Foi exatamente por causa dessa lista que li Triste Fim de
Policarpo Quaresma. A obra do mestre Lima Barreto (1881 – 1922) foi publicada
em capítulos durante os meses de agosto a outubro de 1911 dentro do Jornal do
Commercio, que na época era escrito com dois emes, e só lançada como livro em
1915 com o dinheiro do próprio autor. Lima era um apaixonado pelo Brasil e foi
muito criticado pelos escritores da época pelo despojamento de seus diálogos,
sempre fiéis ao modelo de romance realista, que resgatava as tradições da
cultura popular.
Policarpo era o nosso Dom Quixote, impossível não
comparar com o personagem criado por Miguel de Cervantes cuja trajetória de
vida se confunde. Policarpo era um homem simples, por ser um leitor voraz era
criticado pela vizinhança que não entendia porque um homem que não era
professor ou acadêmico tinha tantos livros em casa. Ele se entrega ao
conhecimento das culturas populares e decide aprender a tocar violão, um instrumento
que via como representante do mais popular no país. É então que conhece Ricardo
Coração dos Outros, um seresteiro que irá acompanha-lo por suas desventuras. Na
repartição que trabalhava comete o desatino de escrever um memorando em língua
Tupi, é taxado como louco e acaba internado num hospício. Passados alguns anos o
já livre Policarpo é aconselhado por Olga, sua sobrinha, a comprar um sítio na
fictícia cidade de Curuzu. Começa então a saga de Policarpo pela agricultura
com o objetivo de ajudar no crescimento do Brasil. É quando estoura a Revolta
da Armada e ele é convocado a liderar um grupo de voluntários sem nenhum
treinamento. Seu destino é selado quando escreve uma carta ao Marechal Floriano
Peixoto criticando e denunciando arbitrariedades cometidas contra os
prisioneiros.
É incrível a atualidade desse livro escrito há mais de
100 anos. Não é uma leitura fácil para o vocabulário dos dias de hoje e exigirá
uma imersão no universo de Lima Barreto e sua época. Seu personagem é o próprio
slogan do “sou brasileiro e não desisto nunca”, um indivíduo cuja essência
deveria ser injetada nas veias da maioria dos nossos representantes que estão
em Brasília.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Pátio externo da Escola de Teatro da UFBa.
Data: 07/07/2016
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