Era fevereiro do ano de 2010 quando resolvi criar um blog
sobre literatura e fiz previamente uma seleção dos livros que pretendia escrever.
Eu tinha acabado de mudar para um novo apartamento e percebi que na nova
moradia não caberiam todos os livros que um dia embarquei de Salvador para São
Paulo e agora, quase treze anos depois, fazia o caminho inverso com um volume
muito maior. Como não queria simplesmente doar, ou vender para um sebo, a ideia
de escrever sobre eles e depois abandonar pela cidade tomou forma e estamos
aqui.
O quarto livro que abandonei foi A Velha Senhora cujo
autor Georges Simenon (1903-1989) eu conheci de forma bem inusitada. Já contei
essa história no post em questão mas vou repeti-la. Estava assistindo um
capítulo da novela Brilhante (Globo – 1982) quando a personagem Chica Newman,
interpretada pela Fernanda Montenegro, chique, refinada, rica e a vilã da
história, está lendo um livro quando seu motorista Carlos, interpretado pelo
Cláudio Marzo, entra na sala para avisa-la de alguma coisa e, percebendo o
livro, comenta que também gosta do autor. Chica então elogia seu refinamento
literário e a cena acaba com um olhar de admiração da patroa pelo motorista,
não à toa havia uma química entre os dois que acabam juntos no último capítulo
após a redenção da personagem e para espanto de muitos.
Curioso, fui atrás da obra de Simenon e li A Velha
Senhora. Até hoje, volta e meia, leio um de seus mais de cem títulos escritos
para o comissário Maigret quando quero dar um tempo na literatura
contemporânea. Alternar esses tempos me enriquece profundamente. Meu Amigo
Maigret foi escrito em 1949, mais de meio século depois a obra está intacta e
Jules Maigret continua sendo meu anti-herói favorito. Antes de ser policial ele
é uma pessoa comum, não há genialidade nos casos que desvenda, não há
comportamentos excêntricos ou hábitos diferentes que o marcariam, não há golpes
de mestre e nenhum raciocínio dedutivo espetacular, ele é um ser humano que
busca compreender o que há de melhor e pior nos seus semelhantes investigados.
O mérito da escrita de Simenon é que a obra não é concentrada o tempo todo na
figura do comissário, deslocando a atenção para o contexto que está
inserido.
Nesse livro o comissário depara-se com um crime que envolve
antigos conhecidos seus, um homem e uma mulher, ex-marginais que ele ajudou no
passado. Só que dessa vez a polícia vai designar um membro da Scotland Yard,
Mr. Pyke, para acompanha-lo e conhecer seus métodos. Maigret vive uma saia
justa porque não possui método algum de trabalho, como traduzir em teoria o que
se passa no interior de um homem que nunca sabe como vai iniciar uma
investigação. Como dizer ao colega que não é a polícia, nem o crime ou a
solução deste, que o motiva e o impulsiona.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - 2o. andar
Data: 29/11/2015
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