domingo, 29 de setembro de 2013

OS ESTUPRADORES


Quando ganhei esse livro em 1993 me assustei com o título ‘Os Estupradores’ e na capa havia uma foto de uma mulher nua tomando banho com o blindex meio embaçado numa inspiração grotesca da cena do filme Psicose de Alfred Hitchcock. Na edição não havia sinopse e eu ainda não tinha internet em casa para pesquisar a respeito. O que salvou o livro do ostracismo da minha estante foi o fato de já ter lido outras obras do autor, Harold Robbins (1916-1997), como por exemplo: Ninguém é de Ninguém, Os Herdeiros e Os Sonhos Morrem Primeiro.

Pensei: Por que será que a editora Record traduziu o título original The Piranhas, que já é estranho, para uma coisa tão bizarra?

Os temas mais constantes nas obras de Hobbins são: ambição, poder, dinheiro, crime organizado e sexo, em todas as suas variantes, aliados à descrição de lugares fantásticos e os personagens ricos, muito ricos.

O livro conta a história de Jed Stevens, um homem rico, astuto, sedutor, cobiçado por muitas mulheres, sua carreira e fortuna vem do show business, aviação e transações milionárias em Wall Street, sem esquecer, é claro, da ligação familiar com a Máfia cujo tio é um poderoso chefão. Em determinado momento Jed é chamado pelo tio e tem que decidir entre o império que construiu e aquele a quem deve “lealdade familiar”.

O livro até empolga em vários momentos e revela-se uma boa distração, mas a resposta sobre o porquê do título eu não encontrei até hoje.

Cidade do abandono: Rio de Janeiro/RJ
Local: Banco traseiro do taxi Aeroporto Galeão
Data: 21/10/2013

domingo, 22 de setembro de 2013

O HOMEM QUE MATOU GETÚLIO VARGAS


Jô Soares (1938) tem uma capacidade única de contar histórias e misturar fatos e versões, muitas vezes o fato é tão mais engraçado que fica parecendo uma versão humorística. Três anos depois do lançamento do seu até então livro mais popular, O Xangô de Baker Street, Jô aventura-se mais uma vez pela história do Brasil e traça uma obra mais calorosa, bem pesquisada e, claro, mais engraçada. Não se entusiasmem os leitores de que este é um livro do tipo stand up comedy com uma piada a cada parágrafo, longe disso, a piada está nas entrelinhas e vai exigir do leitor um mínimo de cultura sobre a história do Brasil para entender.

Reza a lenda que Jô leu mais de oitenta livros sobre Getúlio Vargas e a história do Brasil na época, além disso, contou com colaboradores de luxo como Rubem Fonseca, Fernando Morais e Hilton Marques para quem mandava os manuscritos em primeira mão aguardando uma análise dos amigos. Dizem que muitas vezes seguiu sugestões preciosas do Rubem Fonseca para tirar do texto piadas excessivas, e com isso ganhou muito no humor indireto através das situações patéticas vividas pelo protagonista.

O complexo personagem Dimitri Borja Korozec, filho de pai sérvio e mãe brasileira, é obcecado por Getúlio Vargas. O livro é quase uma biografia desse homem que tem como profissão ser assassino de líderes políticos, embora tenha uma propensão natural para a catástrofe. Dimitri é sempre o homem certo na hora errada com uma espantosa dificuldade de cumprir metas a que se propõe. Com uma marca de nascença extremamente visível por possuir seis dedos em cada mão sua pontaria não é nada prodigiosa, basta mirar no alvo que ele mesmo se torna a vítima.

O leitor passeia pelas desventuras desse assassino trapalhão desfrutando de passagens verídicas, ou não, muito interessantes da história europeia e brasileira.

Cidade do abandono: Rio de Janeiro/RJ
Local: Aeroporto Galeão - Praça em frente ao Rei do Mate
Data: 21/10/2013

domingo, 15 de setembro de 2013

CANTO DOS MALDITOS


Eu não acredito em coincidências assim como não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.  O fato é que há duas semanas estava conversando com um amigo sobre o filme Carandiru e intitulei a participação do Rodrigo Santoro no filme como ‘erro de casting’, parodiando outra amiga, a atriz Ilana Kaplan. E aí nos lembramos do filme Bicho de Sete Cabeças, dirigido por Laís Bodanzky, onde o ator vive um momento espetacular de atuação.

Essa semana a tosca novela Viver à Vida (Globo) mostrou a personagem Paloma internada numa clínica psiquiátrica, adjetivada como ‘radical e ultrapassada’, contra a sua vontade e com o discurso dos pais de que “é para o seu bem”. Isso imediatamente me remeteu ao livro que deu origem ao filme chamado Canto dos Malditos, escrito sob forma de denúncia biográfica, se é que existe essa categoria, por Austregésilo Carrano Bueno (1957-2008). É biografia porque o autor foi paciente de vários hospitais psiquiátricos e conta sua história de forma comovente e muito realista. É denúncia porque revela aos olhos do grande público os maus tratos físicos e psicológicos infringidos aos pacientes com altas doses de sedativos, péssimas condições de higiene e sessões de eletrochoque.

O ano é 1974, no auge da repressão militar em que os cabeludos, roqueiros e usuários de drogas eram rotulados como bandidos. O pai de Austry, apelido do autor, encontra em sua jaqueta um cigarro de maconha. Aconselhado por um amigo policial, interna o filho desajustado no Hospital Psiquiátrico Bom Retiro iniciando aí a experiência que marcaria Austry para sempre.

Austregésilo pesquisou durante nove anos toda a barbárie que sofreu, publicou esse livro, filiou-se ao Movimento da Luta Antimanicomial, moveu a primeira ação indenizatória por erro médico psiquiátrico no Brasil, perdeu a ação e foi condenado a pagar sessenta mil reais aos médicos e hospitais onde esteve internado, foi homenageado em 2003 pelo Ministério da Saúde pela sua luta contra os antiquados manicômios brasileiros.

Lição de vida que custou caro ao protagonista.

Cidade do abandono: Salvador\BA
Local: Ponto de ônibus - Praça da Igreja N S da Vitória
Data: 06\10\2013

domingo, 8 de setembro de 2013

RICARDO AMARAL APRESENTA: VAUDEVILLE


É fato, ultimamente ando esquecendo as coisas. Às vezes durante uma conversa quero citar um livro, um filme ou um ator e o nome não vem. Apesar de ter uma memória fotográfica excelente sou capaz de descrever a capa de um livro sem, contudo, lembrar o nome dele. A mesma coisa com o nome de um ator, ou atriz, sou capaz de dizer a novela, o personagem, mas o nome me foge, depois de certo tempo o título ou o nome aparece na memória como se fosse mágica. Várias vezes, ao escrever aqui no blog, recorro ao Google para avivar minha memória e escrever corretamente o nome de algum autor cujo livro eu sei que li. Será que nossa memória está ficando preguiçosa por saber que basta um clique e teremos a resposta no computador, celular, tablet, ou seja lá o que estiver ligado na rede?

Embora a consulta seja fácil não confio 100% do que está escrito na rede, até porque a internet é como um papel em branco, aceita qualquer coisa. Por isso continuo consultando dicionários e checando em várias fontes quando pesquiso um dado qualquer. E não perco a mania de fazer anotações na minha agenda sobre fatos, pessoas, livros, filmes, peças de teatro, sou um colecionador de programas de peças de teatro, óperas, dança, shows... Sim, tenho vários programas de shows, quando ainda se fazia esse tipo de coisa. Acho que vem daí meu gosto por livros de memórias. Não pelo lado fofoqueiro para saber a vida de famosos, e sim pela história que vivi junto ou que desejo conhecer. Quando li Noites Tropicais do Nelson Motta, O Circo Eletrônico do Daniel Filho, O Livro do Boni e vários outros, me emocionei em passagens porque em muitos momentos eu estava lá. É incrível dizer isso: “Eu estava lá”, ou dizer “Eu assisti isso”, eu fui um participante daquele momento, eu estava na plateia.

O fato aconteceu novamente ao ler o livro do Ricardo Amaral (1941) que se chama Ricardo Amaral apresenta: Vaudeville. São quase 500 páginas com 55 tópicos que li em apenas cinco dias tamanho o prazer em desfrutar de memórias tão entusiasmadas e tão bem escritas. Tem gente que passa a vida vivendo e tem gente que vive a vida, o Ricardo Amaral está definitivamente no segundo grupo. É uma obra para ler, aprender e se divertir com as mais diversas vertentes; do colunista ao empresário e produtor, uma lição.

Mas será que é tudo verdade? Logo na introdução ele revela:

“Juro que meu testemunho é o mais límpido produto da absoluta imprecisão. A mistura de um esforço de memória com a natural invenção involuntária que tenho praticado provavelmente no cotidiano. Os fatos que aqui conto, prometo, são verdadeiros, mas não consigo afirmar se realmente aconteceram, embora tenham sido buscados em minha memória consolidada. Na realidade, tenho dúvidas, por duas razões básicas. É um suceder de fatos muito intensos, e o leitor terá o direito de duvidar. E, principalmente, porque tenho ouvido e lido tantas versões de histórias por mim vividas, de tal maneira deturpadas, que começo a duvidar das minhas próprias!”

Para mim é uma biografia muito franca, e não exerci meu direito de duvidar.

Cidade do abandono: Salvador\BA
Local: Doces Sonhos - Corredor da Vitória
Data: 06\10\2013

domingo, 1 de setembro de 2013

ONZE MINUTOS


O escritor Paulo Coelho (1947) desperta sentimentos ambíguos nos leitores, alguns são fãs ardorosos enquanto outros são críticos ferozes, o fato é que Paulo segue produzindo livros que se tornam best sellers pela quantidade de vendas e nem sempre pela qualidade do que está escrito. Mas quem sou eu para julgar, apenas sigo lendo e me dou o direito de gostar ou não.

Em Onze Minutos o autor aventura-se pelo tema sexo e conta a história de Maria, o livro começa em tom farsesco com a frase “Era uma vez uma prostituta chamada Maria”, de cara tenta conquistar a cumplicidade do leitor explicando a frase que tem o cunho das histórias infantis com o “Era uma vez...” e em seguida coloca a adequação “prostituta”, que nada tem de infantil, e justifica... “Como posso escrever um livro com esta aparente contradição inicial? Mas, enfim, como a cada instante de nossas vidas teremos um pé no conto de fadas e o outro no abismo, vamos manter este início.”

O leitor então conhecerá Maria, uma jovem decepcionada com o amor aventurando-se no mundo desconhecido das relações sexuais como se fosse um conto de fadas, entre aspas, moderno. E nada mais clichê do que a história de uma mulher que amarga um sofrimento e encontra na relação com um homem algumas respostas para perguntas muito profundas na busca de si mesma.

Tenho amigos que leram o livro e embarcaram perfeitamente no tal conto de fadas. Eu sou canceriano com sol em câncer, ascendente peixes e lua novamente em câncer, e para os que entendem dessa conjunção astrológica sabem que ela poderia fazer de mim um romântico incurável. Entretanto confesso que meu lado peixes me deixa muito cético em relação a histórias mal contadas.

Essa é apenas uma opinião. A leitura, assim como a música, o teatro, a dança, a pintura, as artes em geral, tem o dom de poder tocar as pessoas de diferentes formas, e aí escrevo parodiando os clichês de Paulo Coelho, o que seria do rosa se todos só gostassem do azul?

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Escada G1 Sul
Data: 06/10/2013