Ontem eu fui comprar um livro que pretendia reler e depois
abandonar. É a segunda vez que faço isso. O motivo: a coluna do jornalista
Hagamenon Brito no jornal Correio de sexta-feira, dia 28/9/12. Na coluna o
jornalista escreve sobre o filme TED e faz uma menção ao politicamente correto.
Daí cita uma ação que o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA) move
contra o livro ‘Caçadas de Pedrinho’ por considera-lo racista. Antes, a
professora Nilma Lino Gomes já havia emitido um parecer aprovado por
unanimidade pelo Conselho Nacional de Educação – CNE a partir de denúncia da
Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.
Eu li esse livro quando tinha 13 anos, e ontem reli as 72
páginas com meus já passados 49 anos. Ainda acho a obra do Monteiro Lobato
(1882-1948) genial, e o que fica pra mim são as lições de coragem,
perseverança, amor aos animais e principalmente o lado aventureiro de
Pedrinho, Narizinho, Emília e o Visconde. Convenhamos que o livro, escrito em
1933, tem uma linguagem diferente da que usamos hoje e em vários momentos soa
engraçado por trazer a tona coisas que
já não existem mais. Confesso que voltei aos 13 anos nas quase duas horas de
leitura e ri muito com as tiradas da Emília e os medos dos moradores do Sítio
do Pica Pau Amarelo.
São 72 páginas de puro deleite. Pedrinho, mais uma vez em
férias, organiza uma caçada para capturar uma onça-pintada que estava ameaçando
os moradores do Sítio. A expedição, formada por Narizinho, Emília, Rabicó,
Visconde de Sabugosa e o Saci, parte para a mata fechada do Capoeirão dos Tucanos
e lá veem de perto vários mitos do folclore brasileiro, como a Porca dos Sete
Leitões, a Cuca e o Boitatá. Todos se metem em muita confusão e por lá conhecem
um rinoceronte que se refugiara na mata após fugir do circo. Animal
pacatíssimo, do qual Emília logo tomou conta dando-lhe o nome de Quindim e
depois o levou para morar no Sítio.
Dos 12 aos 14 anos eu li toda a obra de Monteiro Lobato,
assisti na TV a primeira versão do Sítio do Pica Pau Amarelo assim como não
perdia Vila Sésamo. Fez parte da minha formação. Assim como Pedrinho, aprendi a
buscar as respostas para os meus “porquês” e tomar minhas próprias decisões.
Proibir o acesso, censurar, discriminar, vetar, segregar, é
muito chato. Na minha mais humilde opinião cada ser humano tem que decidir por
si, e quando se trata de cultura, educação, todos os lados da moeda devem ser
claros e cada qual que escolha o seu. Crianças não nascem racistas, os
conceitos são aprendidos com os pais, se os pais forem racistas os filhos terão
uma probabilidade muito grande de também ser, mesmo que nenhum dos dois tenha
lido sequer uma linha de Caçadas de Pedrinho.
Cidade do abandono: Atibaia/SP
Local: Itauá Ressort - Louge Recepção
Data: 17/12/2012