Meu primeiro contato com a obra do José Saramago (1922-2010)
se deu quando morava em São Paulo e fui assistir no teatro uma peça inspirada
na sua bem polêmica obra intitulada ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, uma
montagem bem bacana que me despertou para a leitura do livro. Daí para ler
quase toda a obra foi um passo já que o autor tem uma veia única para contar
suas histórias. E que histórias. Vocês devem lembrar do filme ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ que também teve o enredo inspirado na obra
homônima do Saramago.
Em ‘História do Cerco de Lisboa’ o leitor se depara com a
história real do cerco a Lisboa em 1147 quando os portugueses, com a ajuda dos
cruzados, tomaram a cidade dos mouros. E a outra história, inventada, fictícia,
que surge através de um ato do revisor Raimundo Silva depois de alterar
injustificadamente uma palavra em certa frase na revisão de um livro, mudando a
história real com a simples força de um “não”.
Para além das decorrências desse ato Raimundo Silva vai
viver outra história, desta vez com sua editora Maria Sara, um encontro amoroso
na Lisboa de hoje, duas narrativas tecidas e entretecidas de forma brilhante
pelo mestre Saramago. A nova história do cerco é crônica do amor tardio do
revisor falsário por Maria Sara que se espelha, vários séculos depois, no amor
do soldado Mogeuime por Ouroana aos pés da cidade prestes a cair. É uma
fascinante meditação sobre a natureza e as relações entre a ficção e a
história, a vivida e a narrada, as possiblidades do romance enquanto meio de
recriar o passado e o presente.
“Está demonstrado, portanto, que o revisor errou, que se não
errou confundiu, que se não confundiu imaginou, mas venha atirar-lhe a primeira
pedra aquele que não tenha errado, confundido ou imaginado.” Sentencia o autor.
Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Entrada do metrô Consolação
Data: 25/03/2013
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