Autobiográfico ou não o certo é que Herry Miller sempre
misturou sua vida pessoal com os livros que escreveu e quem o conheceu em Paris
nos anos 30 sabia que as noites eram animadas. Lendo a obra temos uma narrativa
ansiosa por revelar por quais recônditos andava o nosso autor. Sem necessidade
de cronologia essa pressa narrativa é explorada em textos na primeira pessoa extraídos
das experiências vividas nas camas onde dormiu com prostitutas ou senhoras
solitárias, das bebedeiras em lugares não recomendados pela sociedade, mas seu
viés filosófico vem principalmente da convivência com os intelectuais e
artistas que, como ele, viviam sem dinheiro e a mercê de favores.
Logo no início o próprio autor nos alerta sobre o que
vamos ler: “Isto não é um livro. Isto é injúria, calúnia, difamação de caráter.
Isto não é um livro, no sentido comum da palavra. Não, isto é um prolongado
insulto. Uma cusparada na cara da Arte, um pontapé no traseiro de Deus, do
Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza... e do que mais quiserem.”
Na minha mais modesta opinião Trópico de Câncer é um
livro erótico. E vai além do erotismo quando prepara o leitor para o próximo,
Trópico de Capricórnio, que também li depois de velho e é o meu preferido.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Banco da pracinha em frente ao Teatro ISBA
Data: 10/07/2016
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