domingo, 29 de novembro de 2015

NADA DURA PARA SEMPRE


Na semana passada escrevi sobre Harlan Coben e fiz uma pequena comparação com Sidney Sheldon (1917-2007). Recebi três e-mails de fãs do Harlan que discordaram veementemente da minha opinião. Gostaria de lembrar aos que escreveram que comecei o post anterior dizendo que era a minha mais modesta opinião e não pretendo que todos concordem comigo, quem sou eu para ser uma unanimidade. Respeito quem tem opiniões contrárias assim como gosto que respeitem a minha. Não me considero um mentor, pastor, ou divindade para selar o destino de alguém com meus escritos. Escrevo o que acho e não obrigo ninguém a ler o blog.


Só para colocar mais lenha nessa lareira hoje vou escrever sobre um dos livros de Sheldon que mais se aproxima do estilo que o Harlan Coben escreve. São três histórias quase independentes que dariam ótimos livros se aprimoradas, as protagonistas Paige Taylor, Betty Lou Taff e Kat Hunter se conhecem na faculdade e, apesar de personalidades bem diferentes, dividem o mesmo apartamento quando vão trabalhar no hospital público Embarcadero na cidade de São Francisco.

Paige Taylor tem uma infância tranquila, nutre uma paixão por um amigo desde pequena e sofre quando ele se casa com outra. Passa um bom tempo com o coração amargurado quando se vê envolvida numa acusação de assassinato de um paciente por causa da sua herança. Nós sabemos que ela realmente o matou, mas é inocente da acusação imputada porque o médico que a acusou o fez por vingança de amor não correspondido. Conseguirá ela safar-se desse julgamento?

Betty Lou Taff, ou Honey Taff, sempre se sentiu inferior às suas irmãs na escola porque era a menos popular. Desde então usa o corpo como moeda de troca para todos os seus propósitos. Não tem vocação para médica e se formou por pressão familiar seduzindo professores e quem mais pudesse ajuda-la a concluir o curso. Foi seduzindo o diretor que conseguiu uma vaga no Embarcadero, mas comete erros graves e põe em risco todo o hospital. Apaixona-se perdidamente por um paciente, mas comete um erro ao fazer nele uma transfusão com sangue soropositivo.

Kate Hunter era molestada pelo padrasto desde os treze anos mas sua mãe não acreditava nos seus relatos. Foge de casa quanto fica grávida e abriga-se com uma tia que lhe consegue um aborto. Apesar de bonita não consegue relacionar-se com os homens que a cortejam e vira motivo de uma aposta entre dois médicos. Por cinco mil dólares Ken Mallory aposta que a levará para a cama em um mês. Kate descobre a aposta e resolve zombar dele mas acaba apaixonada por Ken e entrega-se a ele para surpresa de muitos. Ken vê seus planos de casar-se com uma milionária quando Kate lhe diz que está grávida. Desesperado ele a dopa e simula um aborto feito pela própria Kate causando-lhe a morte. O que ele não contava é que sua colega de apartamento Paige Taylor não acredita na versão apurada pela Polícia e começa a investigar o caso por conta própria.

Nada Dura Para Sempre foi publicado em 1994 e contém todos os ingredientes de um best-seller: suspense, trama bem elaborada, sexo, amor, dinheiro, temas polêmicos, muita ação e finais imprevisíveis. Mais um da grife Sidney Sheldon.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento do Ceasa Rio Vermelho
Data: 23/01/2016

domingo, 22 de novembro de 2015

SEIS ANOS DEPOIS


Na minha mais modesta opinião Harlan Coben (1962) é o novo Sidney Sheldon. Claro que não estou colocando os dois no mesmo balaio, como se o primeiro fosse cópia do segundo, mas sinto essa proximidade principalmente no estilo frenético das historias contadas e na facilidade que ambos possuem de prender o leitor a cada final de capítulo. Tarefa que não é das mais fáceis quando percebo que as pessoas torcem o bico para livros com mais de 150 páginas ou capítulos com mais de três. Hoje em dia estamos fadados aos 140 caracteres do Twitter ou os textos de três linhas do Facebook, e se não tiver foto o post pode passar completamente despercebido. Estamos na era da imagem e a escrita está praticamente resumida às mensagens cifradas do WhatsApp e a obrigatória redação do ENEM.

Sidney Sheldon foi um escritor cujas histórias giravam em torno de grandes fortunas. Seus personagens, a grande maioria mulheres, eram pessoas comuns que trabalham como loucos e conseguem construir fortunas inimagináveis. Ou então são perseguidos por milionários, ou multimilionários, que em algum momento tornaram-se seus desafetos. Na sua escrita viajaremos por países exóticos, transitaremos por palácios, barcos, hotéis de luxo e haverá sempre o sexo para apimentar as tramas. Harlan Coben tem um estilo vertiginoso, seus personagens são pessoas comuns que vivem em casas simples e geralmente não há grandes fortunas envolvidas. Nos livros que já li até hoje o argumento principal são os sentimentos entre as pessoas. Sua trama tem tudo para ser a mais realista possível, mas seus personagens vivenciam histórias que beiram o inacreditável e a cada final de capítulo você é praticamente empurrado para ler o próximo.

É assim que a trama de Seis Anos Depois vai te envolver de tal forma que deixar o livro antes do final será quase impossível. Jake Fisher estava com dificuldade para escrever sua dissertação de mestrado e foi encaminhado pelo seu mentor para um sítio que funcionava como um retiro. Lá ele conhece Natalie Avery e juntos vivem os melhores meses de suas vidas. Estavam perdidamente apaixonados quando Natalie rompe com tudo e se casa dias depois com Todd, que ela disse ser um antigo namorado. Jake vai até a capela e testemunha o amor de sua vida casar-se com outro. No final da cerimônia Natalie vai até Jake e lhe faz prometer que a deixaria em paz. Amargurado e infeliz Jake faz a promessa e dedica-se exclusivamente à sua carreira de professor universitário até que, seis anos depois, lê por acaso no obituário da universidade a notícia da morte de um ex-aluno, Todd Sanderson. Uma luz se acende e aqueles seis anos parecem ser um fardo pesado demais, ele decide ir reencontrar Natalie no enterro de Todd quando descobre que o casamento deles nunca aconteceu de verdade, foi uma encenação.

Aposto como você já está curioso, eu também ficaria com um argumento desses. Principalmente se você também ler o seguinte parágrafo que está na contracapa do livro: “Agora ele está decidido a ir atrás dela, esteja onde estiver, mas não imagina os perigos que envolvem procurar uma pessoa que não quer ser encontrada.” Acreditem, eu li o livro, e os perigos são muitos.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Orla da Pituba, em frente à Perini
Data: 16/01/2016

domingo, 15 de novembro de 2015

UM HOMEM CHAMADO MARIA


Eduardo Prata, grande amigo dos tempos que morei em São Paulo, tinha o costume de me dar livros de presente. Não precisava de uma data especial como Natal ou aniversário, quando saíamos juntos para ir ao teatro ou ao cinema ele sempre tinha um livro no carro e dizia: Peguei pra você. O Edu não é um leitor assíduo, dois livros por ano no máximo, mas algumas obras importantes que li como O Caçador de Pipas e A Menina que Roubava Livros foram presentes dele. Um Homem Chamado Maria foi um desses muitos livros, mas, ao contrário de outros que li imediatamente, esse amargou alguns anos na prateleira dos “espera que um dia vou te ler”.

Desde o imbróglio com o livro ‘Roberto Carlos em Detalhes’ ando aficionado por biografias e às tenho lido com certa constância. No início de 2015 estava procurando um livro para ler na praia e Um Homem Chamado Maria caiu como uma luva, tem a letra grande e apenas 185 páginas recheadas com muitas fotografias. Ao ler a orelha tomei conhecimento que o autor Joaquim Ferreira dos Santos (1951) tinha escrito uma versão menor para a coleção intitulada Perfis do Rio com o título de Noites de Copacabana. Depois percebeu que a história de Antônio Maria de Araújo Morais merecia algo maior e foi revisar a obra, aumentando-a em alguns capítulos.

E se você está se perguntando ‘Quem é esse Antônio Maria?’ eu vou logo lhe dizendo que foi um excelente cronista, um radialista e jornalista de mão cheia, e se você tem mais de quarenta anos com certeza já cantarolou a música: “Ninguém me ama, ninguém me quer. Ninguém me chama de meu amor...”, grande sucesso composto pelo Antônio em parceira com Fernando Lobo cuja letra foi inicialmente escrita como “Ninguém me chama de Bauledelaire” ao invés de ‘meu amor’, uma de suas muitas composições. Figura icônica das noites do Rio de Janeiro juntamente com Vinícius de Morais, Rubem Braga, Di Cavalcanti e Dorival Caymmi, Antônio era muito brigão e boêmio, vivia se metendo em confusões e saia delas com muita conversa. Aliás, papo era o seu grande trunfo e fazia dele um grande sedutor, por ser negro e gordo ele se achava feio e dizia: “Preciso de duas horas de papo para que as mulheres se esqueçam da minha cara.” Foi justamente numa dessas conversas que ganhou o amor de Danuza Leão, personagem fundamental sua vida e que mereceu um capítulo especial na biografia revisada.

Antônio Maria faleceu em 15 de outubro de 1964 depois de um infarto fulminante em plena rua de Copacabana, seu casamento com Danuza havia terminado há pouco mais de seis meses e ele andava muito triste. No livro está escrito que os amigos Joel Silveira, Walter Clark, Paulo Soledade e Fernando Lobo tinham quase certeza de que Antônio, compositor de Ninguém Me Ama, morreu em forma de samba-canção. De amor. Depois de terminar o livro essa certeza também chegou até mim.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco da praça em frente a Paróquia N. S. da Luz
Data: 10/01/2016

domingo, 8 de novembro de 2015

DO AMOR, ENSAIO DE ENIGMA


“O ‘tu’ é a oportunidade concreta de realizar a parte ‘nós’ sem perda da parte ‘eu’.” (pg 24)

Dizem por aí que a primavera é a estação das flores e eu particularmente acho que é a estação do amor, seja esse amor da forma que for. A primavera antecede o verão, e como vivo num balneário, cidade praieira, cidade de sol e mar, vejo que as duas estações se completam. É muito comum por aqui dizer... Quando o verão chegar... Essa é para o verão... É o meu projeto verão... E a primavera estabelece esse start para quando o verão chegar. Andei pensando em alguns casais de amigos que estão juntos há bastante tempo e percebo esse recomeço quando chega a primavera, um certo brilho no olhar com a proximidade do verão, e então caiu a ficha sobre esse sentimento tão maltratado, subjugado, enlatado, classificado, banalizado, que é o amor.

“Uma das percepções mais difíceis é a da dimensão do amor do outro por nós, numa medida em que nem ele próprio percebe. É preciso aprender a se relacionar com essa dimensão oculta, para não ficarmos infelizes com as respostas que não vierem, com os silêncios que substituírem conversas, com as ausências e egoísmos que nos rejeitarem.” (pg 100)

Pensando nisso fui buscar um livro que li em 1984 quando vivia meus vinte e poucos anos e era um romântico exacerbado. Do Amor, Ensaio de Enigma foi escrito e fundamentado pelo saudoso Artur da Távola (1936-2008) nas fases que estava sem mandato a cumprir. Artur era exímio pensador e admirador da música clássica, especialmente Vivaldi. Na minha mais humilde opinião seus melhores textos vão até 1996 quando ainda tinha tempo para dedicar-se a uma obra e expandir suas fundamentações para diversos ângulos. No fundo eu acredito que Artur da Távola era um ensaísta, um cronista, de mão cheia. E esse livro que em breve vou abandonar foi um marco na minha existência romântica.

Hoje, passados mais de trinta anos que li seus escritos pela primeira vez, consigo examinar a dimensão de suas palavras que estão sublinhadas na edição que possuo e entende-las no seu complexo significado.

“O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas quase silencioso. Não é menor em extensão. É mais definido, colorido, poetizado. Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento. Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.” (pg 117)

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento - Subsolo - Shopping Barra
Data: 10/01/2016

domingo, 1 de novembro de 2015

MUITO MAIS QUE 5INCO MINUTOS


Não sou o que se pode chamar de “pessoa antenada”, mas leio jornais, converso com outras pessoas e recebo e-mails, muitos e-mails. Não é todo dia que minha aba ‘principal’ tem mensagens, mas a aba ‘promoções’ sempre tem pelo menos dez mensagens querendo me vender alguma coisa; de livro a CD, de smartphones a pílulas para ereção. Compro livros e CDs pela internet e eles acham que posso me interessar por TVs de última geração, viagens em transatlânticos e furadeiras de impacto. Não posso maldizer os algoritmos que me selecionam para essas mensagens porque umas até que são úteis e acabo comprando alguma coisa, por exemplo: comprei o CD de Stacey Kent e recebi uma mensagem: “Se você comprou isso é provável que goste disso.”, então eles me indicaram o CD de Madeleine Peyroux, que eu pesquisei, gostei e acabei comprando. A música suave do CD Half The Perfect World embala agora esses escritos.

Ao contrario dos seus mais de seis milhões de seguidores eu não tinha a menor ideia de quem era Kéfera Buchmann (1993) até ler uma matéria sobre a Bienal do Livro no Rio de Janeiro que comentava a necessidade de reforçar a segurança por causa dos milhares de jovens que circulavam no pavilhão da bienal para vê-la. Seu livro recém-lançado, Muito Mais Que 5inco Minutos, estava no topo das vendas. Nessas horas eu me pergunto... Quem é essa pessoa? Os tais algoritmos não me avisaram da sua existência. Então vou até o Google e numa pesquisa rápida que durou 22 segundos aparecem 446 mil referências ao nome Kéfera. Fui até a livraria no shopping e lá estava o livro, numa pirâmide enorme logo na entrada. Comprei.

Li as 144 páginas numa tarde. Livro de fácil leitura com expressões corriqueiras que ouço por aí, voltado para o que vou chamar de “mundo Kéfera”. É uma autobiografia com ares de livro de autoajuda, misturado com o que eu acho que sejam crônicas do cotidiano de uma garota que sofreu bullying, soube ser forte quando foi necessário, o primeiro beijo, a escola, as roupas da moda, etc... É um livro sobre o ‘antes da fama’, uma espécie de ‘quem sou eu e onde tudo começou’, que pode ser interessante para alguns e para outros nem tanto. Eu estou no segundo grupo, #prontofalei, sem medo de ter adquirido mais de seis milhões de inimigos, afinal, opinião todo mundo tem a sua e eu me reservo no direito de ter a minha.

E com isso não estou desdenhando da autora, assisti alguns vídeos no canal 5inco Minutos e gosto do seu trabalho como atriz. As notícias pipocam nos jornais sobre os benefícios que essa turma está fazendo para literatura, que muitos jovens estão com livros nas mãos pela primeira vez e isso pode se tornar um hábito, desenvolver a curiosidade para outros autores. Eu cá tenho minhas dúvidas, acho isso papo furado de editor para vender, mas no fundo fico na torcida. Se eu comecei na literatura pelos gibis do Tio Patinhas e já li Guerra e Paz, de Tolstoi, quem começa por Muito Mais Que 5inco Minutos pode um dia chegar a ler, pelo menos, O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco da pracinha no Porto da Barra em frente ao Instituo Mauá
Data: 03/01/2016