sábado, 9 de março de 2013

A HORA DA ESTRELA


Estou aqui sentado na frente do computador há mais de 40 minutos. Desde que peguei A Hora da Estrela na estante que o livro tremula em minhas mãos. Releio trechos, lembro-me das passagens, penso no filme da Suzana Amaral e a figura da Marcélia Cartacho vem forte na memória, e uma questão me atormenta: Como vou passar para o leitor do blog tamanho sentimento?

A Hora da Estrela foi o último livro publicado pela jornalista e escritora Clarice Lispector (1920-1977). E todos dos livros que li da autora me deixaram assim, transbordando em sentimentos. É uma incógnita como ainda hoje consegue mexer tanto comigo, desde a primeira vez que li A Paixão Segundo G.H. que fui arrebatado por Clarice e tornei-me leitor assíduo da sua obra.

Nos idos anos 80 confesso que fiz cara feia quando ouvi dizer que um dos meus livros preferidos seria transformado em filme. Não acreditei em tamanho atrevimento e pensei; vão transformar os textos de Clarice em lixo. Até começar a ouvir as críticas positivas, os prêmios arrebatados, e deixar-me seduzir pela interpretação magistral de Marcélia Cartaxo que passou a ser minha referência de personificação todas as vezes que senti saudades da ingênua Macabea.

A Hora da Estrela é um romance sobre o desamparo. A história é narrada pelo então fictício escritor Rodrigo S. M. e começa quando uma moça do interior vai para o Rio de Janeiro em busca de seus sonhos. Quando somos apresentados a Macabea vimos o quanto miserável é a sua vida e o quanto ela não tem consciência sobre isso.

Lembro muito bem de uma entrevista que Clarice concedeu à TV Cultura e que tive a oportunidade de assistir anos depois da veiculação. Na entrevista Clarice dizia que estava escrevendo um livro que já tinha pensado para ele mais de quinze títulos diferentes e contava a história de uma moça tão pobre que só comia cachorro quente. Mas a história não é bem essa, ela nos transporta para uma inocência há muito perdida, uma miséria não contabilizada, mas que tem um final feliz para a anônima protagonista.

Um livro que deve ser lido, um filme que deve ser visto, uma saudade incrível da Marcélia Cartaxo, Tamara Taxman e do José Dumont. Saudade maior de uma Clarice Lispector em nossas vidas.

Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Casa do Pão de Queijo - Conjunto Nacional
Data: 26/03/2013

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