domingo, 17 de agosto de 2014

A ELEGÂNCIA DO OURIÇO


Recentemente estive em São Paulo, foram nove dias intensos e cheios de significados graças aos bons amigos que por lá deixei desde que voltei a morar em Salvador e que preservo como joias, daquelas que merecem caixas pretas de veludo e cofres atrás de quadros tal qual vemos nas novelas. Um desses amigos é Roberto Camargo, sempre me hospedo na sua “casa cenário”, piada interna entre nós, e abro o máximo que posso minha percepção para novos horizontes principalmente nas artes.

Dessa visita levei um livro chamado A Elegância do Ouriço, o título pode parecer esquisito a primeira vista, mas basta ler o primeiro capítulo para mergulhar de cabeça no cotidiano do prédio da Rue de Grenelle no 7, Paris, endereço chique onde só moram pessoas ricas e de família tradicional. Esse é o segundo livro de Muriel Barbery (1969), uma escritora que eu nunca havia ouvido falar mas tornei-me fã incondicional do seu estilo literário que mistura uma boa história e um pouco de filosofia para fazer pensar. Nos dias atuais em que a velocidade tirou o lugar da paciência, da singeleza, precisamos pensar mais, e pensar seriamente sobre o que estamos fazendo de nós mesmos.

Muriel tem a ousadia de escrever um livro com duas narradoras: a primeira é Renée, a concierge, ou zeladora para os padrões daqui, uma mulher desprovida da beleza clássica das mulheres em geral, veste-se numa carapaça de ranzinza capaz de bater a porta na cara de qualquer um que a incomode fora do seu horário de trabalho para que ninguém adivinhe o que esconde na sua humilde casa de zeladora. Renée é na verdade uma observadora refinada, uma amante extremada das letras e das artes, leu tudo que pôde, conhece todas as nuances dos grandes pensadores e filósofos, admira a arte na música, no cinema e é capaz de reconhecer o autor de um quadro pelo seu traço, sem precisar olhar a assinatura.

A segunda narradora é Paloma, uma garota de doze anos filha de um dos abastados moradores do edifício e que tem a mesma postura de Renée para esconder dos outros sua inteligência e perspicácia. Ela tem um plano para quando completar treze anos e é a responsável pelos “Pensamentos Profundos” e pelo “Diário do Movimento do Mundo” que o livro nos injeta e nos faz refletir, afinal é uma garota com apenas doze anos.

A chegada de um novo morador, o Sr. Ozu, irá desvendar a alma das duas narradoras e fazer desse trio nosso objeto de desejo.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Café da Sala de Cinema Walter da Silveira
Data: 01/11/2014

Um comentário:

  1. Pensamentos Profundos e Diário do Movimento do Mundo! Morro de saudades desse trio... Louco para reler assim que mo devolverem! E saudades de você aqui em SP também. Volte logo!

    ResponderExcluir