Sidney Sheldon (1917-2007) foi ousado quando escreveu
Lembranças da Meia Noite – 1990, a continuação de seu maior sucesso O Outro
Lado da Meia Noite – 1973, com o inegável estilo que o consagrou. Outra ousadia
desse mestre foi desenvolver uma história para um personagem coadjuvante de
outra obra. Foi o caso de Dana Evans, ela aparecia numa trama paralela em O
Plano Perfeito – 1997 e ganhou o protagonismo no livro O Céu Está Caindo –
2000. Tilly Bagshawe continua escrevendo na sombra do mestre já falecido com
autorização da família que detém os direitos da obra. Já publicou livros cujo
enredo foi desenvolvido por Sheldon e que não houve tempo para terminar, assim informa
a assessoria de imprensa. Prova disso é o ótimo A Senhora do Jogo – 2009, que é
a continuação de O Reverso da Medalha – 1982, outro livro memorável.
Em 1985 Sheldon publicou Se Houver Amanhã, um livro que
alcançaria enorme sucesso de crítica e público e sua heroína Tracy Whitney é,
na minha mais modesta opinião, a mais carismática das personagens do autor.
Sofremos com seus percalços e vibramos com suas vitórias, uma protagonista fora
do padrão para a época. Todos ficam apaixonados por Tracy e torcem para que
seus roubos fiquem impunes e ela tenha um final feliz ao lado de Jeff Stevens,
seu grande amor.
Eu sou um dos milhões de fãs de Tracy e quase enfartei
quando vi na livraria o título “Em Busca de Um Novo Amanhã”, em cuja capa a
esperta editora ainda achou espaço para colocar a seguinte frase: “A heroína de
Se Houver Amanhã, Tracy Whitney, está de volta em uma sequência de tirar o
fôlego.” É óbvio que apanhei um exemplar e corri para o caixa. Tracy e Jeff se casam no Brasil e, aposentados dos crimes, vão morar em Londres. Ele vai
trabalhar no museu e ela aguarda ansiosamente um filho para completar sua nova
vida. O filho não vem e uma estagiária do museu estraga seu casamento. Tracy
some no mundo disposta a esquecer Jeff. Dez anos se passam. Roubos de joias e
obras de arte estão acontecendo no ‘estilo’ Tracy e uma coincidência levanta a suspeita
de que ela esteja envolvida com os assassinatos de mulheres cujos cadáveres são
encontrados ao lado de textos bíblicos. Jean Rizzo, detetive da Interpol,
começa sua investigação que vai colocar Tracy e Jeff frente a frente novamente.
Mesmo com todos os elementos de um livro que faz jus a
grife Sidney Sheldon: fortuna, poder, intriga, assassinatos, hotéis de luxo,
desaparecimentos, obras de arte, vinganças, Tilly Bagshawe não consegue ser tão
genial como seu mestre. Há fragilidades desnecessárias na trama. Talvez lhe
falte a possibilidade de seguir o próprio rumo e não ficar à mercê de pensar
como Sheldon escreveria. Deve ser muito difícil ver a capa do livro que você
escreveu sozinho e constatar que seu nome aparece abaixo de outro autor mais
famoso e ainda escrito numa fonte menor. Basta ver a fotografia do livro que
está no post.
PS: Este é o livro de número 300 que vou abandonar. Para
mim uma marca significativa. São 300 livros retirados da minha biblioteca e
estou muito feliz em dividi-la com vocês.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco calçadão quase em frente ao Farol da Barra
Data: 13/07/2016