domingo, 6 de março de 2016

DIÁRIO DA CORTE


Já escrevi sobre o Paulo Francis (1930-1997) no post “As Filhas do Segundo Sexo”, livro que gostei muito embora tenha sido esquecido pela crítica e público. Acredito que a personalidade difícil do autor tenha gerado uma certa má vontade na leitura da obra. Eu o conheci através dos artigos escritos para a revista Status, que adquiria em conluio com o conivente dono da banca de revistas uma vez que não tinha idade para comprar essa publicação. Não entendia tudo que lia mas lembro perfeitamente que achava interessante seu modo de escrever e pensava, esse cara deve ser muito culto.

Como a ditadura agora é outra e vivemos numa época do chatíssimo ‘politicamente correto’, o antigo DPOS (Departamento de Ordem Política e Social) foi transferido para as redes sociais, onde tudo se julga e todos são julgados, ao reler Diário da Corte tenho quase certeza de que mais da metade dos textos não seriam publicados nos dias de hoje. Quer um exemplo? Ao criticar o Sr. Caio Túlio Costa, que na época era o ombudsman da Folha de São Paulo, jornal para o qual trabalhava, Francis escreveu: “Certamente a redação da Folha está infestada de pentelhos.” Mesmo tratando-se de uma disputa interna o texto foi publicado pela Folha em 30 de novembro de 1989.

Organizado pelo jornalista Nelson de Sá e publicado como livro em 2012, o livro contém 76 artigos escritos entre 1976 e 1990. Os assuntos vão da política norte americana à redemocratização brasileira, de Nelson Rodrigues a Woody Allen, ataques ferozes contra José Guilherme Melquior e Caetano Veloso. Ao terminar a leitura você pode ter a impressão de que o Paulo Francis “se acha” e, em parte, é verdade. Há sempre a impressão, principalmente para quem o conheceu pela TV, que ele falava de cima para baixo, com sua voz inconfundível e cheia de inflexões como se dialogasse com ignorantes e ele o arauto da elegância e do bem viver, e isso, em parte, também é verdade.

Li certa vez uma matéria na revista Cult que dizia: “... o texto de Paulo Francis é sempre uma delícia de ler e tem uma qualidade rara: é uma escrita tão sedutora que, de repente, faz com que se esteja concordando com ele, mesmo a contragosto. Ele faz uma mistura do culto com o popular, vai do erudito ao palavrão...”, e arrematava: “Manejava bem o humor, sobretudo quando se tratava de espinafrar alguém.” Eu, na minha mais humilde opinião, concordo plenamente.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Doces Sonhos - Pituba
Data: 09/04/2016

Um comentário:

  1. Nunca esqueço do Caetano Veloso, puto com Francis, chingando-o em um programa de TV: "Bicha japonesa!"
    Imagine hoje o bafafá...rsrs

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