domingo, 11 de maio de 2014

O QUE É ISSO COMPANHEIRO?


Lembro perfeitamente do dia em que vi pela primeira vez uma foto de Fernando Gabeira (1941), era a famosa foto da sunga de crochê rosa que ele usou na praia de Ipanema no Rio de Janeiro após seu retorno do exílio, estávamos em 1981. Desde 1979 o livro O Que É Isso Companheiro? já circulava entre a moçada da praia e os modernetes mais antenados. Ainda vivíamos sob um clima tenso, já com anistia política, mas sob uma pressão impregnada que vinha dos governos militares.

Lembro também de uma entrevista do Gabeira em que ele dizia, de forma bem humilde, que seu livro era apenas um depoimento, um ensaio sobre sua vida, uma forma de expurgar suas angústias e os fatos que marcaram, e marcariam, sua existência para sempre. Eu era um jovem de dezenove anos nada politizado e com uma visão de mundo bem pequeno burguesa, ao ler a entrevista percebi que era chegada a hora de saber mais sobre o assunto não pelos livros de história, e sim pelas biografias daqueles que fizeram acontecer.

Cabe lembrar a você, leitor desse blog, que o ano era 1964 e se você nunca leu esse livro, ou não estava vivo no período, é bom ter em mente que estávamos no auge dos Beatles e dos Rolling Stones, havia um slogan americano “Make Love, Not War” que martelava em nossas cabeças frente à guerra do Vietnã, aqui no Brasil o Tropicalismo era o tom na revolta contra os militares e a vontade de mudanças. Algumas pessoas mergulharam de corpo e alma num comprometimento legítimo de mudanças que resultou no país livre que temos nos dias de hoje.

Fernando Gabeira conta sobre seu engajamento, sua experiência na luta armada, a clandestinidade, os bastidores do sequestro do embaixador Charles Elbrick, sua prisão e os anos de exílio. Narrado na primeira pessoa a obra tornou-se um sucesso de vendas e acredito que isso aconteceu por causa da narrativa que misturava fatos históricos relevantes, um toque de romance e reflexões do autor sobre ter valido ou não a pena tudo que viveu. Acredito piamente que era uma obra à frente do seu tempo quando foi publicada pela primeira vez em 1979.

Em 1997 o cineasta Bruno Barreto levou para as telas do cinema um filme baseado no livro. Se quiserem um conselho, não o vejam, na minha modestíssima opinião é um filme raso e ruim, um passo infeliz na carreira do diretor. Se você quer saber mais vá direto à fonte, o livro está por aí e pode ser adquirido por um precinho bem camarada.

Cidade do abandono: Fortaleza/CE
Local: Restaurante Sirigato
Data: 25/06/2014

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