domingo, 24 de fevereiro de 2013

NEVE


Neve é um típico livro espanta leitores, um livro político que traz a tona assuntos sobre conflitos raciais e religiosos do universo muçulmano. O confronto intransigente e muitas vezes sangrento dos islamistas radicais com um estado que quer ser secular, a violência do aparelho repressivo, o medo de que os radicais cheguem ao poder pela democracia e os crimes cometidos pelos dois lados. Mas perde o leitor que, por preconceito ou preguiça, não se aventurar e mergulhar na história do poeta turco Ka.

Ka vive exilado na Alemanha e volta para Istambul após cinco anos para o enterro da mãe. De lá ele resolve ir para a remota cidade de Kars com o pretexto de fazer uma reportagem sobre uma onda de suicídio entre jovens islâmicas. Uma nevasca bloqueia todas as estradas deixando a cidade isolada do mundo e é nesse clima de isolamento que um veterano ator e sua mulher aproveitam para liderar um golpe militar. Embora distante da política há muitos anos Ka se vê protagonista involuntário dessa revolução, ao mesmo tempo que reencontra Ipek, antiga colega de escola e pela qual é apaixonado, e se isso não bastasse as poesias que lhe escaparam por anos agora fluem com extrema naturalidade.

E nesse turbilhão Ka vaga por dias, tentando salvar a si mesmo e ao seu recém redescoberto amor por Ipek, equilibrando-se entre as diversas facções em choque , vendo a cidade transformar-se num microcosmo dos conflitos raciais, políticos e étnicos da Turquia. Mas a história subverte-se e toda a ação de Neve se passa alguns anos depois do golpe e a fatídica nevasca. Um amigo de Ka, obcecado para encontrar seu caderno de poesias, refaz os passos do poeta tentando entender as mudanças tão radicais que aqueles dias provocaram na vida do amigo.

É um livro primoroso, não é à toa que Orthan Pamuk (1952) é considerado um dos melhores escritores da nossa geração, seus trabalhos já foram traduzidos em mais de cinquenta línguas, ganhou vários prêmios internacionais e em 2006 ganhou o prêmio Nobel de Literatura.

Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Center Três - Av. Paulista - Starbucks
Data: 15/03/2013

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O DEMÔNIO E A SRTA. PRYM


Confesso nobre leitor desse blog que faz tanto tempo que li o livro que pretendo abandonar que tive que fazer uma releitura rápida do exemplar para escrever sobre ele com certa propriedade, esboçar aqui minha mais humilde opinião e talvez fazer com que o sortudo que o encontre tenha interesse pela história que Paulo Coelho (1947) escreveu. Aqui também confesso que não sou lá muito fã do autor, mas já escrevi por aqui que consigo separar bem a persona do autor e gostar da obra sem necessariamente gostar de quem a escreveu. E que fique claro que não conheço o Paulo pessoalmente e que ele nunca me causou mal algum, muito pelo contrário, apenas não me deixei dominar pela “onda Paulo Coelho” e tenho opinião própria sobre os livros de sua autoria que já li. Gosto muitíssimo de alguns e outros sinceramente não me acrescentaram absolutamente nada, logo eu que sou um fanático por histórias.

Reza a lenda, e a obra do Paulo é cheia delas, que o livro título desse post é o último da trilogia que começou com ‘Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei’, que não me emocionou nem um pouco, e o ótimo ‘Veronika Decide Morrer’, na minha humilde opinião um livro muito bem escrito num momento de boa inspiração do autor. Em ‘O Demônio e a Srta. Prym’, que também é um bom livro, leremos sobre a história da pequena Vila de Viscos onde a vida parece estacionada no tempo. Um estrangeiro chega com um aviso que vai mudar a rotina de Chantal Prym, uma jovem muito dividida entre o anjo e o demônio que traz dentro de si, e outros personagens da aparentemente tão pacata Vila. Cada um terá de escolher seu caminho.

Em comum nessa trilogia de livros está o fato de que as histórias acontecerem durante uma semana na vida dos personagens ditos normais, e que subitamente se veem confrontados por três signos importantes: o amor, a morte e o poder.

Eu gosto de encarar certas situações da vida como destino, algo que já estava escrito. É quando a vida coloca diante de nós um acontecimento como se fosse um teste, como uma prova da nossa coragem de enfrentar desafios ou a nossa reação diante de uma brusca mudança. Você pode encarar, pode fingir que nada está acontecendo ou ficar dizendo para si mesmo que ainda não está pronto.

Segundo a escrita do Paulo Coelho os desafios não esperam, o tempo de vida não se repete, e uma semana é tempo suficiente para decidirmos se vamos aceitar ou não o nosso destino.

Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Conjunto Nacional - Av. Paulista
Data: 15/03/2013

domingo, 10 de fevereiro de 2013

PAÍS DO CARNAVAL - CACAU - SUOR


O livro que pretendo abandonar não poderia estar em data mais propícia, afinal estamos em pleno carnaval. Baiano que sou, além de apaixonado pelo carnaval, vasculhei minha estante e escolhi outro baiano, Jorge Amado (1912-2001), e sua obra de número um O País do Carnaval. Mas o sortudo que encontrar o livro vai levar também Cacau e Suor, isso porque a edição que possuo contém os três primeiros livros desse grande autor, serão três livros num só.

País do Carnaval foi publicado em 1931, é um relato sobre uma pseudo intelectualidade baiana nos anos 20 do século passado. Para leitores assíduos de Jorge Amado os vários temas que ele abordaria no futuro já se encontram de forma bem embrionária aqui. Paulo Rigger é o personagem que move o livro, após formação na Europa ele volta ao Brasil e quer participar da vida pública mas culpa o Carnaval e a mestiçagem pelo atraso do seu país e tenta mudar o imutável.

Cacau foi publicado dois anos depois e é um livro muito politizado para a época, conta a história dos trabalhadores nas fazendas de cacau no sul da Bahia quando há a expansão das ideias socialistas e o começo da luta de classes.

Suor é o livro mais socialista dos três, publicado em 1934 a obra relata o cotidiano dos moradores de um prédio numa das ladeiras do Pelourinho subjugados pelo sistema capitalista segundo o autor, as condições de trabalho e a falta de direitos humanos são mostradas de forma bem explícita quando se revela os parcos salários, a falta de alimento e as habitações em péssimas condições de higiene. Reza a lenda que na juventude Jorge morou num pequeno cômodo num dos sobrados coloniais do Pelourinho e os relatos presentes no livro são de experiências pessoais vividas nessa época.

Segundo consta, em 1937, vários exemplares de Suor foram queimados em praça pública de Salvador, junto com outras obras de Jorge Amado, por determinação da polícia do Estado Novo. Mas isso já é outra história...

Cidade do abandono: São Paulo/SP
Local: Taxi Vermelho e Branco
Data: 14/03/2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

AMOR É PROSA SEXO É POESIA


Nem todo mundo gosta do Arnaldo Jabor (1940), talvez porque ele se aventure em tantas searas que fica difícil gostar cem por cento de toda a sua, digamos, produção. Pesquisando a biografia percebi que o homem é cineasta, roteirista, diretor de cinema, produtor cinematográfico, dramaturgo, jornalista, crítico e escritor. Ufa! Eu gosto muito desse livro, o mais famoso dos que escreveu, Amor é Prosa Sexo é Poesia, embora discorde de algumas de suas posições políticas ou ideológicas, consigo separar bem a ‘persona’ da ‘obra’. Faço-o sem o menor preconceito.

Jabor tem uma ligação íntima com o cinema e suas vertentes, mas viu-se obrigado durante o governo Collor a buscar outras mídias devido à decadência do cinema nacional quase imposta pelo então presidente. Foi quando caiu na televisão e nos jornais, suas aparições com textos ótimos, elaborados, cítricos e quase perniciosos sobre a sociedade brasileira que lembravam muito Nelson Rodrigues.

Ao lançar esse livro Arnaldo Jabor o descreveu como “um livro de crônicas afetivas” e anunciou sem pudores que toda mulher é um pouco Madame Bovary e todo homem não tem coração. Confessa sua busca pela beleza na vida, na política, no amor e no sexo. Ele se coloca e se transporta para o tempo em que as namoradas não davam e conta triunfante seu amor nos anos 60 ao lembrar-se da namorada que deu pra ele, com amor e coragem.

A grande maioria, ao ler o título do post vai lembrar a música da Rita Lee baseada justamente na crônica de dá título ao livro, na minha mais humilde opinião não é a melhor da série de crônicas, mas a grande Rita teve a capacidade de pescar o melhor das sentenças e criar um dueto, Amor É... Sexo É... E para quem já amou e já fez sexo nessa vida verá que o livro é entretenimento e a música é deleite.

Se quiser, pode reler o post, agora embalado com a trilha sonora da Rita Lee. É só clicar no play.



Cidade do abandono: Brasília/DF
Local: Aeroporto Internacional de Brasília
Data: 14/03/2013