domingo, 19 de junho de 2016

NÓS


No mesmo dia que comprei o já best seller Um Dia, escrito em 2009 pelo David Nicholls (1966), também comprei sua mais recente obra ‘Nós’, publicada no Brasil em 2015. Nos dois livros existe a perfeita construção de personagens que se caracterizam pelo realismo, bom humor, uma dose de criticidade de suas próprias atitudes e a humanidade. Você é capaz de amar e odiar os personagens com a mesma intensidade durante a leitura sem, contudo, enfastiar-se. E foi por aí que novamente fui conquistado.

No primeiro livro, Um Dia, já comentado aqui no blog em setembro de 2015, os personagens Em e Dex descrevem seus sentimentos e pensamentos para com o outro e ainda temos um narrador para as notas de bastidores. Em Nós, a versão da história é narrada sob o ponto de vista do personagem Douglas Petersen, um bioquímico de cinquenta e quatro anos, metódico, tímido, fatalista, extremamente organizado e casado com Connie há vinte e cinco anos. Ela é uma mulher vivida, gosta de arte, festas, muitos amigos, e vê em Douglas um porto seguro após relacionamentos anteriores muito conturbados. Ele é o feijão e ela é o sonho, uma inversão de papéis se compararmos ao livro de Origenes Lessa. Entre o casal está Albie, o filho de dezessete anos que cresceu entre a mãe artista que tudo permitia em nome da liberdade de expressão infanto-juvenil e o pai rigoroso que não encontrava no filho o seu espelho, seja nos gostos pelos mesmos brinquedos, profissão ou perspectiva de vida.

Antes de Albie ir para a faculdade a família programa as férias de suas vidas, um tour pela Europa que inclui cidades como Paris, Amsterdã, Veneza, dentre outras, para visitar os principais museus e obras de arte. Um roteiro traçado pela artista Connie e minuciosamente programado pelo metódico Douglas sem consultar os gostos estéticos da nova geração, Albie. Às vésperas da viagem Connie acorda Douglas no meio da noite para informa-lo que está pensando em divorciar-se dele. A partir desse momento seremos levados pela narrativa de Douglas para diversos tempos de suas vidas: quando conheceu Connie, quando casaram, o nascimento de Albie, suas vidas se transformando, tudo isso contado durante a epopeia de pequenos desastres, brigas, frustrações, pedidos de desculpas, momentos de comédia pastelão e reencontros que se transformará a viagem, ou grand tour como se refere Douglas.

David Nicholls constrói seu herói, ou anti-herói, com mãos de ferro. Quando o personagem tenta manipular a história para puxar o leitor para seu lado, o autor o faz contar coisas não muito boas do seu passado familiar, fazendo a balança pender para um lado e para o outro. Alguns leitores acham suas histórias arrastadas e com pouca ação, eu particularmente gosto do estilo que humaniza os personagens até que você comece a identificar-se com eles, no bom e no mau sentido.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Mesa da varanda - Restaurante Rama
Data: 11/07/2016

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