atores negros foi exigência do próprio Vinícius, como está escrito na sua biografia: “Todas as personagens da tragédia devem ser normalmente representadas por atores da raça negra, não importando isto em que não possa ser, eventualmente, encenada com atores brancos.”

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco da praça em frente ao restaurante Coco Bahia
Data: 13/02/2016

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