domingo, 3 de agosto de 2014

FILHAS DO SEGUNDO SEXO


O jornalista Paulo Francis (1930-1997) autor do livro que pretendo abandonar nunca passou batido, era célebre criador de polêmicas desde quando atuou como crítico de teatro. Tentou realizar um movimento para enxotar espetáculos que promovessem somente as estrelas do momento enaltecendo aqueles que apresentassem os textos do repertório clássico não apenas como espetáculo, mas privilegiassem o que ele chamava de ‘ato cultural’. Protagonizou uma critica feroz contra a atriz Tônia Carrero chamando-a de prostituta e foi agredido fisicamente por causa disso pelo marido da atriz, Adolfo Celi, e pelo ator Paulo Autran, colega de Tônia no Teatro Brasileiro de Comédia.

Preso duas vezes acusado de atitude subversiva pelos órgãos de repressão, em 1971 decidiu ir morar em Nova York passando a atuar como correspondente para O Pasquim, Tribuna da Imprensa, revista Status e jornal Folha de São Paulo. Na TV, em 1997, quando fez parte do programa Manhattan Connection transmitido pelo canal GNT, foi processado após a declaração de que a Petrobrás deveria ser privatizada porque seus diretores possuíam milhões de dólares em contas na Suíça.

Amargou fracassos na literatura, desde o livro de memórias intitulado O Afeto Que Se Encerra até Filhas do Segundo Sexo. E eu, na minha mais humilde opinião, acredito que esse fracasso deveu-se principalmente à personalidade do autor do que a obra em si. Achei o livro muito divertido, são duas histórias distintas: “Mimi vai à guerra” e “Clara, Clarimunda”, em ambas há a tentativa de colocar em discussão a emancipação da mulher de classe média brasileira entre 1959 e 1969, rechaçando a lama da elite através de uma crônica sem muitos formalismos, mas de excelente humor, quase beirando o inusitado.

Frases como: “O que mamãe explicava que Mimi entregaria a Gil na noite do casamento, Mimi entregara anos atrás e nem lembrava a quem...”, ou “Clara ficou de pé. Não tinha remorsos, tinha carências...” mostram que não há heróis nos seus escritos, a lucidez gerada pelas experiências dolorosas não deixa nenhuma das duas assumir o papel de vítima.

Citando uma frase muito emblemática da época, Paulo Francis era “Ame-o ou Deixe-o”.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Sofá em frente a loja Fototica - Shopping Barra
Data: 12/10/2014

3 comentários:

  1. Oi Odilon. Gosto muito da maneira q vc apresenta os livros. E os livros que apresenta. De uma forma única, vc me deixa com vontade de ler livros que fogem dos holofotes literários. Gosto muito disso. Parabéns
    Abraços
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  2. Gih,
    Obrigado pelas lindas palavras, acredito que livros são eternos e a leitura é atemporal. Outro dia li no seu blog um post sobre nomes de personagens, achei o tema e a abordagem muito interessantes. Parabéns. Fico grato pela visita ao blog.

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  3. Eu tenho a mesma opinião. Paulo Francis escritor foi vítima do Paulo Francis polemista. Todo mundo caiu de pau ou desprezou sua ficção por causa de sua "prepotência" ou seja lá que expressão possa ser usada... Vc foi no alvo...

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