domingo, 28 de dezembro de 2014

TODO VÍCIOS


Ganhei esse livro de presente na noite de Natal e confesso que o li em dois dias tamanha a curiosidade que se apoderou de mim frente às histórias de João e Stella, personagens do novo livro de Maitê Proença (1958). Eu já havia abandonado outro livro dela, Uma Vida Inventada, veja o post publicado em julho de 2012, do qual gostei muito e essa sua faceta de escritora a cada dia me agrada mais.

Neste livro não existe uma trama. Os personagens João, um publicitário que já passou dos cinquenta anos, feioso, viciado em remédios reguladores de humor, e Stella, uma mulher madura, atriz, escultora, muito bonita e viciada em relacionamentos difíceis, são o protótipo dos casais atuais. Eles vivem se falando pelo celular já que o João foge da intimidade do telefone ou de encontros pessoais, o sexo entre eles é meio insosso, e pelo fato de escrever muito bem ele se safa em conversas bem humoradas e inteligentes. Stella por sua vez não consegue deixar de mergulhar nesse relacionamento, ela tem uma personalidade meio doentia ou não cairia nessa armadilha de desamor.

Isso me chamou a atenção, o desamor, os personagens dessa história não são o fator primordial do livro. O que eles fazem profissionalmente, suas famílias, seus bens, nada disso, seus sentimentos é que me interessaram, a forma como cada um se expressa e pensa é o grande trunfo do livro de Maitê. Fica claro logo nos primeiros capítulos que há pinceladas de experiências pessoais nos relatos e essa composição de humanidade tão próxima e tão atual me pegou de jeito. É uma relação improvável e confusa, de pessoas imersas em pensamentos e voltadas para o mundo virtual com uma falsa sensação de vida exuberante e feliz.

Vou abandonar esse livro para compartilhar rapidamente as sensações e tomara que quem o ache consiga trazer para si uma luz no fim desse túnel de relacionamentos. Boa leitura.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça de Alimentação em frente ao Baby Beef Express
Data: 08/02/2015

domingo, 21 de dezembro de 2014

SETE ANOS


O ano era 2007 quando Fernanda Torres (1965) recebeu um convite do Mario Sergio Conti para escrever um artigo para a recém-lançada revista piauí sobre o medo do ator de estar em cena. Ao ler esse texto na revista intitulado “No dorso instável de um tigre” a editora Cristina Grillo sentiu que dava um caldo e convidou-a para escrever uma coluna quinzenal na revista Veja Rio. Aceito o convite da Veja Rio e vários outros textos escritos para a piauí, em 2010 o sempre atento Sérgio Dávila propôs que ela abordasse o assunto eleições em uma coluna para o caderno Poder, do jornal Folha de S.Paulo. Convite aceito lá estava Fernanda Torres lançada aos leitores em diversas facetas.

Na apresentação Fernanda justifica o livro e título escolhido escrevendo: “as crônicas aqui reunidas foram escritas ao longo de sete anos e contam a história do meu noviciado. Desenvolver uma ideia dentro de um espaço determinado de linhas, falar de temas de interesse comum sem abrir mão do tom pessoal e dar valor à concisão são algumas lições que tomei do jornalismo.”

É óbvio que o lançamento vem na aba do sucesso de FIM. Já escrevi sobre ele aqui no blog em fevereiro desse ano, e é uma oportunidade de conhecer mais o pensamento da autora sobre outros assuntos que fogem completamente da ficção, tem um que de diário de bordo, é bem humorado e para quem gosta de bastidores é um deleite. E você ainda pode decidir a ordem de leitura subvertendo completamente a ordem meio que por assunto imposta pela editora.

Na minha mais humilde opinião recomendo a leitura do livro sem criar expectativas. Principalmente se você já leu FIM. Se não o leu então inverta a ordem de publicação e leia Sete Anos primeiro. Você vai se acostumar com o estilo de escrever e o humor fino de Fernanda e quando for ler FIM vai gargalhar. Eu recomendo.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Perini - Graça
Data: 01/02/2015

domingo, 14 de dezembro de 2014

A SANGUE FRIO


No início do ano perdemos o ator Philip Seymour Hoffman (1967-2014), não por acaso porque não acredito em coincidências esta semana eu assisti pela terceira vez o filme Capote, do qual gosto imensamente, cuja interpretação do personagem título Philip arrebatou o Oscar de Melhor Ator em 2005. Do filme fui para o livro A Sangue Frio, o mais célebre da carreira de Truman Capote (1924-1984) e que inaugurou uma até então inédita classificação na literatura ‘Romance de Não-Ficção’.

Em setembro de 1965 a revista The New Yorker publicou o último dos quatro capítulos sobre o assassinato da família Clutter com recordes de venda, a história toda em formato de livro só seria publicada um ano depois. Os Clutter foram mortos com tiros de espingarda, depois de amarrados e amordaçados, Herb Clutter, o pai, Bonnie Clutter, a mãe, e os filhos Kenyon e Nancy eram muito queridos na pacata cidade de Holcomb, estado do Kansas, e o motivo dos crimes era uma incógnita uma vez que só foi levado da casa um rádio, um par de binóculos e quarenta dólares.

Poucos meses depois Richard Hickock e Perry Smith foram presos pela chacina e logo depois condenados à morte. A sentença foi cumprida em 1965 por enforcamento. Truman Capote tomou conhecimento do caso por uma nota no jornal e resolveu investigar o caso. Um mês depois dos crimes já estava na cidade e entrevistou moradores e familiares das vítimas. Com a apresentação dos assassinos foi mais fundo, recolheu documentos oficiais, leu diários, conheceu os familiares e conseguiu entrevista-los. Toda essa ação durou seis anos, tempo suficiente para que Truman ficasse íntimo dos condenados, principalmente Perry Smith cujos depoimentos revelam uma tamanha proximidade que há indícios que eles tenham tido um relacionamento amoroso até a data da sentença. Truman assistiu ao enforcamento dos assassinos.

Por não ser uma reportagem houve quem duvidasse de alguns relatos e de várias passagens descritas na história acusando Truman de romanceá-las demais, mas há de se dar o devido crédito pela reconstituição dos perfis psicológicos das vítimas e de seus algozes. O livro, claro, é muito mais rico que o filme. E este tem a seu favor o talento inigualável de Philip Seymour Hoffman.

Leia o livro e veja o filme, na minha mais humilde opinião, necessariamente nessa ordem.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça Campo Grande - Parquinho
Data: 10/01/2015

domingo, 7 de dezembro de 2014

WILL & WILL - UM NOME, UM DESTINO


Toda Vez que vou abandonar um livro do John Green (1977) fico na dúvida se devo fazê-lo ou não. O primeiro livro dele que abandonei foi A Culpa É das Estrelas e já faz algum tempo, foi em novembro de 2012. Li esse livro duas vezes e presenteei amigos antes dele ficar ‘famosinho’ e virar filme em 2014. Depois escrevi sobre outro livro: Teorema Katherine, que John havia escrito seis anos antes. Desde 2012 venho lendo obras anteriores do autor, já que não houve nada de novo posterior ao grande sucesso editorial e cinematográfico de A Culpa... E cada vez me surpreendo com o jeito de escrever e o estilo bem peculiar do autor de colocar frases e pensamentos na boca de adolescentes de maneira tão bem humorada e verdadeira.


A bola da vez é Will & Will, que na tradução brasileira ainda ganhou o subtítulo; Um nome, Um destino. De todos os livros do John Green que já li esse é o mais gay, entretanto é quase um gay idealizado para um mundo perfeito. A homossexualidade é tratada de forma normalíssima, até no ambiente escolar, com uma ou outra raríssima cara feia. E se estou usando todos esses superlativos é porque sei bem o que estou dizendo.

No livro fica bem claro quando estamos lendo separadamente a história de cada um dos Will Grayson e sua forma de encarar a vida. Ambos tem problemas em arranjar amigos, e nesse assunto tanto o Will Gayson hétero quanto o Will Gayson homo padecem de formas diferentes, o Will hétero tem um enorme amigo, com mais de 100 quilos e é o aluno mais gay da escola. O Will homo tem uma tendência depressiva e sua baixa autoestima deixa que sua melhor amiga Maura o puxe ainda mais pra baixo.

A vida de ambos será ligada pelo destino, coisas que acontecem e fazem com que as pessoas se conheçam. O amigo gay do Will héreto, Tiny Cooper, será o protagonista do livro. Será ele quem vai unir esses dois Will’s de forma tão intensa e para o bem. O livro parece uma daquelas comédias quase românticas que passarão um dia na Sessão da Tarde, um mix de jovialidade, vida escolar, relacionamento com os pais, os amigos, o primeiro amor e, claro, um musical para dar vazão aos talentos de jovens atores e justificar a união de todos para um final feliz.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Shopping Rio Vermelho - Escada do mezanino
Data: 10/01/2015