domingo, 15 de setembro de 2013

CANTO DOS MALDITOS


Eu não acredito em coincidências assim como não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.  O fato é que há duas semanas estava conversando com um amigo sobre o filme Carandiru e intitulei a participação do Rodrigo Santoro no filme como ‘erro de casting’, parodiando outra amiga, a atriz Ilana Kaplan. E aí nos lembramos do filme Bicho de Sete Cabeças, dirigido por Laís Bodanzky, onde o ator vive um momento espetacular de atuação.

Essa semana a tosca novela Viver à Vida (Globo) mostrou a personagem Paloma internada numa clínica psiquiátrica, adjetivada como ‘radical e ultrapassada’, contra a sua vontade e com o discurso dos pais de que “é para o seu bem”. Isso imediatamente me remeteu ao livro que deu origem ao filme chamado Canto dos Malditos, escrito sob forma de denúncia biográfica, se é que existe essa categoria, por Austregésilo Carrano Bueno (1957-2008). É biografia porque o autor foi paciente de vários hospitais psiquiátricos e conta sua história de forma comovente e muito realista. É denúncia porque revela aos olhos do grande público os maus tratos físicos e psicológicos infringidos aos pacientes com altas doses de sedativos, péssimas condições de higiene e sessões de eletrochoque.

O ano é 1974, no auge da repressão militar em que os cabeludos, roqueiros e usuários de drogas eram rotulados como bandidos. O pai de Austry, apelido do autor, encontra em sua jaqueta um cigarro de maconha. Aconselhado por um amigo policial, interna o filho desajustado no Hospital Psiquiátrico Bom Retiro iniciando aí a experiência que marcaria Austry para sempre.

Austregésilo pesquisou durante nove anos toda a barbárie que sofreu, publicou esse livro, filiou-se ao Movimento da Luta Antimanicomial, moveu a primeira ação indenizatória por erro médico psiquiátrico no Brasil, perdeu a ação e foi condenado a pagar sessenta mil reais aos médicos e hospitais onde esteve internado, foi homenageado em 2003 pelo Ministério da Saúde pela sua luta contra os antiquados manicômios brasileiros.

Lição de vida que custou caro ao protagonista.

Cidade do abandono: Salvador\BA
Local: Ponto de ônibus - Praça da Igreja N S da Vitória
Data: 06\10\2013

2 comentários:

  1. Oi adorei a sua ideia de abandonar livros em locais publicos, só gostaria de melhora-la para que as pessas que encontra-sem os livros fize o mesmo que vc fez apos ler . uma carta na contra capa explicando o pq o livro foi abandonado e que se fosse de interesse da pessoa que ela fize-se o mesmo ao final da leitura para que outra pessoa pude-se encontra-lo.

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    1. Rosa,
      Essa explicação existe. Cada livro abandonado possui uma etiqueta na contracapa explicando que o livro faz parte do acervo do blog Abandonando Livros, incita o sortudo que o achou a ler e depois abandonar o livro novamente, registrando aqui no blog ou por e-mail suas impressões da obra, o dia e o local do novo abandono. Infelizmente poucos registram os achados, mas fico feliz assim mesmo.
      Obrigado por visitar o blog

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