Em março desse ano Leila Diniz completaria setenta anos. Eu
tinha nove anos quando Leila morreu aos vinte e sete num acidente de avião na
Índia. Pelo que me lembro da época já que as lembranças são bem poucas, não dei
muita importância ao fato. Afinal eu era uma criança e a imagem daquela mulher
grávida mostrando a barriga na praia me pareceu uma coisa normal e corriqueira.
Mal sabia eu que isso foi um escândalo na época.
“A gravidez é um
negócio maravilhoso. Dá uma sensação de absoluto; a gente fica completa. Acho
que o negócio máximo de ser fêmea é estar prenhe. É um negócio muito forte que
o homem não entende. Eu tenho muita pena do homem que não pode ficar grávido.”
Descobri muitos anos depois que Leila era uma mulher como
poucas. Libertária, gostava de viver de verdade e pautava seu dia pelo sol. Foi
musa de Ipanema e madrinha da sua famosa banda no carnaval, também foi Rainha
das Vedetes e Grávida do Ano, atriz, dona de loja, júri no programa Flávio
Cavalcanti, foi perseguida pela repressão, censurada, suas falas eram mantras
de uma geração que havia queimado o sutiã.
“Você pode muito
bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo.”
Em 1984 quando li o volume da série Encanto Radical com
sua sucinta biografia fiquei encantado e apaixonado por Leila, ela tinha
conquistado o que muitos até hoje querem: fama, beleza não planejada, alegria
de viver, ela tinha uma sinceridade contagiante, uma honestidade que beirava a
ingenuidade e viveu sua curta vida com poucos artifícios. Foi invejada.
“Não tenho
preconceitos. Não faço sequer regimes.”
Com exceção de Todas as Mulheres do Mundo, filme de
Domingos de Oliveira que marcou sua carreira e elevou Leila ao patamar de
‘diva’, suas participações como atriz na TV ou no cinema foram mornas, Leila
era uma persona e não uma personagem. Ao ler esse livro escrito pela Cláudia
Cavalcanti sinto não ter vivido sua época, é como ter saudade de algo que você
não viveu, mas consegue compreender sua essência.
“Nem de amores eu
morreria porque eu gosto mesmo é de viver de amores.”
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Entrada do Teatro Gamboa Nova
Data: 24/10/2015
Parafraseando você: Uma mulher moderna, voltada para o futuro!
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