É fato, ultimamente ando esquecendo as coisas. Às vezes
durante uma conversa quero citar um livro, um filme ou um ator e o nome não
vem. Apesar de ter uma memória fotográfica excelente sou capaz de descrever a
capa de um livro sem, contudo, lembrar o nome dele. A mesma coisa com o nome de
um ator, ou atriz, sou capaz de dizer a novela, o personagem, mas o nome me
foge, depois de certo tempo o título ou o nome aparece na memória como se fosse
mágica. Várias vezes, ao escrever aqui no blog, recorro ao Google para avivar
minha memória e escrever corretamente o nome de algum autor cujo livro eu sei
que li. Será que nossa memória está ficando preguiçosa por saber que basta um
clique e teremos a resposta no computador, celular, tablet, ou seja lá o que
estiver ligado na rede?
Embora a consulta seja fácil não confio 100% do que está
escrito na rede, até porque a internet é como um papel em branco, aceita
qualquer coisa. Por isso continuo consultando dicionários e checando em várias
fontes quando pesquiso um dado qualquer. E não perco a mania de fazer anotações
na minha agenda sobre fatos, pessoas, livros, filmes, peças de teatro, sou um
colecionador de programas de peças de teatro, óperas, dança, shows... Sim,
tenho vários programas de shows, quando ainda se fazia esse tipo de coisa. Acho
que vem daí meu gosto por livros de memórias. Não pelo lado fofoqueiro para
saber a vida de famosos, e sim pela história que vivi junto ou que desejo conhecer.
Quando li Noites Tropicais do Nelson Motta, O Circo Eletrônico do Daniel Filho,
O Livro do Boni e vários outros, me emocionei em passagens porque em muitos
momentos eu estava lá. É incrível dizer isso: “Eu estava lá”, ou dizer “Eu
assisti isso”, eu fui um participante daquele momento, eu estava na plateia.
O fato aconteceu novamente ao ler o livro do Ricardo Amaral
(1941) que se chama Ricardo Amaral apresenta: Vaudeville. São quase 500 páginas
com 55 tópicos que li em apenas cinco dias tamanho o prazer em desfrutar de
memórias tão entusiasmadas e tão bem escritas. Tem gente que passa a vida
vivendo e tem gente que vive a vida, o Ricardo Amaral está definitivamente no
segundo grupo. É uma obra para ler, aprender e se divertir com as mais diversas
vertentes; do colunista ao empresário e produtor, uma lição.
Mas será que é tudo verdade? Logo na introdução ele revela:
“Juro que meu testemunho é o mais límpido produto da
absoluta imprecisão. A mistura de um esforço de memória com a natural invenção
involuntária que tenho praticado provavelmente no cotidiano. Os fatos que aqui
conto, prometo, são verdadeiros, mas não consigo afirmar se realmente
aconteceram, embora tenham sido buscados em minha memória consolidada. Na
realidade, tenho dúvidas, por duas razões básicas. É um suceder de fatos muito
intensos, e o leitor terá o direito de duvidar. E, principalmente, porque tenho
ouvido e lido tantas versões de histórias por mim vividas, de tal maneira
deturpadas, que começo a duvidar das minhas próprias!”
Para mim é uma biografia muito franca, e não exerci meu
direito de duvidar.
Cidade do abandono: Salvador\BA
Local: Doces Sonhos - Corredor da Vitória
Data: 06\10\2013