domingo, 27 de outubro de 2013

DOSTOIÉVSKI – PROSA POESIA


Você já leu alguma coisa de Dostoiévski?

Começo esse post com a pergunta por que, em geral, as pessoas se assustam muito com a literatura russa. A meu ver é uma injustiça com os grandes pensadores russos. Acredito que você, se não leu, pelo menos já ouviu falar dos livros Crime e Castigou ou Os Irmãos Karamazov. Para aqueles que não os leram peço encarecidamente que o façam o mais rápido possível, tenho plena certeza de que pelo menos um deles consta em todas as listas dos dez livros que você deve ler antes de morrer, e você não quer chegar ao Juízo Final com essa falha no currículo literário, ou quer?

Brincadeiras à parte Dostoiévski (1821-1881) é um gênio esquecido nas prateleiras das livrarias e aqui humildemente proponho um resgate da sua obra usando o livro do Boris Schnaiderman. Ele traz o foco principal para o conto 'O Senhor Prokhartchin' escrito por Dostoiévski quando ele tinha apenas vinte e cinco anos. Trata-se de uma tradução direta do russo e tem como prioridade a maior fidelidade possível ao texto e ao estilo do autor. O livro traz também uma análise desse conto, que já foi subestimado e tratado como obra imatura, mas que é revalorizado no livro por seu caráter premonitório e de ruptura. Quando o li pude perceber exatamente que Dostoiévski já estava ali, mesmo jovem, ele já existia como pensador.

Agradeço muito ao Marcelo Affini, amigo querido de São Paulo que em 1996 abriu meus olhos para essa obra fascinante e que infelizmente perdi o contato depois que ele foi morar fora do país. Espero que ele leia esse post e saiba que vou dividir o livro que me deu com alguém que não conheço. Conversávamos muito sobre o poder de influência da boa literatura na formação do ser humano e quando eu estava amadurecendo a ideia de criar esse blog em vários momentos pensei em suas palavras.

Marcelo, esse post é em sua homenagem.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Garagem - Salvador Shopping
Data: 29/12/2013

domingo, 20 de outubro de 2013

DOM CASMURRO / O ALIENISTA


Afinal, Bentinho foi ou não traído por Capitu?

Se Capitu fosse a personagem principal da novela das 21 horas da Rede Globo nos dias de hoje, com certeza o assunto estaria no topo dos mais comentados das redes sociais.

Entretanto a história dos dois foi escrita em 1899 pelo fabuloso Machado de Assis (1839-1908) e até hoje rende teses de mestrado em literatura realista. Mas cabe lembrar ao leitor desse blog que todo o romance é narrado por Bentinho, ele decide contar a história desde a infância para tentar entender o que há em sua vida além do suposto adultério de sua mulher. No fundo ele só quer saber se ela sempre foi como ela a via depois do casamento, falsa e dissimulada, e enquanto Bentinho narra seus amores corre o risco de manipular nossas opiniões a seu favor pois vai dando pistas de que ela poderia mesmo tê-lo traído e ter tido um filho com o melhor amigo dele.

Fique você bem esperto porque é a voz dele, um homem rico e advogado bem sucedido, que você ouve. Capitu não está mais lá, no seu "julgamento", para se defender. Ela já havia morrido. E ele precisa entender o que houve com o amor e o casamento. É um livro fascinante, eu já li duas vezes, na primeira tive certeza de que Capitu o havia traído porque Bentinho era um chato mimado. Na segunda vez tive certeza de que ela não o traiu, era correta demais e o amava muito, mesmo que, a meu ver, ele não a merecesse.

O que mais me atrai na obra de Machado de Assis é que ele, além de genial, é muito bem humorado. Neto de escravos alforriados foi criado no morro do Livramento, Rio de Janeiro, ajudando a família como podia e não frequentou regularmente a escola. Sua instrução veio por conta própria por causa do interesse que tinha em todos os tipos de leitura. Foi graças à leitura que se tornou um dos melhores escritores brasileiros de todos os tempos.

A edição que será abandonada possui dois livros em um, além de Dom Casmurro você vai levar também O Alienista e uma pequena biografia do autor para ajudar a apaixonar-se de vez por Machado de Assis.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus - Cinema de Arte - UFBA
Data: 15/12/2013

domingo, 13 de outubro de 2013

A OBRA EM NEGRO


Hoje quero falar de um livro que para mim é um clássico. Digo isso porque foi escrito por uma das minhas autoras preferidas, Marguerite Yourcenar (1903-1987). Até hoje me sinto impactado pelas suas palavras, em especial escritas no livro Memórias de Adriano, e me pergunto sempre: que mulher era essa? Lembrando que a publicação de Memórias de Adriano ocorreu em 1951 e contava com uma estrutura literária, digamos, incomum, não só para a época como é até hoje.

Não menos importante, já que Memórias de Adriano faz parte da lista de livros que irei recomendar incansavelmente a leitura mas nunca conseguirei abandonar o meu exemplar velhinho e cheio de anotações, A Obra em Negro é um livro importantíssimo para aquelas pessoas que gostam de histórias sobre jornadas que modificam uma vida. Muito antes do fenômeno Paulo Coelho e da febre dos livros de autoajuda, Marguerite nos brindou com a história de Zênon.

Alquimista, médico e filósofo, Zênon está em busca da Grande Obra, aquela que todos chamam de ‘Pedra Filosofal’, para quem não conhece a história ela seria, segundo os alquimistas, a pedra que teria o poder de transformar qualquer metal em ouro. Longe de parecer apenas uma caça ao tesouro, a investigação alquímica empreendida por Zênon confunde-se com a obscura busca de si mesmo em meio a guerras, pestes, heresias e execuções ocorridas durante um período particularmente conturbado da história europeia do século XVI.

Diz a lenda que Marguerite Yourcenar, numa carta endereçada ao seu editor Gaston Gillimard em 1968 confessava-se apreensiva: “Pensei escrever as Memórias de Adriano para dez pessoas, e enganei-me. Creio neste momento terminar A Obra ao Negro para dez pessoas e é muito possível que não me engane.” Ela mais uma vez voltou a enganar-se, em apenas dois meses o novo livro esgotou duas edições vendendo mais de quarenta mil exemplares.

Cidade do abandono: Rio de Janeiro/RJ
Local: Hotel Guanabara - Gaveta da Cômoda - Apto: 1828
Data: 23/10/2013

domingo, 6 de outubro de 2013

FURACÃO ELIS


Depois que completei cinquenta anos ando remexendo muito em minhas memórias, mas fiquem tranquilos porque não tenho a pretensão de escrever um livro, os desabafos escritos aqui no blog já são suficientes para avivar o que vivi em priscas eras, como diria meu amigo Ricardo Linhares. Quando digo que ando remexendo a memória é porque em alguns momentos de solidão e silêncio, aqueles momentos em que estou lendo ou escrevendo e de repente lembro um fato antigo, uma situação ou uma pessoa, que muitas vezes não tem nada a ver com o que estava fazendo e aí congelo por alguns minutos deixando a lembrança fluir.

Num desses momentos de devaneio lembrei o show Essa Mulher que assisti no Teatro Castro Alves, e não por acaso a música que tocava no laptop era a mesma, na voz inesquecível de Elis Regina. Lembrei imediatamente do vestido, da orquídea no cabelo, da luz, e do silêncio da platéia, lembrei exatamente da sensação da época; a de que Elis cantava só para mim.

Parei o que estava fazendo e fui pegar o livro Furacão Elis. Publicado em 1985, pouco mais de três anos após a morte da cantora, pela jornalista Regina Echeverria (1951) o livro é quase uma reportagem, um quebra cabeça escrito em doze capítulos que recontam a infância e adolescência em Porto Alegre, os caminhos para chegar ao sucesso como cantora e a sua morte em São Paulo, com base em depoimentos de familiares e amigos e também de entrevistas e matérias publicadas sobre Elis. Não é um livro somente para fãs da cantora, é uma obra de revelações que serve para entender, ou tentar entender, a personalidade forte e o tino musical de uma pessoa tão complexa que viveu apenas por trinta e seis anos.

Na edição que pretendo abandonar há um capítulo especial com a cronologia da vida de Elis, e outro com a discografia, que não é completa, mas já é suficiente para se ter uma dimensão da sua obra. Aproveite o link abaixo e escute Essa Mulher na voz de Elis, música composta por Joyce e Ana Terra com arranjo de Cesar Camargo Mariano, e veja nas entrelinhas da letra um pouco da mulher Elis Regina Carvalho Costa.


Cidade do abandono: Rio de Janeiro/RJ
Local: Restaurante Filet e Folhas - Rua do Rosário
Data: 23/10/2013