domingo, 14 de abril de 2013

POMPAS FÚNEBRES


Quando vejo e leio nos jornais, blogs e redes sócias tanta mobilização pela saída do Sr. Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e Minorias fico a pensar naqueles que o elegeram, porque ele foi eleito democraticamente, e se essas pessoas ainda acreditam no seu discurso. Alguns dias atrás assisti pela TV a uma entrevista com o Sr. Jean Wyllys e também pensei naqueles que o elegeram. A imagem desgastada, meio cínica, e investigada do primeiro e a imagem eloquente, erudita, e até então ética do segundo. O primeiro veio da minoria e foi catapultado para uma quase maioria, sim, os fundamentalistas religiosos estão tomando conta das bancadas das assembleias, e o segundo continua minoria, já que a grande maioria homossexual que ele defende não mostra a cara na mesma proporção que os eleitores do primeiro mostram a Bíblia.

Como me considero um ser pensante converso aqui com os meus botões sobre o que move tudo isso, e o que realmente incomoda uns aos outros, a resposta veio quase que imediata: O SEXO. No discurso agressivo do primeiro e no discurso eloquente do segundo permeia quase de forma invisível a questão de com quem você faz sexo, porque é óbvio que ambos fazem sexo, cada um a sua maneira e com a frequência e a companhia que os aprazem. Mas a questão “maior” está no direito civil que cada ser humano deve ter independente da maneira que ele faz sexo.

Por isso escolhi para abandonar mais um livro do Jean Genet (1910-1986). O primeiro que abandonei foi Diário de Um Ladrão, post datado de 16/10/2011 que vale a pena reler para se ter uma ideia sobre o autor, e agora vai um livro “pedrada” que se chama Pompas Fúnebres. Escrito em 1947, mas publicado pela primeira vez no Brasil em 1968 numa edição bem pobrinha e cortada pela censura, surgiu completo somente em 1985 e trata-se das histórias verídico/fantasiosas sobre a ocupação da França pelos alemães cujos personagens eram todos considerados ‘invertidos sexuais’. A expressão da homossexualidade é mais difícil que a sua prática e raros são os testemunhos reais do erotismo exclusivamente masculino. Até nesse patamar as mulheres estão muito à frente dos homens. Nesse livro Genet aborda a rendição erótica do homossexual aos símbolos militares e sabe quanta homossexualidade contém, em segredo, no militarismo. Mas, ao invés de condenar a trapaça que o vitima, ele a usufrui ao máximo, abstraindo dos soldados, carrascos e torturadores a sua ideologia, usando seus corpos belos e musculosos preparados para o amor viril.

Genet, rebaixado, excluído e estigmatizado pela sociedade, vingou-se daqueles que julgaram sua forma de amar como um mal provocando-os, através da literatura, o desejo de experimenta-lo.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento Colégio Dorotéias - Garcia
Data: 18/06/2013

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