É claro que comprei imediatamente o livro do Haruki
Murakami (1929), mas, ao contrário do Roberto, levei quase um mês para lê-lo na
íntegra. Murakami tem os dois pés no realismo fantástico kafkiano, nos seus
escritos tudo é referência: comida, roupas, casas, bebidas e principalmente as
músicas. Seu personagem principal é um escritor freelance de artigos para
revistas, principalmente gastronômicas, que se auto define um ‘limpa-neve
cultural’. O protagonista tenta achar uma antiga namorada chamada Kiki que
sumiu quando ambos estavam hospedados no Hotel do Golfinho. Nessa busca por
Kiki ele se envolverá com uma garota clarividente e sua excêntrica família, um
ator canastrão, garotas de programa, revisitará um personagem do livro
anterior, o Homem Carneiro, e, por fim, conhecerá o amor verdadeiro. A partir
daí vivenciará a ansiedade da possível perda desse amor para a efemeridade da
vida.
Murakami não é econômico e seu personagem narrador não se
furta em descrever tudo que vê. Como são as pessoas e o que elas vestem, relata
suas refeições, o que bebe, lê e ouve. E foi aí que o livro me pegou porque sou
fascinado por descrições. Quando alguém me conta uma história fico questionando
para saber como estavam vestidos, como era o ambiente, o que comeram e por aí
vai. Para mim isso é essencial para que eu possa ouvir a história e fotografar
a cena na minha cabeça. Nesse momento as citações musicais, que são muitas,
assim como bebe em demasia e gosta de cozinhar sua própria refeição, o
protagonista ouve música o tempo todo e nos diz exatamente o que está ouvindo.
Em vários momentos fui procurar na internet a música citada para ouvir enquanto
lia. Agora que você já tem certeza que sou louco eu te devolvo a constatação,
quem não o é, mesmo que secretamente?
Dance Dance Dance não é um livro fácil, vai exigir uma
boa dose de dedicação para vencer as 492 páginas. Mesmo sendo um universo
totalmente japonês você se sentirá inserido num contexto universal. Pense
globalmente e escreva localmente é um estilo muito utilizado em nossa
literatura contemporânea. Afinal, um Maserati conversível, um casaco Adidas, um
Dunkin Donut’s e a música do Talking Heads serão exatamente os mesmos em
qualquer lugar do mundo.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Solar Café - Palacete das Artes
Data: 02/01/2016