No primeiro livro, Um Dia, já comentado aqui no blog em
setembro de 2015, os personagens Em e Dex descrevem seus sentimentos e
pensamentos para com o outro e ainda temos um narrador para as notas de
bastidores. Em Nós, a versão da história é narrada sob o ponto de vista do
personagem Douglas Petersen, um bioquímico de cinquenta e quatro anos,
metódico, tímido, fatalista, extremamente organizado e casado com Connie há
vinte e cinco anos. Ela é uma mulher vivida, gosta de arte, festas, muitos
amigos, e vê em Douglas um porto seguro após relacionamentos anteriores muito
conturbados. Ele é o feijão e ela é o sonho, uma inversão de papéis se
compararmos ao livro de Origenes Lessa. Entre o casal está Albie, o filho de
dezessete anos que cresceu entre a mãe artista que tudo permitia em nome da
liberdade de expressão infanto-juvenil e o pai rigoroso que não encontrava no
filho o seu espelho, seja nos gostos pelos mesmos brinquedos, profissão ou
perspectiva de vida.
Antes de Albie ir para a faculdade a família programa as
férias de suas vidas, um tour pela Europa que inclui cidades como Paris,
Amsterdã, Veneza, dentre outras, para visitar os principais museus e obras de
arte. Um roteiro traçado pela artista Connie e minuciosamente programado pelo
metódico Douglas sem consultar os gostos estéticos da nova geração, Albie. Às
vésperas da viagem Connie acorda Douglas no meio da noite para informa-lo que
está pensando em divorciar-se dele. A partir desse momento seremos levados pela
narrativa de Douglas para diversos tempos de suas vidas: quando conheceu
Connie, quando casaram, o nascimento de Albie, suas vidas se transformando,
tudo isso contado durante a epopeia de pequenos desastres, brigas, frustrações,
pedidos de desculpas, momentos de comédia pastelão e reencontros que se transformará
a viagem, ou grand tour como se
refere Douglas.
David Nicholls constrói seu herói, ou anti-herói, com
mãos de ferro. Quando o personagem tenta manipular a história para puxar o
leitor para seu lado, o autor o faz contar coisas não muito boas do seu passado
familiar, fazendo a balança pender para um lado e para o outro. Alguns leitores
acham suas histórias arrastadas e com pouca ação, eu particularmente gosto do
estilo que humaniza os personagens até que você comece a identificar-se com
eles, no bom e no mau sentido.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Mesa da varanda - Restaurante Rama
Data: 11/07/2016
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