domingo, 14 de dezembro de 2014

A SANGUE FRIO


No início do ano perdemos o ator Philip Seymour Hoffman (1967-2014), não por acaso porque não acredito em coincidências esta semana eu assisti pela terceira vez o filme Capote, do qual gosto imensamente, cuja interpretação do personagem título Philip arrebatou o Oscar de Melhor Ator em 2005. Do filme fui para o livro A Sangue Frio, o mais célebre da carreira de Truman Capote (1924-1984) e que inaugurou uma até então inédita classificação na literatura ‘Romance de Não-Ficção’.

Em setembro de 1965 a revista The New Yorker publicou o último dos quatro capítulos sobre o assassinato da família Clutter com recordes de venda, a história toda em formato de livro só seria publicada um ano depois. Os Clutter foram mortos com tiros de espingarda, depois de amarrados e amordaçados, Herb Clutter, o pai, Bonnie Clutter, a mãe, e os filhos Kenyon e Nancy eram muito queridos na pacata cidade de Holcomb, estado do Kansas, e o motivo dos crimes era uma incógnita uma vez que só foi levado da casa um rádio, um par de binóculos e quarenta dólares.

Poucos meses depois Richard Hickock e Perry Smith foram presos pela chacina e logo depois condenados à morte. A sentença foi cumprida em 1965 por enforcamento. Truman Capote tomou conhecimento do caso por uma nota no jornal e resolveu investigar o caso. Um mês depois dos crimes já estava na cidade e entrevistou moradores e familiares das vítimas. Com a apresentação dos assassinos foi mais fundo, recolheu documentos oficiais, leu diários, conheceu os familiares e conseguiu entrevista-los. Toda essa ação durou seis anos, tempo suficiente para que Truman ficasse íntimo dos condenados, principalmente Perry Smith cujos depoimentos revelam uma tamanha proximidade que há indícios que eles tenham tido um relacionamento amoroso até a data da sentença. Truman assistiu ao enforcamento dos assassinos.

Por não ser uma reportagem houve quem duvidasse de alguns relatos e de várias passagens descritas na história acusando Truman de romanceá-las demais, mas há de se dar o devido crédito pela reconstituição dos perfis psicológicos das vítimas e de seus algozes. O livro, claro, é muito mais rico que o filme. E este tem a seu favor o talento inigualável de Philip Seymour Hoffman.

Leia o livro e veja o filme, na minha mais humilde opinião, necessariamente nessa ordem.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça Campo Grande - Parquinho
Data: 10/01/2015

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