terça-feira, 2 de novembro de 2010

UM INSTANTE NA VIDA DO OUTRO


“E que seja perdido o dia em que não se dançou uma única vez! E que seja falsa para nós cada verdade perto da qual não tenha havido pelo menos uma gargalhada.” Nietzsche

Assim, com essa citação, Maurice Béjart (1927-2007) abre seu livro de memórias. É mais um livro biografia/memórias que abandonarei, e com o tempo vocês perceberão que serão muitos, porque gosto de ler biografias, mesmo as inacabadas ou não autorizadas. Não sou uma das irmãs Cajazeiras, mas sou chegado em histórias da vida alheia, de histórias reais, mesmo que às vezes elas pareçam por demais romanceadas, resultado da licença poética de quem as escreve ou estado de espírito de quem as lê.
Conheci a obra de Maurice Béjart em 1980 ao assistir o filme Retratos da Vida (Les uns et lês autres) do diretor Claude Lelouch, inspirada pela música de Maurice Ravel e brilhantemente reproduzida pelo bailarino Jorge Donn, sua coreografia Bolero encerra o filme. Quem viu o filme não conseguiu passar imune à cena final, a sutileza da música num crescente, os movimentos leves, sensuais, transformando-se em fortes, vigorosos, a inovação dos movimentos criados para um bailarino num palco circular são o fruto da genialidade de um coreografo ousado e inovador. A partir daí minha curiosidade sobre o autor da obra foi aguçada e culminou com a leitura do livro. Nele conheci o gênio da dança experimentando o desafio de falar de si, e em alguns momentos de se confessar, pois este livro nada mais é do que uma série de confidências. Béjart conta sobre sua fonte de inspiração primordial: a infância e os sonhos, explica como nasceu sua vocação, fato de certo modo ligado à morte de sua mãe quando ele ainda tinha sete anos, até o difícil nascimento dos seus primeiros balés: Symphonie pour un homme seul, Orphée, Nijinski, Bolero, Romeu e Julieta, Sagração da Primavera, e tantos outros, o medo do fracasso, sua irrequieta relação com Deus e a incessante busca do amor.

“Perde-se a guerra, o dinheiro, os amigos. Perdem-se as ilusões, os cabelos, o rosto. Frequentemente perde-se a cabeça. Perde-se também a fé. Mas o tempo nunca se perde.” (Pag. 174)

Meus amigos Weidy e Mari, cuja dança está na alma, espero que um dia vocês achem esse livro.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Teatro ISBA
Data: 07/01/2011

2 comentários:

  1. Renato, esse livro é muito interessante e vale a pena ser lido pelos amantes da dança. Visite o site Estante Virtual, é possível compra-lo por uma pechincha.
    Obrigado por visitar o blog.

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