domingo, 11 de outubro de 2015

O ESTRANGEIRO


Quando li O Estrangeiro pela primeira vez eu tinha vinte anos, era um ávido leitor por obras que mostrassem o caminho para o sentido da vida, e na época Albert Camus (1913-1960) já era considerado um autor controvertido, revoltado, existencialista, comunista e até um pouco reacionário. Confesso que sua obra me pareceu confusa, desprovida de sentimentos, e ao mesmo tempo muito visceral. Contraditória a percepção dos sentimentos por um jovem de vinte anos em 1983. Quando já tinha mais de quarenta anos reli a obra e percebi como é fantástica a sua narrativa e o quanto Mersault, o anti-herói de O Estrangeiro, personifica a busca pelo existencial, jogando fora o sentimentalismo e as tradições para ser ele mesmo, o ser sozinho.

“Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo: ‘Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos.’  Isso não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.”

Esse é o primeiro parágrafo do livro, o protagonista recebe um comunicado sobre o falecimento de sua mãe, viaja para o enterro e durante a cerimônia não consegue expressar nenhuma emoção. O livro prossegue com os fatos seguintes de sua vida, ele conhece um dos vizinhos de nome Raymond e o ajuda a livrar-se de uma de suas amantes árabes. Ambos se encontram com o irmão da mulher “o árabe” e após uma briga Raymond é ferido. Meusault volta à praia e atira no árabe. Durante seu julgamento a acusação concentra-se no fato de Meusault não ter conseguido chorar no velório da mãe, acusando-o de ser incapaz de sentir remorsos e por isso deve ser condenado à morte para prevenir que mate outras pessoas e também para tornar-se um exemplo. Nas linhas finais Meursault reconhece sua insignificância perante a indiferença do universo em relação a ele, e deseja sentir-se menos só.

Estamos falando de uma obra escrita em 1942, mais de setenta anos depois de sua publicação ela consegue nos instigar e questionar. Até hoje é discutida por acadêmicos, assim como outros livros do autor: A Peste e A Queda, e as peças de teatro Calígula e Estado de Sítio.

E aqui faço outra confissão, vou precisar ler novamente esse livro quando estiver mais velho. Se der tempo de ler, e tomara que sim, já que tantos livros ainda esperam na estante por um pouco da minha atenção.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Mezanino da G1 - Shopping Barra
Data: 02/01/2016

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