Cidades de Papel foi publicado em 2008 e, como todos os
livros do autor, tem como pano de fundo a amizade adolescente e nesse caso
específico complementado pelo amor platônico de um garoto de nove anos por sua
vizinha, que mais tarde, aos dezenove anos, se tornaria a garota mais bonita e
cobiçada do planeta. No primeiro parágrafo, ainda no prólogo, o jovem Quentin
Jacobsen, mais conhecido como Q, descreve o fato de ser vizinho de Margo Roth
Spiegelman como um “milagre”.
A história desenvolve-se em quatro tempos: o primeiro que o
autor denomina de “Os fios” e eu apelidei de ‘a vingança’ é pura adrenalina e
inventividade, afinal Q é alçado da condição de invisível para a de cúmplice no
plano secreto que acontecerá naquela noite e mudará sua vida. Na segunda parte
do autor “A relva”, que apelidei de ‘intervalo’, é o momento do livro que se
retrata a busca pelo elo perdido, afinal, dias se passaram depois da noite
fatídica e a moral de Q na escola cresce assustadoramente. Na parte três “O
navio”, que apelidei de ‘busca frenética’, somos tragados e levados numa viagem
de perder o fôlego porque temos apenas dezenove horas para chegar à tempo e
nesse momento os capítulos mudam a contagem de numérica para horas, e o tempo
vai se esgotando. A quarta parte não é definida pelo autor, para ele é apenas
mais um capítulo com o título de AGLOE, para mim é o momento que o livro
torna-se reflexivo, não há adrenalina, são jovens pensando nas suas vidas e no
futuro, se é que haverá futuro e este se deixe prever. É o momento mais
interessante do livro e só há o entendimento do que se está escrito porque
passamos pelas três fases anteriores.
Há de se dar um crédito especial para o autor por
desmistificar os sentimentos das famosas “garotas mais lindas da escola”. Ele
já havia ensaiado isso no primeiro livro, ‘Quem é Você, Alasca?’, mas agora
consegue fazer cair por terra o estereótipo de que as mais lindas, gostosas e
cobiçadas garotas também sofrem de forma real, e o fato de serem bonitas,
desejadas e populares não minimiza questões internas e familiares.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Café do Teatro Vila Velha
Data: 07/06/2015
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