Estou
aqui sentado na frente do computador há mais de 40 minutos. Desde que peguei A
Hora da Estrela na estante que o livro tremula em minhas mãos. Releio trechos, lembro-me
das passagens, penso no filme da Suzana Amaral e a figura da Marcélia Cartacho
vem forte na memória, e uma questão me atormenta: Como vou passar para o leitor
do blog tamanho sentimento?
A
Hora da Estrela foi o último livro publicado pela jornalista e escritora
Clarice Lispector (1920-1977). E todos dos livros que li da autora me deixaram
assim, transbordando em sentimentos. É uma incógnita como ainda hoje consegue
mexer tanto comigo, desde a primeira vez que li A Paixão Segundo G.H. que fui
arrebatado por Clarice e tornei-me leitor assíduo da sua obra.
Nos
idos anos 80 confesso que fiz cara feia quando ouvi dizer que um dos meus
livros preferidos seria transformado em filme. Não acreditei em tamanho
atrevimento e pensei; vão transformar os textos de Clarice em lixo. Até começar
a ouvir as críticas positivas, os prêmios arrebatados, e deixar-me seduzir pela
interpretação magistral de Marcélia Cartaxo que passou a ser minha referência
de personificação todas as vezes que senti saudades da ingênua Macabea.
A
Hora da Estrela é um romance sobre o desamparo. A história é narrada pelo então
fictício escritor Rodrigo S. M. e começa quando uma moça do interior vai para o
Rio de Janeiro em busca de seus sonhos. Quando somos apresentados a Macabea
vimos o quanto miserável é a sua vida e o quanto ela não tem consciência sobre
isso.
Lembro
muito bem de uma entrevista que Clarice concedeu à TV Cultura e que tive a
oportunidade de assistir anos depois da veiculação. Na entrevista Clarice dizia
que estava escrevendo um livro que já tinha pensado para ele mais de quinze
títulos diferentes e contava a história de uma moça tão pobre que só comia
cachorro quente. Mas a história não é bem essa, ela nos transporta para uma
inocência há muito perdida, uma miséria não contabilizada, mas que tem um final
feliz para a anônima protagonista.
Um
livro que deve ser lido, um filme que deve ser visto, uma saudade incrível da
Marcélia Cartaxo, Tamara Taxman e do José Dumont. Saudade maior de uma Clarice
Lispector em nossas vidas.
Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Casa do Pão de Queijo - Conjunto Nacional
Data: 26/03/2013
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