domingo, 3 de julho de 2016

O MENINO DO DEDO VERDE


Tinha 14 anos e me considerei velho demais para aquele livro de capa verde, estava lendo por causa de um trabalho escolar e não percebi de imediato a grandeza da obra que tinha em mãos. Lembro que houve um sorteio entre as equipes de trabalho para os livros que a professora selecionou e na minha hora recebi diretamente O Menino do Dedo Verde porque ela sabia que eu já havia lido Meu Pé de Laranja Lima, Caçadas de Pedrinho, O Pequeno Príncipe, dentre outros. Não lembro como ficou o trabalho da escola, mas a história de Tistu voltaria a aparecer na minha vida.

Anos depois estava na casa de meus pais arrumando os livros que levaria para meu primeiro apartamento quando achei o exemplar do mais famoso livro de Maurice Druon (1918-2009). Lembro que pensei em reler, mas não o fiz. Quando mudei para São Paulo muitos livros ficaram em caixas durante meses até que as estantes do apartamento ficassem prontas e é claro que reencontrei o livro nas arrumações. Nem precisei reler todo, bastou folhear algumas páginas e me ater aos grifos feitos para o trabalho da escola para que a história voltasse à memória, exatamente como aconteceu agora antes de escrever esse post.

“- Descobri uma coisa extraordinária – disse Tistu em voz baixa. – As flores não deixam o mal ir adiante.”

Para quem ainda não conhece, Tistu é um garoto que não conseguia frequentar a escola formal e os pais resolveram que ele teria professores particulares para a escola da vida. Quando Tistu conhece Bigode, o jardineiro, descobre que possui um dedo verde que tem o dom de fazer crescer plantas e flores quando toca em algum lugar. Esse talento secreto de Tistu tocaria diretamente a alma do jardineiro. O menino começa então a desbravar o mundo questionando padrões estabelecidos da forma como só uma criança é capaz, com o coração aberto e o pensamento simplista frente ao que vê e o que sente.

“A prisão é dessas coisas que a gente encara tranquilamente para as pessoas que não conhecemos. Mas logo que se trate de um menino de quem a gente gosta, é tudo diferente.”

Não estou triste por abandonar minha edição de 1976 cheia de trechos grifados, acredito sinceramente que o livro será achado por alguém que aproveitará o que já está marcado e fará novas inserções. É um livro de criança que todo adulto deveria ler para não esquecer que já foi pequeno um dia.

“Pois fiquem sabendo que nunca conhecemos ninguém completamente. Nossos melhores amigos reservam sempre surpresas.”

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Lounge Sala DeLux - Shopping Barra
Data: 12/07/2016

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