domingo, 13 de dezembro de 2015

O COMPADRE DE OGUM


Tenho um respeito imenso pelo Jorge Amado (1912-2001). Desde a primeira vez que li Mar Morto, aos 15 anos e escondido da minha mãe porque na época era considerado livro obsceno para menores, não parei mais de ler até que completei toda a obra. É claro que por ser baiano tenho essa intimidade com o universo de Jorge, conheço bem as ladeiras, as praias, os terreiros e as comidas, e também é lógico que consigo ver seus personagens com uma proximidade tão grande que beira o realismo. Jorge sempre disse nas entrevistas que buscava inspiração nas ruas e seus tipos eram corriqueiros.

Eu li O Compadre de Ogum no final dos anos 1980, apesar de publicado em 1964 o livro teve pouca repercussão por causa da ditadura militar estabelecida no Brasil. Embora faça parte de um período muito fértil do autor, que começou em 1958 com a publicação de Gabriela, Cravo e Canela, é uma fase que Jorge deixa um pouco de lado os livros de cunho político-social e envereda pelo realismo fantástico começando a entrelaçar o cristianismo com o candomblé.

É esse o grande mote do livro. Quando Benedita, prostituta cobiçada pela boemia de Salvador, reaparece com um filho nos braços e o entrega a Massu dizendo que é dele, o negro se vê numa saia justa para encontrar um padrinho de batismo para o garoto já que a cerimônia deve acontecer antes que complete um ano. Todos os bêbados, jogadores, prostitutas, mães e filhas de santo se mobilizam para ajudar Massu, que era muito querido, a fazer a festa do batizado. Mas quem escolher diante de tantos pretendentes a padrinho? Para não chatear ninguém resolve consultar os orixás para obter a resposta quando recebe a revelação de que o próprio Ogum quer ser o padrinho do menino. Mas como fazer para que a divindade compareça na igreja no dia da festa e o padre permita que o “cavalo” entre na “casa de Deus”.

O final dessa história é pra lá de irreverente e bem ao estilo Jorge Amado. Seu bom humor extrapola as convenções do sincretismo fazendo-nos gargalhar com o inusitado das situações.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Mariposa - Apipema
Data: 30/01/2016

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