domingo, 15 de novembro de 2015

UM HOMEM CHAMADO MARIA


Eduardo Prata, grande amigo dos tempos que morei em São Paulo, tinha o costume de me dar livros de presente. Não precisava de uma data especial como Natal ou aniversário, quando saíamos juntos para ir ao teatro ou ao cinema ele sempre tinha um livro no carro e dizia: Peguei pra você. O Edu não é um leitor assíduo, dois livros por ano no máximo, mas algumas obras importantes que li como O Caçador de Pipas e A Menina que Roubava Livros foram presentes dele. Um Homem Chamado Maria foi um desses muitos livros, mas, ao contrário de outros que li imediatamente, esse amargou alguns anos na prateleira dos “espera que um dia vou te ler”.

Desde o imbróglio com o livro ‘Roberto Carlos em Detalhes’ ando aficionado por biografias e às tenho lido com certa constância. No início de 2015 estava procurando um livro para ler na praia e Um Homem Chamado Maria caiu como uma luva, tem a letra grande e apenas 185 páginas recheadas com muitas fotografias. Ao ler a orelha tomei conhecimento que o autor Joaquim Ferreira dos Santos (1951) tinha escrito uma versão menor para a coleção intitulada Perfis do Rio com o título de Noites de Copacabana. Depois percebeu que a história de Antônio Maria de Araújo Morais merecia algo maior e foi revisar a obra, aumentando-a em alguns capítulos.

E se você está se perguntando ‘Quem é esse Antônio Maria?’ eu vou logo lhe dizendo que foi um excelente cronista, um radialista e jornalista de mão cheia, e se você tem mais de quarenta anos com certeza já cantarolou a música: “Ninguém me ama, ninguém me quer. Ninguém me chama de meu amor...”, grande sucesso composto pelo Antônio em parceira com Fernando Lobo cuja letra foi inicialmente escrita como “Ninguém me chama de Bauledelaire” ao invés de ‘meu amor’, uma de suas muitas composições. Figura icônica das noites do Rio de Janeiro juntamente com Vinícius de Morais, Rubem Braga, Di Cavalcanti e Dorival Caymmi, Antônio era muito brigão e boêmio, vivia se metendo em confusões e saia delas com muita conversa. Aliás, papo era o seu grande trunfo e fazia dele um grande sedutor, por ser negro e gordo ele se achava feio e dizia: “Preciso de duas horas de papo para que as mulheres se esqueçam da minha cara.” Foi justamente numa dessas conversas que ganhou o amor de Danuza Leão, personagem fundamental sua vida e que mereceu um capítulo especial na biografia revisada.

Antônio Maria faleceu em 15 de outubro de 1964 depois de um infarto fulminante em plena rua de Copacabana, seu casamento com Danuza havia terminado há pouco mais de seis meses e ele andava muito triste. No livro está escrito que os amigos Joel Silveira, Walter Clark, Paulo Soledade e Fernando Lobo tinham quase certeza de que Antônio, compositor de Ninguém Me Ama, morreu em forma de samba-canção. De amor. Depois de terminar o livro essa certeza também chegou até mim.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco da praça em frente a Paróquia N. S. da Luz
Data: 10/01/2016

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