O livro é composto por sete contos, escritos por sete
autores diferentes: Jorge Furtado, citado acima, Pedro Bial, Adriana Falcão,
Jorge Mautner, Luiz Ruffato, Márcia Denser e Isa Pessôa, com um elo em comum:
medicamentos controlados, mais conhecidos como ‘tarja preta’, aqueles que o
farmacêutico retém a receita médica e são vendidos com o controle do CPF do
paciente. Mas, longe de qualquer apologia, os contos são bem distintos e
preservam as características dos seus autores, nem todos são bons já vou logo
adiantando, mas nada de usar isso como desculpa para não ler o livro.
Pedro Bial (1958) conta uma história cujo protagonista deu
o nome dos remédios preferidos para seus jogadores do time de futebol de
botões. Adriana Falcão (1960), muito boa, escreve a história de uma serial killer que toma remédios e tem
conversas hilárias com seu próprio cérebro. O Luiz Ruffato (1961) lança mão de
uma crônica denúncia quando conta a história da mulher que vai ao hospital com
um histórico de traições e violência doméstica sofridas por causa do marido
alcóolatra e sai de lá com um “remedinho” para autoestima. Jorge Mautner (1941)
vai para a terapia quando conta a história de um casal em busca de uma
felicidade sempre constante e plena que desaba numa viagem quase lisérgica dos
personagens.
Recentemente fui assistir ao filme Boa Sorte da cineasta
Carolina Jabor, protagonizado por uma surpreendente Deborah Secco, quando li
nos créditos que o roteiro do filme foi inspirado no conto do Jorge Furtado
(1959) que mencionei no primeiro parágrafo. Que me perdoem os demais autores de
Tarja Preta, mas o conto Frontal com Fanta é o melhor. Isso na minha mais
humilde opinião de leitor leigo que nunca tomou um tarja preta na vida. Pelo
menos até hoje.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Av. Centenário - Ponto de ônibus
Data: 02/04/2016