domingo, 12 de junho de 2016

TRÓPICO DE CÂNCER


Quando li Trópico de Câncer eu já era um velho, o livro havia sido publicado há mais de cinquenta anos e o autor, Henry Miller (1891-1990), já estava morto. Por isso eu não sofri quando a obra foi proibida nos EUA, sob a acusação de ser pornográfica, voltando a circular só em meados dos anos 1960. Aqui no Brasil também houve veto dos militares para tradução e venda, embora existam boatos de que livros em inglês circulavam contrabandeados entre os intelectuais da época. A chancela dos censores para a proibição estava no pressuposto de que a obra era autobiográfica, mesmo que o autor nunca tenha assumido isso por completo. Para eles a literatura erótica podia existir desde que tudo fosse ficção.

Autobiográfico ou não o certo é que Herry Miller sempre misturou sua vida pessoal com os livros que escreveu e quem o conheceu em Paris nos anos 30 sabia que as noites eram animadas. Lendo a obra temos uma narrativa ansiosa por revelar por quais recônditos andava o nosso autor. Sem necessidade de cronologia essa pressa narrativa é explorada em textos na primeira pessoa extraídos das experiências vividas nas camas onde dormiu com prostitutas ou senhoras solitárias, das bebedeiras em lugares não recomendados pela sociedade, mas seu viés filosófico vem principalmente da convivência com os intelectuais e artistas que, como ele, viviam sem dinheiro e a mercê de favores.

Logo no início o próprio autor nos alerta sobre o que vamos ler: “Isto não é um livro. Isto é injúria, calúnia, difamação de caráter. Isto não é um livro, no sentido comum da palavra. Não, isto é um prolongado insulto. Uma cusparada na cara da Arte, um pontapé no traseiro de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza... e do que mais quiserem.”

Na minha mais modesta opinião Trópico de Câncer é um livro erótico. E vai além do erotismo quando prepara o leitor para o próximo, Trópico de Capricórnio, que também li depois de velho e é o meu preferido.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco da pracinha em frente ao Teatro ISBA
Data: 10/07/2016

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