domingo, 3 de março de 2013

HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA


Meu primeiro contato com a obra do José Saramago (1922-2010) se deu quando morava em São Paulo e fui assistir no teatro uma peça inspirada na sua bem polêmica obra intitulada ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, uma montagem bem bacana que me despertou para a leitura do livro. Daí para ler quase toda a obra foi um passo já que o autor tem uma veia única para contar suas histórias. E que histórias. Vocês devem lembrar do filme ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ que também teve o enredo inspirado na obra homônima do Saramago.

Em ‘História do Cerco de Lisboa’ o leitor se depara com a história real do cerco a Lisboa em 1147 quando os portugueses, com a ajuda dos cruzados, tomaram a cidade dos mouros. E a outra história, inventada, fictícia, que surge através de um ato do revisor Raimundo Silva depois de alterar injustificadamente uma palavra em certa frase na revisão de um livro, mudando a história real com a simples força de um “não”.

Para além das decorrências desse ato Raimundo Silva vai viver outra história, desta vez com sua editora Maria Sara, um encontro amoroso na Lisboa de hoje, duas narrativas tecidas e entretecidas de forma brilhante pelo mestre Saramago. A nova história do cerco é crônica do amor tardio do revisor falsário por Maria Sara que se espelha, vários séculos depois, no amor do soldado Mogeuime por Ouroana aos pés da cidade prestes a cair. É uma fascinante meditação sobre a natureza e as relações entre a ficção e a história, a vivida e a narrada, as possiblidades do romance enquanto meio de recriar o passado e o presente.

“Está demonstrado, portanto, que o revisor errou, que se não errou confundiu, que se não confundiu imaginou, mas venha atirar-lhe a primeira pedra aquele que não tenha errado, confundido ou imaginado.” Sentencia o autor.

Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Entrada do metrô Consolação
Data: 25/03/2013

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