domingo, 22 de maio de 2016

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA


Na época que prestei o vestibular pela primeira vez recebi um manual que informava a relação dos assuntos para estudar e também a lista dos livros que deveriam ser lidos. Era uma espécie de direcionamento ao aluno para obter um bom aproveitamento nas provas. A leitura das obras indicadas foi feita com tanto prazer que se tornou um hábito e por vários anos consultei a lista do vestibular como referência para minhas leituras, mesmo sem a necessidade de fazer as provas.

Foi exatamente por causa dessa lista que li Triste Fim de Policarpo Quaresma. A obra do mestre Lima Barreto (1881 – 1922) foi publicada em capítulos durante os meses de agosto a outubro de 1911 dentro do Jornal do Commercio, que na época era escrito com dois emes, e só lançada como livro em 1915 com o dinheiro do próprio autor. Lima era um apaixonado pelo Brasil e foi muito criticado pelos escritores da época pelo despojamento de seus diálogos, sempre fiéis ao modelo de romance realista, que resgatava as tradições da cultura popular.

Policarpo era o nosso Dom Quixote, impossível não comparar com o personagem criado por Miguel de Cervantes cuja trajetória de vida se confunde. Policarpo era um homem simples, por ser um leitor voraz era criticado pela vizinhança que não entendia porque um homem que não era professor ou acadêmico tinha tantos livros em casa. Ele se entrega ao conhecimento das culturas populares e decide aprender a tocar violão, um instrumento que via como representante do mais popular no país. É então que conhece Ricardo Coração dos Outros, um seresteiro que irá acompanha-lo por suas desventuras. Na repartição que trabalhava comete o desatino de escrever um memorando em língua Tupi, é taxado como louco e acaba internado num hospício. Passados alguns anos o já livre Policarpo é aconselhado por Olga, sua sobrinha, a comprar um sítio na fictícia cidade de Curuzu. Começa então a saga de Policarpo pela agricultura com o objetivo de ajudar no crescimento do Brasil. É quando estoura a Revolta da Armada e ele é convocado a liderar um grupo de voluntários sem nenhum treinamento. Seu destino é selado quando escreve uma carta ao Marechal Floriano Peixoto criticando e denunciando arbitrariedades cometidas contra os prisioneiros.

É incrível a atualidade desse livro escrito há mais de 100 anos. Não é uma leitura fácil para o vocabulário dos dias de hoje e exigirá uma imersão no universo de Lima Barreto e sua época. Seu personagem é o próprio slogan do “sou brasileiro e não desisto nunca”, um indivíduo cuja essência deveria ser injetada nas veias da maioria dos nossos representantes que estão em Brasília.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Pátio externo da Escola de Teatro da UFBa.
Data: 07/07/2016

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